Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

DESACELARAÇÃO HORIZONTAL: VACINA CONTRA LESÕES?

 

Fig. 1: Desaceleração Horizontal

Qual deve ser o objetivo do treinamento? Na minha humilde opinião é promover o desenvolvimento atlético e a redução das lesões, a fim de melhorar o desempenho. Para isso, é preciso de uma abordagem integrada, que foque na pessoa por completo ao invés de componentes individuais. 

Nas últimas publicações tratamos do sprint e agora daremos sequência no aspecto da corrida tratando da desaceleração. 

A fase de desaceleração é uma etapa de transição, na qual o atleta tenta controlar a inércia (momentum) gerada na etapa de velocidade máxima (FALSONE apud LIEBENSON, 2017). Não há dúvida que, como uma expressão da potência e velocidade explosivas, a aceleração carrega algum risco de lesão em função de forças intensas aplicadas a tecidos moles, tecido conjuntivo e articulações. Porém, pode-se argumentar que mais lesões ocorrem durante a desaceleração (FALSONE, 2019). 

Muito tempo e dedicação foi empregado no estudo das atividades de alta de intensidade (sprint). Um grupo de pesquisadores traz à tona outra ação locomotora de alta intensidade, que talvez receba menos atenção: a desaceleração (McBURNIE, et al., 2022). Embora seja um termo genérico para descrever um processo realizado em muitas tarefas atléticas, desaceleração (ou seja, aceleração negativa) no contexto desta discussão refere-se à ação realizada durante cenários esportivos que antecede uma mudança de direção (CoD), ou uma ação realizada imediatamente após um sprint para reduzir a velocidade (McBURNIE, et al., 2022).

No futebol desacelerações de alta intensidade (> -2,5 m/s2) são executadas com mais frequência do que acelerações equivalentemente intensas durante partidas oficiais. Fundamentalmente, desacelerações de alta intensidade estão ligadas a padrões de movimentos comumente realizadas em partidas/treinos, onde os atletas precisam reduzir rapidamente o impulso para fugir ou perseguir oponentes durante as transições (McBURNIE, et al., 2022).

Durante a desaceleração horizontal é necessário um alto grau de pré-ativação muscular para suportar efetivamente os grandes momentos externos que são gerados no contato com o solo. Especificamente, os altos níveis de ativação podem facilitar a produção de altas forças musculares internas em prazos mais curtos, permitindo subsequentemente que o impulso de frenagem externo necessário seja gerado para reduzir o momento horizontal. 

Fig. 2: Desaceleração Horizontal com Mudança de Direção (CoD)

A desaceleração depende do próximo padrão de movimento que será realizado. Assim, a fase de desaceleração prepara o corpo colocando-o em um posicionamento otimizado para iniciar a próxima fase do movimento. 

Como mencionado anteriormente, desacelerações de alta intensidade são realizadas com mais frequência do que acelerações de intensidade equivalente em vários esportes coletivos. A desaceleração pode ser considerada uma qualidade fundamental subjacente à velocidade multidirecional do jogador de futebol. Atletas que possuem capacidades avançadas de aceleração e velocidade máxima podem apresentar capacidades de desaceleração reduzida, isso pode supor que esses atletas identificados provavelmente estão despreparados para as demandas físicas do esporte de equipe competitivos, devido às demandas de carga ainda maiores para realizar desacelerações não planejadas no jogo. Com essas informações, juntamente com a avaliação da competência de movimento do atleta e capacidade física (particularmente força excêntrica e reativa) os praticantes podem caracterizar mais facilmente déficits biomecânicos ou neuromusculares específicos (McBURNIE, et al., 2022).

Embora o desenvolvimento e manutenção contínuos da atividade locomotora de alta velocidade continuem sendo a peça vital do quebra-cabeça do desempenho em esportes como o futebol. Durante o trabalho de campo, os atletas precisam ser regularmente expostos a desaceleração de alta intensidade dentro do seu microciclo semanal, e o trabalho complementar pode ser recomendado da mesma forma que a suplementação das corridas de alta intensidade (HSR) são agora comumente utilizadas. Destarte, a desaceleração horizontal deve ser treinada como uma habilidade de movimento em conjunto com a melhoria da capacidade de força excêntrica e qualidades de desempenho neuromuscular no treinamento fora do campo (McBURNIE, et al., 2022). Afinal, como já dizia o slogan de uma famosa companhia de pneus "Força sem controle é nada." Nesse caso específico, velocidade sem freio é nada.

A pergunta que foi feita no título da publicação não é tão simples de ser respondida. Mais pesquisas precisam ser feitas para que a resposta possa ser positiva e/ou negativa. Outra questão que precisa ser levantada quanto a desaceleração é o próximo padrão de movimento, que depende dos graus de angulação para a mudança de direção (CoD), 45º, 90º e 180º cada um com um grau de intensidade diferente.    

Boa semana!

Referências

FALSONE, S. A corrida em esporte. in LIEBENSON, C. Treinamento funcional na prática desportiva e reabilitação neuromuscular. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 263-272.

FALSONE, S. Reduzindo o tempo da reabilitação ao desempenho. Rio de Janeiro: FitnessPro Education, 2019. 

McBURNIE, A.; HARPER, D.J.; JONES, P. A.; DOS SANTOS, T. Deceleration Training in sports: another potential 'vacine' for sports-related injury? Sports Medicine 2022. 52:1-12.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

SPRINT: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


As ações de sprint são de fundamental importância para o futebol atual. Porém, como ela não é uma habilidade inata, precisamos auxiliar os nossos atletas para que a desempenhem bem.

Um bom início é observar a estabilidade dos nossos atletas. Vários exercícios nos vem à mente quando pensamos em estabilidade que tem haver com a posição do corpo. A inclinação do total do corpo é o que nos impulsiona à medida que aplicamos a força contra o chão. Se você estiver de pé e ereto e aplicar a força contra o chão, você será impulsionado para cima em um salto. Em contrapartida, se estiver em inclinação total aplicando a força diretamente para trás, você será impulsionado para frente. Mas, a inclinação corporal só pode se estender até antes do centro de gravidade, e o alinhamento das articulações não se tornarem prejudiciais ao equilíbrio (FALSONE, 2019). Vejam alguns exemplos:

Vídeo 1: Prone Valslide Hip Flexion Hold

Vídeo 2: Prone Valslide Hip Flexion

Vídeo 3: Wall Acc Pos Hold

Vídeo 4: Wall Acc Pos

Esses são apenas alguns exemplos sobre estabilidade para auxiliar na mecânica do sprint. Se o atleta não possuir um bom nível de estabilidade tanto estática como dinâmica a sua aceleração também não será a ideal, pois irá acontecer o vazamento de energia, o que irá prejudicar a sua performance e também exaurir as suas fontes de energia cedo demais. 

O próximo exercício complementar que podemos elaborar é para a ação dos braços.

Vídeo 5: Arm Work

A ação dos braços é o terceiro fator chave para alcançar o potencial de aceleração total. Como não realizamos qualquer movimento isoladamente, a ação dos braços determinará em grande parte a ação das pernas. Assumindo que temos a mobilidade e o controle motor necessários nos quadris e pernas, produzir atividade potente nos braços estimulará as pernas a acompanharem o processo (FALSONE, 2019).

No treinamento de força, a intenção do movimento geralmente pode ser traduzida na posição final do exercício. Se isso corresponder a posturas corporais importantes da corrida, haverá maior transferência (BOSCH apud JOYCE & LEWINDON, 2014). 

Seguem mais alguns exemplos:

Vídeo 6: Single Leg Bridge

Vídeo 7: Single Leg Bridge Dynamic

Vídeo 8: Single Leg Triple Extension

No vídeo 8 temos um exercício de força com duas intenções relevantes: a posição final completa do reflexo de extensão e a ausência de rotação na ponta dos pés. 

Isto posto, tal como acontece com muitos movimentos esportivos, a forma como o movimento é iniciado geralmente determina o sucesso dos estágios sucessivos desse movimento. No sprint não é diferente. 

Vídeo 9: Sled March

O vídeo acima é um exemplo de como desenvolver força inicial e aplicação de força na direção específica do sprint.

