No jogo atual, falar apenas de ataque e defesa, é falar de algo que não é futebol. Sou defensor da não fragmentação do treino/jogo, mas para melhor entendimento, esses momentos devem ser tratados em separado.
A velocidade que se joga atualmente não permite mais que, como acontecia há alguns anos atrás, os jogadores tenham tempo para pensar e realizar calmamente as suas ações quando ganhavam ou perdiam a bola. Seja porque se defende mais à frente, seja pela origem do pressing, seja pela evolução técnica dos jogadores e dos materiais (bolas, chuteiras, gramados [embora no Brasil esse assunto seja muito discutível]), o jogador atual, quando perde a bola não pode deslocar-se lentamente para ocupar a sua posição e, quando a recupera, não pode demorar para retirá-la do setor onde a recuperou.
Os dois momentos mais importantes do jogo atual são o momento em que se perde a bola e o momento em que se ganha a bola (MOURINHO, apud AMIERIO, 2004).
A eficácia dos momentos de transição está intimamente relacionada com o modo como a equipe está organizada antes dos mesmos. Ou seja, equilíbrio defensivo no ataque e equilíbrio ofensivo na defesa (AMIERIO, 2004).
Apoiado pelo mesmo conceito Carvalhal (2006) defende que ninguém consegue atacar bem se não tiver a equipe equilibrada para defender e ninguém consegue defender bem se não tiver a equipe equilibrada para atacar.
Figura 1: A balança representa o equilíbrio entre os momentos |
Sustentados nos depoimentos acima citados e pela figura 1, atrevemo-nos, então, a salientar que, quando em posse de bola, a equipe deve estar dotada de determinados comportamentos, que permitam atacar mas ao mesmo tempo estar posicionada para responder convenientemente a uma situação de perda da posse de bola. Acreditamos que estes comportamentos da equipe devem ser assegurados pelos jogadores sem bola, adotando um posicionamento que lhes permita participar no momento ofensivo mas, ao mesmo tempo, garantir segurança defensiva perante uma possível perda da posse da bola. Porque o ataca e a defesa são unidos, que não pode-se separar.
Outra situação que não podemos deixar de mencionar sobre as transições é que eles se norteiam nos Princípios Fundamentais do Futebol:
- Refutar a inferioridade numérica;
- Evitar a igualdade numérica;
- Criar a superioridade numérica.
E quando a equipe se encontrar no momento sem a bola (defesa) os jogadores devem situar-se entre os oponentes (sem a bola), para realizar a pressão. Na minha visão, o modo de defender é estar entre oponentes. Nunca declarar ao adversário que estou marcando ele. Amierio (2004) identifica duas principais formas de organização defensiva: defesa homem-a-homem e defesa à zona, sendo que não existe apenas uma forma de defesa homem-a-homem, como também não existe uma única forma de defender à zona. As referidas formas de organização defensiva se distinguem muito significativamente. Na primeira a grande referência de marcação são os espaços considerados valiosos, já na segunda são os oponentes diretos, ou seja, quando defendemos à zona procuramos defender os espaços considerados mais valiosos, e quando defendemos homem-a-homem devemos defender exclusivamente um adversário direto.
Na mesma linha de raciocínio temos Frade (2005), afirmando que, uma equipe quando defende, deve fazer campo pequeno, reduzir o espaço de jogo à equipe oponente, ter os setores mais próximos entre si e conseguir superioridade numérica no setor da bola. E quando ataca, deve fazer campo grande, ocupando corredores e dando profundidade e largura ao jogo. Se a equipe defende no homem-a-homem isto se torna muito difícil (para não dizer impossível) pois, com as movimentações dos oponentes os jogadores da nossa equipe serão levados para determinados espações que não são os mais específicos para retirar a bola do setor de pressão e mantê-la para iniciar o ataque rápido (muito chamam de contra-ataque e o confundem com as transições).
A transição é o momento em que se passa do processo defensivo para o processo ofensivo (transição ofensiva) e do processo ofensivo para o processo defensivo (transição defensiva). Portanto, um caminho de mão dupla.
Então, como pudemos observar até aqui o modelo de jogo influencia a forma de desgaste físico/mental do jogador e pode ser benéfico e/ou prejudicial para a equipe. Por exemplo, só correr na fase ofensiva e não na fase defensiva causa desequilíbrio tático na equipe. Outro fator que deve ser levado em consideração nas transições é a VEL (Velocidade de Passes entre os jogadores) se é alta e/ou baixa. Isso para retirar a bola do setor de pressão, mudar a bola de corredor e dificultar a montagem do bloco defensivo por parte da equipe oponente. A REC 5 (Recuperar a Posse de Bola em até 5 segundos) se não for possível organizar o bloco defensivo (essa última tem relação significativa com a base física dos jogadores).
As transições devem ser equilibradas durante as partidas e nas transições a mente atua antes do corpo, a equipe que não conseguir equacionar isso está fadada ao desequilíbrio tático.
Boa semana a todos!
Referências
AMIERIO, Nuno. Defesa à Zona no Futebol. Um pretexto para reflectir sobre o <<jogar>>...bem, ganhando! Edição do autor. Porto, 2004.
FRADE, Vítor. Apontamentos da disciplina Metodologia Aplicada I - Opção de Futebol. Não publicada. FCDEF-UP. Porto, 2005.
CARVALHAL, Carlos. Entrevista. In A importância dos momentos de transição (ataque-defesa e defesa-ataque) num determinado entendimento do jogo. Dissertação de Licenciatura. Não publicado. FADE-UP. Porto, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário