Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

TRANSIÇÕES SUPORTADAS PELO EQUILÍBRIO


No jogo atual, falar apenas de ataque e defesa, é falar de algo que não é futebol. Sou defensor da não fragmentação do treino/jogo, mas para melhor entendimento, esses momentos devem ser tratados em separado. 

A velocidade que se joga atualmente não permite mais que, como acontecia há alguns anos atrás, os jogadores tenham tempo para pensar e realizar calmamente as suas ações quando ganhavam ou perdiam a bola. Seja porque se defende mais à frente, seja pela origem do pressing, seja pela evolução técnica dos jogadores e dos materiais (bolas, chuteiras, gramados [embora no Brasil esse assunto seja muito discutível]), o jogador atual, quando perde a bola não pode deslocar-se lentamente para ocupar a sua posição e, quando a recupera, não pode demorar para retirá-la do setor onde a recuperou. 

Os dois momentos mais importantes do jogo atual são o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha a bola (MOURINHO, apud AMIERIO, 2004). 

A eficácia dos momentos de transição está intimamente relacionada com o modo como a equipe está organizada antes dos mesmos. Ou seja, equilíbrio defensivo no ataque e equilíbrio ofensivo na defesa (AMIERIO, 2004). 

Apoiado pelo mesmo conceito Carvalhal (2006) defende que ninguém consegue atacar bem se não tiver a equipe equilibrada para defender e ninguém consegue defender bem se não tiver a equipe equilibrada para atacar. 

Figura 1: A balança representa o equilíbrio entre os momentos

Sustentados nos depoimentos acima citados e pela figura 1, atrevemo-nos, então, a salientar que, quando em posse de bola, a equipe deve estar dotada de determinados comportamentos, que permitam atacar mas ao mesmo tempo estar posicionada para responder convenientemente a uma situação de perda da posse de bola. Acreditamos que estes comportamentos da equipe devem ser assegurados pelos jogadores sem bola, adotando um posicionamento que lhes permita participar no momento ofensivo mas, ao mesmo tempo, garantir segurança defensiva perante uma possível perda da posse da bola. Porque o ataca e a defesa são unidos, que não pode-se separar.  

Outra situação que não podemos deixar de mencionar sobre as transições é que eles se norteiam nos Princípios Fundamentais do Futebol:
  • Refutar a inferioridade numérica;
  • Evitar a igualdade numérica; 
  • Criar a superioridade numérica. 
E quando a equipe se encontrar no momento sem a bola (defesa) os jogadores devem situar-se entre os oponentes (sem a bola), para realizar a pressão. Na minha visão, o modo de defender é estar entre oponentes. Nunca declarar ao adversário que estou marcando ele. Amierio (2004) identifica duas principais formas de organização defensiva: defesa homem-a-homem e defesa à zona, sendo que não existe apenas uma forma de defesa homem-a-homem, como também não existe uma única forma de defender à zona. As referidas formas de organização defensiva se distinguem muito significativamente. Na primeira a grande referência de marcação são os espaços considerados valiosos, já na segunda são os oponentes diretos, ou seja, quando defendemos à zona procuramos defender os espaços considerados mais valiosos, e quando defendemos homem-a-homem devemos defender exclusivamente um adversário direto. 

Na mesma linha de raciocínio temos Frade (2005), afirmando que, uma equipe quando defende, deve fazer campo pequeno, reduzir o espaço de jogo à equipe oponente, ter os setores mais próximos entre si e conseguir superioridade numérica no setor da bola. E quando ataca, deve fazer campo grande, ocupando corredores e dando profundidade e largura ao jogo. Se a equipe defende no homem-a-homem isto se torna muito difícil (para não dizer impossível) pois, com as movimentações dos oponentes os jogadores da nossa equipe serão levados para determinados espações que não são os mais específicos para retirar a bola do setor de pressão e mantê-la para iniciar o ataque rápido (muito chamam de contra-ataque e o confundem com as transições).

A transição é o momento em que se passa do processo defensivo para o processo ofensivo (transição ofensiva) e do processo ofensivo para o processo defensivo (transição defensiva). Portanto, um caminho de mão dupla. 

Então, como pudemos observar até aqui o modelo de jogo influencia a forma de desgaste físico/mental do jogador e pode ser benéfico e/ou prejudicial para a equipe. Por exemplo, só correr na fase ofensiva e não na fase defensiva causa desequilíbrio tático na equipe. Outro fator que deve ser levado em consideração nas transições é a VEL (Velocidade de Passes entre os jogadores) se é alta e/ou baixa. Isso para retirar a bola do setor de pressão, mudar a bola de corredor e dificultar a montagem do bloco defensivo por parte da equipe oponente. A REC 5 (Recuperar a Posse de Bola em até 5 segundos) se não for possível organizar o bloco defensivo (essa última tem relação significativa com a base física dos jogadores). 

As transições devem ser equilibradas durante as partidas e nas transições a mente atua antes do corpo, a equipe que não conseguir equacionar isso está fadada ao desequilíbrio tático.

Boa semana a todos!

Referências

AMIERIO, Nuno. Defesa à Zona no Futebol. Um pretexto para reflectir sobre o <<jogar>>...bem, ganhando! Edição do autor. Porto, 2004.

FRADE, Vítor. Apontamentos da disciplina Metodologia Aplicada I - Opção de Futebol. Não publicada. FCDEF-UP. Porto, 2005.

CARVALHAL, Carlos. Entrevista. In A importância dos momentos de transição (ataque-defesa e defesa-ataque) num determinado entendimento do jogo. Dissertação de Licenciatura. Não publicado. FADE-UP. Porto, 2006. 




 



 






 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

EPICENTRO DO JOGO, ESPAÇOS DE FASE E JOGO DE POSIÇÃO

                                    Figura 1: Fotograma
Legenda: ACB= Atacante com a Bola; ASB= Atacante sem a Bola; DSB= Defensor sem a Bola

Muitas pessoas não gostam de futebol. Sim, eu já ouvi muito isso na minha vida. Por outro lado, existem muitas pessoas espalhadas pelo mundo que dedicam grande parte das suas vidas a esse esporte. O Brasil é considerado o "País do Futebol" (no site de busca mais famoso encontramos aproximadamente 33.100.000 resultados sobre esse tema). Alguns tratam o esporte futebol como sendo algo simples, uma equipe que ataca e a outra que se defende. E seguem dizendo que, "se nenhuma das duas equipes errar, o resultado será 0 X 0". 

Confesso, eu já fui um desses. Míope pela paixão, assistindo jogos e não compreendendo a complexidade que eles nos mostram.

Para que possamos começar a compreender a complexidade do jogo de futebol, devemos entender sobre às referências espaciais. Olhando o fotograma acima, temos dentro do círculo vermelho seis (6) jogadores, sendo um deles portador da bola. Destarte, o epicentro do jogo é o local onde se encontra a bola em determinado momento (tempo) do jogo (TEOLDO, et. al. 2015). Apoiados na Geofísica, o epicentro é o ponto da superfície da Terra onde primeiramente chega a onda sísmica. Entretanto, o epicentro é o ponto de maior concentração e/ou liberação de energia. Quando relaciono isso com o futebol, quero dizer que, entre todos os elementos e forças de interação que provocam respostas e contra-respostas em outros de um forma variada a cada momento, o maior dentre eles, o que possui mais forças gravitacionais é a bola (PERAITA, 2021). 

O centro do jogo (no fotograma acima representado pelo círculo vermelho) é uma circunferência estabelecida por um raio de 9,15 metros (distância regulamentar no futebol) a partir do epicentro do jogo. Sobre essa referência espacial (zona onde a bola se encontra) irá gerar 22 vetores de força diferentes que vão condicionar todos os comportamentos. Haverá jogadores cujas decisões sobre a sua localização, posicionamento e conduta serão influenciadas (para mais ou para menos) pela posição da bola (PERAITA, 2021). 

Desta forma, podemos classificar os papéis no jogo do seguinte modo:

  • Momento com a Bola
  • Atacante com a Bola (Microssistema de ação de jogo);
  • Atacante sem a Bola no Centro do Jogo (Mesossistema de ação do jogo);
  • Atacante sem a Bola Fora do Centro do Jogo (Macrossistema de ação do jogo).
  •  Momento sem a Bola
  • Defensor do atacante com a Bola (Microssistema de ação de jogo);
  • Defensor do atacante sem a Bola no Centro do Jogo (Mesossistema de ação do jogo);
  • Defensor do atacante sem a Bola Fora do Centro do Jogo (Macrossistema de ação do jogo). 
A partir dessa compreensão, algumas equipes que antes se organizavam apenas para proteger um gol e atacar o outro, começaram a se estruturar em torno da bola. Desse insight, nasce o Jogo de Posição (PERAITA, 2021). Outro fator que merece menção aqui é a REC 5 (recuperar a posse de bola após a sua perda em até 5 segundos), o centro do jogo é uma ótima referência espacial para isso (por isso o seu entendimento tanto por comissão técnica e plantel se faz necessário). Pois, dentro do espaço do centro do jogo é preciso diferenciar, por sua vez, entre o espaço de intervenção, próprio do atacante com a bola e o defensor do atacante com a bola e o espaço de ajuda mútua onde um número reduzido de atacantes sem a bola próximos a ele participam nessa situação ajudando ao executor a concluir sua atuação de maneira exitosa. Entretanto estes acontecimentos estão acontecendo em um lugar concreto do espaço de jogo, a totalidade do espaço restante deve estar ocupada de uma determinada maneira pelo restante dos integrantes da equipe e todos eles devem estar em situação de cooperação com os que estão na interação de ajuda mútua. Os indivíduos que cooperam são ajustados espacialmente ao espaço de intervenção em diferentes coordenadas que atendem aos sistemas de jogo globais que o treinador tenha proposto para essa partida e que tem uma diferente interpretação em função da fase de ataque (momento com a bola) ou defesa (momento sem a bola) em que se encontra à equipe. Destarte, o espaço que ocupam os jogadores que estão cooperando se denomina espaço fora do centro de jogo ou espaços de fase para diferenciá-lo do espaço do centro do jogo. Então temos que toda a equipe está ocupando um espaço de fase segundo a fase tática em que está comprometida e, em algum lugar desse espaço, há um grupo menor que ocupa um espaço singular no entorno da bola que é o espaço de intervenção onde se estabelecem relações de ajuda mútua de um alto valor afetivo (SEIRUL-LO, 2004).

O jogo aparentemente simples para alguns, esconde muitas nuances de ordem coordenativa, afetiva e mental. O jogo de futebol precisa do equilíbrio entre os momentos de "ter a bola" e o "não ter a bola" (fluxo contínuo) suportado por um sentimento organizacional coletivo. 

Ufa, espero que tenham gostado. Prometo ser mais assíduo nas publicações, se tiverem algum assunto que gostariam que eu trate aqui, sou todo ouvidos. Deixem o seu comentário que farei o possível para atender.

Forte Abraço!

Referências

TEOLDO, Israel. GUILHERME, José. GARGANTA, Júlio. Para um futebol jogado com ideias: concepção, treinamento e avaliação do desempenho tático de jogadores e equipes. 1 ed. Curitiba: Appris, 2015.

PERAITA, Agustín. Espaços de Fase: Como Paco Seirul-lo mudou a tática para sempre. 1 ed. Porto Alegre: Simplíssimo, 2021.

SEIRUL-LO, Francisco. Estructura socioafectiva. Master Profesional en Alto Rendimento en Deportes de Equipo. Área Coordenativa, Barcelona. Byomedic - Fundació F.C Barcelona. 


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

O QUE É "INTENSIDADE" NO FUTEBOL?

 


Muito se fala hoje em dia em intensidade no jogo do futebol. Mas afinal, o que é "intensidade" no futebol?

Na nossa cultura e consequentemente no futebol uma situação que impera é o verbalismo. Para     que possamos explicar a "intensidade" no futebol teremos que recorrer a tática. 

De uma forma simples, faz sentido afirmar que o conceito de tática pode ser concebido como a gestão (posicionamento e deslocamento/movimentação) do espaço de jogo pelos jogadores e equipe (TEOLDO, et al., 2015). Destarte, estando a equipe (sem a posse da bola) com as suas linhas próximas, realizando uma forte pressão sobre o homem da bola (se possível, em todas as partes do campo) haverá uma intensidade nesse jogar. 

Mas, para que isso seja possível, é preciso treinar. Treinar os princípios táticos defensivos, contenção e cobertura defensiva. Bem como, a equipe que está em posse da bola, precisa treinar os princípios táticos ofensivos, mobilidade e espaço. O princípio da contenção refere-se, basicamente, à ação de oposição do jogador de defesa sobre o portador da bola visando diminuir o espaço de ação ofensiva, restringindo as possibilidades de passe a outro jogador atacante, evitando o drible que favoreça progressão pelo campo de jogo em direção ao gol e, prioritariamente, impedindo a finalização à baliza (CASTELO, 1996). O princípio da cobertura defensiva está relacionado às ações de apoio de um jogador às "cotas" do primeiro defensor, de forma a reforçar a marcação defensiva e a evitar o avanço do portador da bola em direção à baliza (CASTELO, 1996). 


Estas ações táticas permitem digamos assim um "abafamento" "sufoco" em quem estiver com a posse da bola e quando perdê-la, deve-se realizar o perde/pressiona. E isso não tem só haver com os quesitos físicos, técnicos e psicológicos, pois, estes deixam de ter um sentido sem a dimensão tática para as contextualizar, assim como a dimensão tática não tem possibilidade de se exprimir se uma das outras não estiver presente. Compartilhamos a ideia de Teoldo et al., 2015, que não queremos transmitir a ideia de que a dimensão tática é a mais importante do que as demais, e sim salientar que esta assume o papel gerador, catalisador e coordenador informacional específico de cada equipe.

Em suma, para jogar de forma "intensa" é preciso treinar o que o jogo pede!

Referências:

CASTELO, J. Futebol a organização do jogo: Como entender a organização dinâmica de uma equipe de futebol a partir desta compreensão como melhorar o rendimento e a direcção dos jogadores e da equipa. Lisboa: FMH Edições, 1996. 

TEOLDO, I. et al. Para um Futebol Jogado com Ideias: concepção, treinamento e avaliação do desempenho tático de jogadores e equipes. 1 ed. Curitiba: Appris, 2015.


 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

ENTREVISTA PREPARADOR FÍSICO MARCELO LINS MARTINS



Fala galera, tudo bem com vocês?

Hoje trazemos mais um entrevistado de renome internacional com atuação no futebol para tratar do tema: “Importância da Técnica da Corrida para o Jogador de Futebol”.

Espero que gostem!

Vou deixar que o nosso entrevistado dessa semana se apresente:

MM: Sou formado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília e tenho mestrado em Fisiologia do Exercício pelo Ithaca College, Nova York. Trabalho hoje como instrutor das licenças A e B da CBF Academy e como consultor de performance. Trabalhei na EXOS, no Pittsburgh Pirates (baseball) com as categorias de base, no Chivas USA, na seleção de futebol do Catar, nas seleções Olímpica e principal dos USA, no Bayern de Munique, no Athletico Paranaense e no Western Sydney Wanderers (A-League, Austrália).

EF: O jogador de futebol está constantemente em transição da corrida para a marcha (caminhada), e desta para a corrida. Muitos jogadores realizam tudo isso intuitivamente. Quais as vantagens que o jogador pode obter melhorando a sua técnica de corrida?

MM: O jogador de futebol não é conhecido por ter uma técnica de corrida refinada. E muitos ao longo de suas carreiras nunca trabalharam a mecânica da corrida. Todos entendem que pra treinar habilidades motoras como chutar uma bola ou realizar o saque no tênis requer muito tempo de prática pra atingir um alto nível. E achamos que aceleração e velocidade máxima são atividades naturais pra todo ser humano. Qualquer um pode correr rápido de acordo com suas habilidades individuais, mas ninguém pode ser um velocista sem um treino adequado. Não quero dizer que temos que treinar os jogadores como velocistas, mas otimizando a mecânica do jogador não só melhora a aceleração e velocidade como ajuda a reduzir a incidência de lesões sem contato.

EF: O movimento do jogador de futebol pode ser dividido e categorizado de acordo com a direção do deslocamento. Ao abordarmos essa questão em alto nível, nos movemos linearmente, lateralmente, rotacionalmente, para cima (salto) ou para baixo (carrinho). Como treinar isso nos jogadores que não apresentam as unidades fundamentais de movimento?

MM: Existem algumas teorias quando nos referimos ao aprendizado motor. Uma delas tem a raiz na teoria do controle motor onde seus proponentes acreditam que os movimentos devem ser aprendidos primeiro com exercícios pré-programados e depois progredir para ambientes abertos e mais caóticos. Essa linha acredita que nenhum movimento deve ser realizado de forma incorreta ou com uma técnica inadequada pois o movimento fica arraigado no cérebro como um programa motor eficiente que vai se tornar automático à medida que a prática continuar. Outra linha é a teoria dos sistemas dinâmicos, que acreditam que o movimento surge como resultado de uma auto-organização quando os atletas são expostos a diferentes ambientes e níveis de complexidade. Independente da linha que acreditamos, se o atleta tiver uma mecânica inadequada vai gerar uma aplicação menos eficiente da força, diminuindo a performance. Além disso, vai ter um maior desgaste, gerar uma maior sobrecarga no sistema e aumentar a probabilidade de uma lesão acontecer. A maneira como iremos trabalhar vai depender de uma análise das necessidades dos jogadores e, no final das contas, o importante vai ser quão efetivo está sendo a transferência do método adotado para a performance no campo. Muitas vezes é necessário se realizar os trabalhos em ambientes mais isolados com exercícios pré-programados para que o atleta possa realizar o movimento de forma eficiente e ter um melhor entendimento da ação para então progredir e inserir elementos perceptual-cognitivos tornando o trabalho mais específico ao jogo. 

EF: Qual é a importância da saúde dos pés para a técnica da corrida? 

MM: O pé tem uma estrutura complexa de ossos, ligamentos e articulações que trabalham em harmonia e desempenham um importante papel na locomoção. Durante a corrida o pé atua auxiliando a minimizar as forças de reação do solo, proporcionando uma base de suporte estável e um braço de alavanca pra impulsionar o corpo de maneira eficiente. Em pés saudáveis, os músculos intrínsecos tem um papel importante em manter o arco do pé. Algumas evidências mostram que quando esses músculos estão enfraquecidos ou disfuncionais podem gerar uma pronação excessiva comprometendo a performance e aumentando a chance de lesões.

EF: Não é raro observarmos jogadores de futebol correndo e cruzando os braços na linha média do corpo. Isso é correto? Qual é o papel da ação dos braços na corrida?


MM: A ação dos braços é um mecanismo que o corpo utiliza para se manter estável durante a corrida em alta velocidade, contrabalançando o movimento do membro inferior oposto e tornando o movimento mais eficiente. Durante a corrida, os braços influenciam a posição dos quadris e, segundo alguns treinadores, influenciam também a frequência das passadas. Movimentos inadequados dos braços durante a corrida geram um maior desgaste, limitam o potencial de velocidade e podem indicar restrições na pélvis. Nem sempre o jogador de futebol pode realizar uma movimentação adequada dos braços (flexão e extensão dos ombros no plano sagital com diferentes angulações na flexão do cotovelo) durante a corrida pois muitas vezes utiliza os membros superiores para tentar manter o adversário afastado durante uma disputa, um duelo. Mas durante a partida podem ocorrer situações onde o jogador vai realizar a corrida em alta velocidade sem um adversário por perto e, portanto uma mecânica adequada pode potencializar a ação da corrida. 


EF: Atualmente existe uma grande discussão quanto a forma de pisada na corrida. Na sua experiência, qual a melhor forma de pisar na corrida?


MM: Quando estamos falando de aceleração e velocidade máxima, alguns princípios biomecânicos devem ser observados (logicamente respeitando as individualidades) para que haja uma melhor eficiência e aplicação da força. Durante a fase de aceleração o jogador tem que ter o centro de massa fora da base de suporte gerando uma inclinação. Essa inclinação vai depender, dentre fatores relacionados a situações específicas do jogo, da capacidade do jogador de produzir força, quanto mais potente maior a inclinação. Então se traçarmos uma linha gravitacional do centro de massa pro solo, a pisada do atleta deve ser diretamente no ponto em que a linha toca o solo ou atrás dela, limitando as forças de frenagem (atrito) e otimizando a força horizontal. 


                                   Fig. 1 Linha gravitacional do centro de massa. 


Na fase da velocidade absoluta, o atleta corre com uma postura mais ereta e o contato com o solo também se dá o mais próximo possível da linha gravitacional do centro de massa, no esforço de minimizar as forças de frenagem (atrito) e maximizar a força vertical. O ponto de contato com o solo em relação ao centro de massa vai ser o resultado da velocidade, força, técnica e tempo certo de contato com o solo. 



                                    Fig. 2 Comprimento da passada da corrida. 


Muito obrigado Marcelo Lins Martins por aceitar o nosso convite para essa entrevista sobre o tema a importância da técnica da corrida para o jogador de futebol.


Boa sorte na sua caminhada profissional e esperamos nos falar em breve.


Forte Abraço!


segunda-feira, 27 de julho de 2020

MATERIAL DIDÁTICO SOBRE JOGOS FRACTAIS TÉCNICOS


Temos a honra de informar que, dentro de alguns dias teremos pronto o material didático sobre Jogos Fractais Técnicos para oferecer para aqueles treinadores interessados.

Você têm duvidas sobre o que é um Jogo Fractal? 

Vamos explicar! O jogo de futebol é disputado em um campo com dimensões que variam de 45 metros a 90 metros de largura e 90 metros a 120 metros de comprimento com 22 jogadores ocupando esse espaço. Usualmente, podemos supor que os jogos reduzidos acontecerão em um campo de formato menor e com um número menor de participantes e que será o suficiente para treinar a equipe, correto? Destarte, nós discordamos. Os Jogos Fractais Técnicos e posteriormente os Jogos Fractais Posicionais (próximo material didático a ser desenvolvido), não mais os jogos reduzidos, devem ser concebidos tendo um norte e respeitar a especificidade do futebol, bem como, o modelo de jogo da equipe. Após definido o modelo de jogo da equipe, os conteúdos podem ser distribuídos ao longo do processo de treinamento, conforme for a deficiência dos jogadores, bem como da equipe. Neste caso, os Jogos Fractais Técnicos podem substituir as rodas de "bobo" e os rondos.

Uma forma de comparação para exemplificar melhor o fractal é o DNA. O DNA é um fractal do ser humano (indivíduo), pois contém todas as informações do mesmo e é específico de cada um.

O custo desse material didático será R$ 62,00.

Se você se interessou, entre em contato pelo endereço de e-mail
tajessports@gmail.com para saber os dados bancários para o depósito e receber o seu material.

Uma ótima semana a todos!
Abraço.  

sexta-feira, 24 de julho de 2020

TREINANDO AÇÕES TÉCNICAS POR MEIO DE JOGOS FRACTAIS



É inegável que para se treinar/jogar futebol a equipe/jogadores tem que possuir um ótimo nível técnico. Com a evolução marcada por avanços significativos em múltiplos domínios do conhecimento aplicados ao futebol. Avanços esses, alavancados pelo desenvolvimento das ciências do esporte que, proporcionaram o surgimento e o aprimoramento de novas metodologias de ensino-aprendizagem-treinamento aplicadas ao futebol.

Hoje os jogos em campos reduzidos, conhecidos internacionalmente como small-sided games são muito estudados e utilizados principalmente na Europa. Esses jogos caracterizam-se por apresentar um formato menor, dimensão do campo e número de jogadores não correspondente ao jogo formal oficial. Scaglia e Reverdito (2011) consideram os jogos em campos reduzidos como jogos conceituais (uma das matrizes de jogos), são jogos em que as suas referências funcionais (princípios operacionais e regras de ação) e estruturais (dimensão do campo, número de alvos) não respeitam a lógica do jogo esportivo coletivo, mas sim a manipulação da bola frente a diferentes objetivos.

Os contrários a esse tipo de metodologia de treinamento argumentam que, o uso dos jogos em campo reduzido não trabalham o aspecto técnico do jogo e recorrem aos trabalhos analíticos de forma fragmentada e descontextualizada do ambiente do jogo para trabalhar esses fundamentos. Dentre as muitas definições de técnica na literatura, escolhemos a de Greco e Benda (1998) que a definem como a adequada interpretação no tempo, espaço e situação do meio, necessário para resolver uma tarefa ou problema motor advindos do esporte. 



O treinamento baseado em jogos parte do princípio do trabalho do todo e não da somatória dos fragmentos do todo. Ao se treinar com jogos, busca-se desenvolver todos os aspectos que ocorrem na partida oficial de forma sistêmica e integrada. 

Destarte, propomos o nome de Jogo Fractal Técnico. O termo Fractal foi instituído por Benoit Mandelbrot em 1975, para denominar uma classe especial de curvas definidas recursivamente que produzia imagens reais e surreais. Uma estrutura geométrica ou física tendo uma forma irregular ou fragmentada em todas as escalas de imediação. A geometria fractal estuda subconjuntos complexos de espaços métricos. Segundo Stacey (1995) um fractal é uma parte invariante ou regular de um sistema caótico que pela sua estrutura e funcionalidade consegue representar o todo, independentemente da escala onde possa ser encontrado. Os fractais são representativos do todo, pois têm uma constituição "genética" semelhante ao todo onde foi observado (GUILHERME OLIVEIRA, 2004 apud CAMPOS, 2008, p. 54).

Ao consultar a literatura, está muito bem descrito que nos formatos de jogos menores (1 VS 1; 2 VS 2; 3 VS 3; 4 VS 4 e suas variações), as respostas fisiológicas, tais como concentração de lactato (La), frequência cardíaca (FC) e a percepção subjetiva de esforço (PSE), são significativamente maiores em relação aos jogos com maior número de participantes. 

Quanto as ações técnicas o Jogo Fractal Técnico pode ser organizado para trabalhar e desenvolver significativamente qualquer ação técnica de uma maneira mais funcional ao que acontece no jogo oficial. 

Na nossa concepção é fundamental que o processo de treinamento em futebol seja baseado em todas as categorias de Jogos Fractais (Técnicos e Posicionais). Pois os jogadores precisam treinar o mais   específico possível de forma sistêmica e integrada possível.

Se você quer saber mais sobre os Jogos Fractais Técnicos e Posicionais em breve estaremos lançando um material explicando melhor e com exemplos de jogos.

O endereço de e-mail para maiores informações é tajessports@gmail.com

Bom final de semana!

Referências

CAMPOS, C. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: a singularidade da intervenção do treinador como sua impressão digital. Espanha: MCSports, 2008.

SCAGLIA, A. J. ; REVERDITO, R. S. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés: todos semelhantes todos diferentes. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 11, p.89-90, 2011. 

STACEY, R. As fronteiras do caos. Biblioteca de Economia e Ciências Empresariais. Lisboa: Bertrand, 1995.









sexta-feira, 17 de julho de 2020

PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NO TREINAMENTO


Após um longo período de pausa (mais de 100 dias) a maioria dos campeonatos regionais retornará nos próximos dias. 

Será normal observarmos em algumas equipes algumas discrepâncias entre seus jogadores no quesito físico devido o conceito de limiar. A Lei de Arndt-Schulz considera o limiar como a capacidade básica do indivíduo ou desenvolvida pelo treinamento, que vai condicionar o grau de intensidade de um estímulo. Devido a pandemia e as medidas de distanciamento social, é sabido que os treinamentos estavam sendo realizados na sua maioria de forma analítica. E o jogo exige muito da capacidade de movimento e das respostas orgânicas globais. Segundo Matveev "a adaptação ideal é o resultado da assimilação de excitadores ideais". 


Com base na imagem acima, partimos do princípio de que cada jogador de futebol tem um "limiar" de esforço determinado e uma margem de tolerância máxima, temos que considerar que os estímulos que são débeis (abaixo do limiar) não excitam suficientemente as funções orgânicas, e portanto, não treinam. Aqueles estímulos mais intensos, mas que todavia se mantêm abaixo do limiar, excitam a função orgânica sempre e quando se repetem um número considerável de vezes, e neste caso produzem alteração e melhoram a função orgânica. Temos também aqueles estímulos fortes que chegam ficam dentro do limiar e produzem excitações sensíveis nas funções orgânicas e, após o devido descanso (recovery), produzem fenômenos de adaptação. E, por último, mas não menos importante, temos os estímulos muito fortes que ultrapassam o limiar, mas não a tolerância máxima individual, também podem produzir fenômenos de adaptação sempre e quando não se repetem com demasiada frequência. Neste caso provocarão sério estado de sobretreinamento (overtraining). 

Destarte, seja qual for a sua função dentro do treinamento esportivo é sempre bom estar relembrando aspectos básicos do treinamento esportivo e fisiologia do exercício, para oportunizar uma ótima performance para os seus atletas e compreender o que pode estar acontecendo com eles nesse retorno gradual aos jogos. 

Bom final de semana!


segunda-feira, 13 de julho de 2020

JOGO FRACTAL PARA ORIENTAÇÃO DO CORPO E PRESSÃO NA SAÍDA DE BOLA


Descrição 

4 vs 4 + 2 goleiros. 
O formato do campo igual ao da imagem acima, balizas posicionadas de forma assimétricas. 

Os três atacantes (azuis) pressionam a saída de bola da equipe adversária (amarela) no lado direito do campo em forma geométrica de triângulo. O objetivo do trabalho é organizar a pressão e a cobertura ofensiva, bem como a orientação do posicionamento do corpo dos jogadores para poderem economizar energia nos seus deslocamentos e reagirem rápido as mudanças de direção ocasionadas pela troca de passes da equipe adversária.


segunda-feira, 6 de julho de 2020

ENTREVISTA FISIOLOGISTA ANDRÉ FORNAZIERO


Fala galera, tudo bem com vocês?

Hoje daremos continuidade ao nosso primeiro ciclo de entrevistas com profissionais renomados que atuam no futebol.

Espero que gostem!

Vou deixar que o nosso entrevistado desta semana se apresente:

AF: Me chamo André Fornaziero, sou Bacharel em Ciência do Esporte pela Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Fisiologia do Exercício, Mestre em Fisiologia da Performance e Doutorando em Ciências do Movimento Humano com ênfase no Desempenho Físico e Esportivo pela Universidade Federal do Paraná. Sou professor universitário, pesquisador, palestrante e possuo mais de 10 anos de experiência como fisiologista no futebol, com passagens por clubes como Paraná Clube e Club Athletico Paranaense.


EF: É muito comum escutarmos que o futebol mudou. Mas, na sua opinião qual foi a principal mudança do futebol do século XX para o futebol do século XXI?

AF: Acredito que a principal mudança se refere as demandas competitivas, principalmente sob o ponto de vista físico, mas também técnico e tático. Fisicamente é claro que há uma maior demanda, vários estudos científicos reportam esse achado e por consequência o controle da preparação e recuperação tem sido alvo de muitos estudos. Por outro lado, acredito que a maior profundidade de análise com relação aos aspectos técnicos e táticos também aumentou a complexidade do treinamento e assim a exigência do melhor entendimento do jogo por parte dos atletas.

EF: No futuro o futebol será ainda mais intenso? Qual seria o seu conselho para os clubes em uma eventual seleção de jogadores?

AF: Sem dúvida será mais intenso, da mesma forma como tem acontecido nos últimos anos. Acredito que a seleção dos atletas deverá ser feita com a utilização de técnicas mais profundas de análise de dados, para que os clubes sejam capazes de cruzar informações de diferentes tipos e ter uma posição mais assertiva se aquele determinado atleta preenche os requisitos exigidos pelo modelo de jogo da equipe.

EF: Como o treinamento deverá ocorrer para suprir as futuras demandas do jogo?

AF: Nos últimos anos o processo de treinamento evoluiu sobremaneira, tanto no sentido da qualidade das atividades propostas como no controle e gestão de todas as informações que podem ser coletadas. Acredito muito que a formação que os treinadores vêm tendo nos últimos anos é de fundamental importância para esse processo pois eles são os líderes das comissões e quanto mais entenderem sobre todos os aspectos, mais cada profissional poderá dar seu contributo. Além disso, atualmente a quantidade de informações geradas em cada sessão de treinamento é muito grande, portanto um ponto essencial nesse contexto é a análise integrada desses dados, de modo que possibilite que a comissão técnica tome decisões mais assertivas.

EF: Deixo aberto o espaço para comentar mais sobre o tema se for do seu interesse.

AF: Acredito que de acordo com o processo de evolução do futebol como um todo, as instituições, profissionais, atletas e todos os membros envolvidos nesse processo devem sempre estar abertos a inovação. Gosto muito de fazer um comparativo da nossa situação atual com o cenário que tínhamos há 10 anos atrás, apenas para citar alguns exemplos: eram raros os clubes possuíam analistas de desempenho, fisioterapeuta só trabalhava com atletas lesionados e fisiologista era responsável por avaliação física. Atualmente grande parte das equipes possuem mais de 1 analista de desempenho, os fisioterapeutas fazer parte do processo de prevenção de lesões e o laboratório dos fisiologistas agora é o campo, coletando informações de carga de treinamento em tempo real.  Se nos últimos 10 anos muita coisa mudou, imaginemos o quanto esse cenário irá se modificar nos próximos 10? Tentarei fazer aqui uma previsão para o futuro: em 10 anos, certamente grande parte das equipes terá um analista de dados em suas comissões técnicas e além disso alguma outra função que ainda nem existe atualmente.

Muito obrigado André Fornaziero por aceitar o nosso convite para esse ciclo de entrevistas sobre o tema Futuro do Futebol. Boa sorte na sua caminhada profissional e esperamos nos falar em breve. 

Forte Abraço!


segunda-feira, 29 de junho de 2020

ENTREVISTA PREPARADOR FÍSICO VITOR NEMETZ


Fala galera, tudo bem com vocês?

Hoje temos a honra de iniciar o nosso primeiro ciclo de entrevistas com profissionais renomados que atuam no futebol.

Espero que gostem!

Vou deixar que o nosso entrevistado desta semana se apresente:

VM: Primeiramente gostaria de dizer que é com grande satisfação que participo desta entrevista e, terei a oportunidade de escrever sobre o que mais tenho paixão de estudar e trabalhar. Sou Vitor Nemetz, formado em Educação Física pela Universidade Positivo – Curitiba, Pós-graduado em Fisiologia e Prescrição do Exercício pela Universidade Gama Filho – Rio de Janeiro. Após uma curta passagem pelo Futebol profissional como atleta, iniciei minha carreira no Futsal do Coritiba Foot Ball Club como Assistente Técnico, durante este período atuei em escolinhas de futsal com o objetivo de aperfeiçoar minha didática como professor. Após este período em 2009 tive a oportunidade de estagiar na Categoria de Base do Coritiba onde iniciei minha carreira. 
Clubes onde trabalhei: Coritiba FC, Foz do Iguaçu, Coritiba FC, Barra Balneário Camburiú como Auxiliar Técnico, Rio Branco de Paranaguá.

EF: É muito comum escutarmos que o futebol mudou. Mas, na sua opinião qual foi a principal mudança do futebol do século XX para o futebol do século XXI?

VM: O Futebol, como em todas as áreas de nosso cotidiano está em constante evolução, sofrendo e exercendo influência na sociedade como um todo. Entendo que a principal mudança aconteceu e acontece na maneira com que as equipes jogam, fazendo com que existam processos de adaptações e evoluções em todas as áreas que o engloba.

EF: No futuro o futebol será ainda mais intenso? Qual seria o seu conselho para os clubes em uma eventual seleção de jogadores?

VM: Com o passar dos anos a ciência, com o advento da tecnologia, obteve mais ferramentas para realizar análises das demandas de um jogo de futebol e, os resultados das pesquisas vem demonstrando um aumento das ações de alta intensidade, como por exemplo: distâncias percorridas acima de >19 km/h, números de sprints com e sem posse da bola. Isto posto, evidencia um aumento gradativo da intensidade do futebol, porém não posso afirmar que o jogo irá ficar ainda mais intenso pois, uma análise como essa não pode ser feita apenas do ponto de vista físico.
É pretensioso de minha parte aconselhar clubes para um processo de seleção de jogadores pois, são entidades que possuem em seu organograma profissionais com experiência e capacitação técnica para tal função. Em minha humilde opinião sempre irei optar por pessoas que demonstrem habilidades técnicas em conjunto das cognitivas, que demonstrem criatividade, inteligência, improviso e gestos motores refinados ou com potencial em domínio da bola, se possível aliado ao controle emocional. As demais capacidades exigidas pelo jogo, em meu modo de pensar, ficam em segundo plano neste momento de seleção de atletas. 

EF: Como o treinamento deverá ocorrer para suprir as futuras demandas do jogo?

VM: O treinamento para mim deve sempre ter o caráter da especificidade, o termo que resume isso para mim é FRACTAL onde, separamos o todo sem perder a formar absoluta. Todas as ações realizadas no dia a dia do treinamento, devem ser em busca da incorporação de comportamentos coletivos, setoriais ou individuais que, facilitarão na tomada de decisões dos atletas, sem que os mesmos tenham sua criatividade oprimida. Teremos que desenvolver exercícios que repliquem o mais próximo possível do que o jogo exige do ponto de vista Global.

Muito obrigado Vitor Nemetz por aceitar o nosso convite para esse ciclo de entrevistas sobre o tema Futuro do Futebol. Boa sorte na sua caminhada profissional e esperamos nos falar em breve. 

Forte Abraço!

domingo, 28 de junho de 2020

FUNCIONAMENTO GLOBAL EFICIENTE DA EQUIPE


Muitos quando olham para uma equipe de futebol sempre elegem um jogador favorito, o tão conhecido "craque" da equipe. Mas, será que uma equipe de futebol é bem sucedida por apenas possuir jogadores com qualidades individuais?

O futebol é um esporte coletivo de invasão, desta forma, todas as equipes devem possuir um saber estratégico-tático, uma vez que esse saber advém não apenas do conhecimento das regras de competição e de gestão e organização do jogo, mas também do conhecimento das condições de regulação situacional (GARGANTA, 2006). Uma partida de futebol acontece entre duas equipes que irão se comportar como um sistema dinâmico que vive da sua organização no espaço e no tempo, a eficácia dos comportamentos individuais e coletivos dependerá do compromisso entre a sua identidade e a sua integridade. Destarte, o que faz o jogo é aproveitar o momento. E conforme nos mostra Garganta (2006) o que ensina aproveitar o momento são a estratégia e a tática. 

O que uma orquestra tem haver com uma equipe de futebol? Tudo!
Assim como no futebol, podemos simplificar um orquestra separando por setores:
  • Setor dos Metais - instrumentos de sopro;
  • Setor das Cordas - instrumentos de corda, violino, violoncelo;
  • Setor de Percussão - bateria, tambor. 
Em uma equipe de futebol temos:
  • Setor Defensivo;
  • Setor de Meio-Campo; e
  • Setor Ofensivo. 
E para harmonizar tudo isso, na orquestra temos o Maestro e na equipe de futebol o Treinador (quando nos referimos ao treinador incluímos também, Auxiliar Técnico, Preparador Físico, Preparador de Goleiros e demais profissionais) que deve levar em conta os Princípios Táticos (Gerais, Operacionais e Fundamentais) para criar o Modelo de Jogo da equipe e assim treiná-lo conforme a sua metodologia. 