Exercícios e habilidades que aumentam a rigidez dentro do sistema, desenvolvem movimentos poderosos do quadril e minimizam os vazamentos de energia no tronco são fundamentais. O último vídeo trás um exemplo para isso.

Vídeo 10: Overhead ViPR March

A principal intenção deste exercício é enraizar o conceito de altura máxima do quadril ao longo de todo o ciclo da passada. A má postura normalmente resultará em uma posição vertical mais baixa do quadril que não permite uma extensão poderosa do quadril. 

Espero que tenha conseguido contribuir mesmo que minimamente sobre um assunto tão atual e desafiador como é a questão do sprint no futebol.

Boa semana!

Referências

BOSCH, F. Fine-tuning Motor Control in JOYCE, D.; LEWINDON, D. (ed.) High-Performance Training for Sports: the authoritative guide for ultimate athletic conditioning. Champaign: IL, Human Kinetics, 2014. p. 113-126.

FALSONE, S. Reduzindo o tempo da reabilitação ao desempenho. Rio de Janeiro: FitnessPro Education, 2019. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

SPRINT: HERÓI OU VILÃO?


Fig. 1: Ação de Sprint

No futebol quando tratamos do assunto velocidade temos que ter em mente sobre qual espectro da manifestação da velocidade estamos nos referindo. Pois, os fatores estruturais a ela vinculados são vários e temos uma descrição de Benedek/Palfai (1980 apud WEINECK, 2000 p.355) que irá nos nortear sobre o tema. 
A velocidade do jogador de futebol é uma capacidade verdadeiramente múltipla, a qual pertencem não somente o reagir e agir rápido, a saída e a corrida rápidas, a velocidade no tratamento com a bola, o sprint e a parada, mas também o reconhecimento e a utilização rápida de certa situação.  

Destarte, apoiados nessa descrição sobre as características das exigências da velocidade no futebol, algumas capacidades importantes nos vêm à mente, são elas:

  • Velocidade de Percepção;
  • Velocidade de Antecipação;
  • Velocidade de Decisão;
  • Velocidade de Reação;
  • Velocidade de Movimentos sem Bola;
  • Velocidade de Ação com Bola; e
  • Velocidade-Habilidade.
Para ficarmos dentro do tema desta publicação vamos nos debruçar sobre a velocidade de movimentos sem bola. Onde teremos velocidade cíclica e velocidade acíclica.

Fig. 2: Velocidade de movimentos sem bola e suas subcategorias 
em relação às ações em campo. Adaptado de Weineck, 2000

Os exemplos práticos que podemos elencar quanto a velocidade de movimento acíclica no futebol são:
  • Movimentos de frenagem (parada);
  • Fintas de corpo (gato);
  • Saltos;
  • Giros; e 
  • Mudança de direção (CoD).
Na velocidade de movimentos cíclicos, teremos:
  • Corrida para a bola e/ou adversário;
  • Soltar-se/desprender do adversário;
  • Corrida com salto e/ou cabeceio; e
  • Corrida do goleiro para saltar e defender o gol.
Basicamente a definição de sprint é a capacidade de aceleração em curtas distâncias. Ao lado da resistência aeróbia e da anaeróbia, a capacidade de sprint representa no futebol a capacidade física de maior importância. Pois, os jogadores que marcaram gols realizam sprints cíclicos (lineares) em 45% destas ações, sendo na sua maioria sem adversários e sem posse de bola (FAUDE, et al., 2012). Essas ações na sua grande maioria acontecem em até 25 metros. 

Outro fator de extrema relevância para o futebol relacionado ao sprint é que, essa ação é o principal mecanismo de lesão muscular no futebol. Série de estudos comprovaram que a maioria das lesões de 61% a 68% que ocorrem no grupo muscular isquiotibiais acontecem durante um sprint (ação de alta intensidade) (BROOKS, et al., 2006). 

Os isquiotibiais desempenham um papel crucial na produção de força horizontal e na absorção de energia e, portanto, são um grupo muscular fundamental ao correr em altas velocidades. Durante a corrida, os isquiotibiais são altamente ativados na fase inicial de apoio, onde ocorre o contato inicial e, em particular, durante a fase final do balanço. Durante a fase final do balanço, a ativação dos isquiotibiais é duas a três vezes maior do que nas fases iniciais da corrida (fase de aceleração e velocidade absoluta). Os isquiotibiais sofrem contração excêntrica durante esta fase, que envolve o alongamento dos músculos durante a contração e a absorção do trabalho mecânico que está sendo concluído (SHAH, et al. 2022).