Para adquirirmos um funcionamento global eficiente da equipe, você colocaria todos os setores para treinarem juntos (jogos específicos - similar há um jogo coletivo) ou utilizaria um outra estratégia?

E se sua orquestra/equipe desafinar? Você reduziria sem empobrecer os seus exercícios/jogos? 

Destarte, é exatamente assim que funciona. Não estamos aqui para dizer o que é certo ou errado, mas, para criar provocações. Exercícios/jogos que restrinjam ou dificultem os Princípios Táticos e o Modelo de Jogo da Equipe desafiam o funcionamento global eficiente de qualquer equipe de futebol. E depois que desafinou, é preciso descobrir se é apenas um desarranjo individual (jogador/pessoa) que não entendeu o TODO dentro da sua PARTE e/ou as PARTES estão com dificuldade de se harmonizar como TODO! 

Lembre-se, a individualidade só aparece dentro do coletivo. 

Se gostou deixe seu comentário.
Curta e Compartilhe.
Boa semana!

Referência

GARGANTA, J. (Re)Fundar os conceitos de estratégia e táctica nos jogos desportivos colectivos, para promover uma eficácia superior. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 20, 201-203; 2006. 

  


  

quinta-feira, 25 de junho de 2020

COMO SERÁ O FUTURO DO FUTEBOL?


Série de Entrevistas

Fala galera, tudo bem com vocês?

Como já havíamos anunciado, estamos de volta com as publicações por aqui. E para iniciarmos, vamos tratar do assunto o Futuro do Futebol. Estamos vivendo momentos difíceis com essa pandemia do novo coronavírus (COVID-19). 

Com a parada do futebol a TV vem reprisando jogos, partidas da década de 90 e muitas pessoas comentam que o futebol mudou da década de 1990 para os tempos de hoje. E você concorda com isso?

Destarte, convidamos alguns profissionais para tratar desse assunto, falarmos sobre algumas perspectivas do futuro do treinamento do futebol. 

Alguns profissionais já aceitaram o convite para falar sobre esse tema, vamos apresentar dois deles nesse momento:
  • André Fornaziero, fisiologista da AF Sports Science;
  • Vitor Hugo Nemetz, preparador físico. 
Estamos no processo de término das perguntas, para em breve (essa semana ainda) encaminhar para os entrevistados e podermos abrir uma discussão sobre o que nos aguarda no futuro do treinamento do futebol.

Estamos ansiosos ... 

Por hoje é isso pessoal. Abraços!

segunda-feira, 22 de junho de 2020

JOGO FRACTAL PARA ATAQUE RÁPIDO



Fala galera, tudo bem com vocês?


Voltamos a nossa rotina de publicações. Espero que gostem desse primeiro post.

Vem novidade aí, vamos realizar uma série de entrevistas com profissionais altamente capacitados do mundo futebol para tratar de assunto muito interessante, como será o futebol no futuro?

Aguardem. 

Desfrutem ...

Jogo Fractal 3 VS 2 + Goleiro. 

Descrição

Três atacantes jogam contra 2 defensores + goleiro na primeira baliza e tem que finalizar antes do sexto passe. Nas laterais, direita e esquerda, encontram-se 2 laterais em posse de bola, após a finalização na primeira baliza, os 3 atacantes juntamente com os dois defensores se deslocam para a segunda baliza para receber o cruzamento rápido e rasteiro proveniente de um dos laterais.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

JOGO FRACTAL PARA ABERTURA DE ESPAÇOS APÓS O ROUBO DA BOLA


Descrição

3 vs 3 + 2 curingas. Em dois dos lados do quadrado há um coringa. Os outros dois lados são ocupados por um jogador de uma das equipes que está em posse de bola, entretanto o terceiro integrante se encontra dentro do setor de jogo. O objetivo é manter a posse da bola e os outros tentam roubá-la. Quando conseguem há uma troca de posições rápida (sem parar o jogo). Se conseguir recuperar antes dos 3 passes rivais, após a perda, é 1 ponto.
Referência

POL, Rafel. La Preparación Física en el fútbol: el proceso de entrenamiento desde las ciencias de la complejidad. 2 ed. MCsports, 2013. 


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

TOMADA DE DECISÃO EM AMBIENTE DE JOGO



Particularmente, sempre busco criar ambientes de aprendizagem nas minhas aulas/treinamentos. Contrariamente a proposta feita por outras metodologias de trabalho  que baseiam a tomada de decisões em processos meramente cognitivos, independentes do  entorno em que estas acontecem, eu procurar buscar uma transferência para o ambiente competitivo mediante a inferência dos processos cognitivos previamente estimulados. Destarte,  ao entender que a ação do  aprendiz/esportista modificará a informação presente no entorno, e será esta informação a que guia o  aprendiz/esportista em suas decisões e ações, entendemos que os processos de decisão e ação são interdependentes, formando  um ciclo de retro-alimentação constante entre os processos de percepção e de ação.

Destarte, resulta difícil definir uma hierarquia entre decisão e ação. Uma ação é uma interação funcional entre o aprendiz/esportista (no caso do  futebol jogador) e seu entorno com um determinado propósito e uma decisão esta condicionada pelo entorno (o que pode ser feito) em função das capacidades de ação do  aprendiz/esportista, sendo  um processo emergente, fruto da estratégia ativa em  busca de soluções caracterizada por sequências espaço-temporais em relação entre o aprendiz/esportista e o   entorno. Por isso é importante insistir na incoerência de dividir os processos de decisão (tática) e os processos de ação (técnica/condição física) no processo  de treinamento, como assim nos corrobora a neurociência.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

OS AMANTES DO FUTEBOL AGRADECEM

No último final de semana tive uma grata surpresa. Acompanhei o jogo entre, Grêmio Osasco Audax versus São Paulo Futebol Clube do sofá da minha sala. Confesso, não assistia uma partida inteira de uma equipe nacional havia algum tempo.
 
O que me chamou muito a atenção foram, os conceitos de futebol implementados e bem executados por essa equipe de futebol. Dominou a equipe do São Paulo Futebol Clube na maior parte do tempo de jogo. Mostrando, ao contrário do que o treinador do nosso selecionado nacional afirmou dias atrás para um grande veículo de comunicação, futebol é coletivo! O talento individual não é pré-requisito para formar um equipe vencedora. Sou da opinião que, o talento nasce da coletividade. Graças ao Fernando Diniz e a sua comissão técnica, isso está sendo mostrado.
 
Para quem não sabe, o auxiliar técnico da equipe do Grêmio Osasco Audax é o professor Eduardo Barros, aquele mesmo que, com muita gentileza veio à Porto União - SC no ano de 2015 para ministrar uma palestra na Universidade do Contestado - UnC Campus Porto União, onde eu leciono. Eduardo Barros, um jovem profissional que vem a cada ano, demonstrando que o estudo do futebol vale a pena, que os paradigmas estão aí para serem superados, que a ideia, a boa ideia sobre futebol deve ser pensada e colocada em prática. 
 
Enfim, sábado às 18h30 teremos mais um capítulo dessa odisseia do futebol que é o Grêmio Osasco Audax. 
 
Destarte, parafraseando Jorge Maciel "Não deixes matar o bom futebol e quem o joga"! Pois, os amantes do futebol agradecem.  

Obrigado Grêmio Osasco Audax, por contratar pessoas que pensam o futebol com boas ideias.
  
 
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

CAUSALIDADE E O BINÔMIO DESEMPENHO/RECUPERAÇÃO NO FUTEBOL


Qual é a quantidade do esforço para as cadeias musculares das pernas durante um treinamento na caixa de areia? Qual a qualidade de um trabalho feito na caixa de areia? Após uma atividade como  está, qual a atividade que posso desenvolver para os jogadores sem agravar a fadiga?

No futebol e em qualquer outra atividade física desportiva, treinamos para melhorar a forma de adaptação. E, segundo a teoria e metodologia do treinamento desportivo, temos diferentes tipos de adaptação:
  1. Fenômenos de adaptação morfológicos;
  2. Adaptações biopositivas e bionegativas;
  3. Sistemas de adaptação rápida e lenta;
  4. Adaptações específicas e não específicas.
Neste caso específico, vamos nos ater no item 2, adaptações biopositivas e bionegativas. Segundo Weineck,  2005, p. 14:
"... se os estímulos forem apresentados qualitativa e quantitativamente de forma - observando-se a capacidade de receber carga de cada sistema biológico -, resulta uma melhora da capacidade de desempenho, pela formação de novas estruturas de suporte (adaptação biopositiva), mais propícias a um bom desempenho. Um excesso de estímulos, por outro lado, leva a uma adaptação bionegativa - também chamada de má adaptação - e apresenta uma exigência exagerada do sistema, com momento de prejuízo."
Se não soubermos quantificar a dosagem do esforço que uma atividade terá sobre a musculatura exigida, poderemos causar uma adaptação bionegativa no jogador se, não dermos o tempo de descanso necessário para essa musculatura.


Na figura acima podemos observar isso no sistema muscular (a) no sistema ligamentar e de sustentação (b) e após uma recuperação incompleta (c). Se isso não for respeitado, muito provavelmente os jogadores estarão trabalhando sempre em um processo aquém do que seriam capazes. Destarte, derrotas começam  a surgir e o que se faz, aumentam as demandas físicas de trabalho.

Se estamos tratando do tema causalidade e o binômio desempenho/recuperação, temos que comentar sobre o tempo, correto? Segundo Prigogine (2002, p. 21) "o reaparecimento do paradoxo tempo deve-se essencialmente a dois tipos de descobertas. O primeiro consiste na descoberta das estruturas de não equilíbrio, também chamadas de 'dissipativas'. (...)". A estrutura dissipativa só existe quando  o  sistema dissipa energia e permanece em interação com o mundo exterior, é isso que ocorre quando se pratica futebol. O sistema busca equilíbrio e as atividades que propomos causam desequilíbrios ao sistema. Assim surge, outro fenômeno, o da auto-organização. De acordo com Morin (2013, p. 282-283) o fenômeno da auto-organização refere-se à aptidão de um sistema para criar novas estruturas e estabelecer um nível novo de ordem e organização, após sofrer perturbações aleatórias, de maneira que quanto mais complexos forem os comportamentos do sistema, mais ele manifestará capacidade para se adaptar em relação ao entorno.

Trabalhar o entorno, não é mudar de terreno, mas, ter a percepção de quê, a movimentação dos jogadores da sua equipe e da equipe contrária como condicionantes da atuação individual do futebolista, pois, os princípios dinâmicos da tomada de decisão e de como esta surge da interação entre neurônios interconectados, se baseiam em modelos em que a decisão se associa a uma transição entre atratores, ou estados estáveis, da rede. Esta transição entre estados é induzida por "inputs" seletivos associados a um estímulo, que modifica a paisagem dos atratores do sistema, favorecendo a transição entre o atrator neutro e um atrator seletivo, associado a uma escolha categórica (MARTI ORTEGA apud POL, 2013, p. 25). E, esse processo desgasta mais do que apenas o aspecto físico. 

Doravante, Frade (apud TAMARIT, 2013, p. 131) nos alerta para o estado de falência circunstancial do funcionamento de qualquer átomo ou de qualquer órgão é um estado de parabiose. Este é um processo que relata a união de elementos vivos. Neste caso, representa os estímulos qualitativos do treinamento e com o  propósito de articulação que este fenômeno desencadeia, após a desestruturação gerada, faz emergir uma determinada engendração conforme o estímulo que a motivou. Se trata de um processo de auto-organização que concebe o organismo e suas partes constituintes como estruturas dissipativas susceptíveis para aspirarem níveis de complexidade crescentes. Em si, não se respeitando isso, ocorrerá a "paranecrose" (FRADE apud TAMARIT, 2013, p. 131) que é o fenômeno análogo do descrito na parabiose, pois seus efeitos, pela diferença qualitativa há nível de estímulo, pela não devida contemplação do tempo de recuperação, motiva a morte dos elementos vivos, e sua consequente perda de complexidade por parte do sistema.

  

Em suma, para entendermos o processo de treinamento, dentro da causalidade binômio desempenho/recuperação não devemos procurar os "picos de forma", mas, níveis de desempenho elevados, ou seja, treinabilidade que permitam que a equipe mantenha um nível de adaptabilidade e funcionalidade e de interação eficaz e eficiente, que perdure durante todo o processo de tempo da competição, e/ou melhor, de jogo a jogo sem causar a "paranecrose".

Referências

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 15 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

PRIGOGINE, Ilya. As leis do caos. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

POL, Rafel. La Preparación Física en el fútbol. El processo de entrenamiento desde las ciencias de la complejidad. MC Sports, 2013.

TAMARIT, Xavier. Periodización Táctica VS Periodización Táctica: Vítor Frade aclara. MBF, 2013.

WEINECK, Jürgen. Biologia do Esporte. 7 ed. Barueri - SP: Manole, 2005.