De acordo com a terceira lei de Newton, toda ação apresenta uma reação igual e oposta. Como o sprint não é uma habilidade natural e sim uma habilidade adquirida, não podemos apenas querer que nossos jogadores corram em altas velocidades sem antes auxiliá-los a aplicar a força de maneira adequada no solo e esperar que ele te devolva uma força igual e proveitosa. Embora existam várias sutilezas biomecânicas envolvidas, o sprint compreende quatro componentes principais:
  • Posição do Corpo;
  • Ação das Pernas;
  • Ação dos Braços; e 
  • Dorsiflexão do Tornozelo.
E também, mas não menos importante estão os aspectos anatômicos e fisiológicos. A velocidade de contração do músculo é, em geral, dependente da disponibilidade de fibras de contração rápida ou fibras do tipo II. As diferentes performances no setor da capacidade de aceleração justificam-se por características genéticas e por fatores coordenativos, mas, sobretudo, por diferentes níveis iniciais de força máxima. A velocidade máxima do jogador de futebol depende muito do tipo e da quantidade de reserva de energia da sua musculatura de trabalho (membros inferiores), tanto quanto da sua possível velocidade de mobilização. Cientificamente, a capacidade alática pode ser verificada por meio da velocidade da corrida, em um nível de 6 mmol/l de lactato. Nesse ponto, jogadores que produzem pouco lactato em performance de sprints curtos demonstram alta capacidade alática ou, então, capacidade de performance de sprint (HELLWIG, et al., 1988 apud WEINECK, 2000 p. 383). 

Destarte, a corrida em alta velocidade (sprint) representa um parâmetro sobre o qual podemos agir para reduzir o risco de lesão no grupo muscular isquiotibiais. Devemos estar atentos a cinemática da corrida, como por exemplo, maior inclinação pélvica anterior e flexão lateral torácica durante a fase de balanço e cinética com menor capacidade de produção de força horizontal durante o sprint estão associados a maior risco de lesão dos isquiotibiais. Outra coisa, um treinamento de resistência de velocidade realizado mais de uma vez por semana piora a resistência aeróbia, ocorrendo o mesmo com as qualidades de velocidade e força rápida. Posteriormente, a exposição ideal a máxima ou quase máxima a velocidade de corrida é sugerida como um fator de proteção. Uma vez que, um aumento agudo e rápido no volume de corrida está associado a lesões nos isquiotibiais, a falta de treinamento de sprint regulamentar e preparatório pode induzir um maior risco de lesões relacionadas ao sprint (EDOUARD, et. al., 2022).

Isto posto, o sprint não é herói e muito menos vilão, ele pode ser os dois! O futebol se atualizou e uma das suas principais características é o aumento das ações em alta velocidade e muitas vezes isso deixa as comissões técnicas em xeque, fazendo com que estes evitem expor seus jogadores as ações de sprint durante as sessões de treinamento. Para solucionar este problema a questão sempre será a quantidade e a qualidade da exposição, juntamente com as individualidades de cada jogador (força dos isquiotibiais; minutagem; tipos de fibras musculares).

Boa semana!

Referências

BROOKS, JH. FULLER, CW. KEMP, SP, REDDIN, DB. Incidence, risk, and prevention of hamstring muscle injuries in professional rugby union. Am J Sports Med. 2006 Aug;34(8):1297-306. doi: 10.1177/0363546505286022. Epub 2006 Feb 21. PMID: 16493170.

EDOUARD, P., MENDIGUCHIA, J., GUEX, K., LAHTI, J., CAROLINE, P.,  SAMOZINO, P., MORIN, JB. Sprinting: a key piece of  the hamstring injury risk management puzzle. British Journal of Sports Medicine, 08:04, 2022.

FAUDE, Oliver; KOCH, Thorsten & MEYER, Tim. Straight sprinting is the most frequent action in goal situations in professional football. Journal of Sports Sciences, 30:7, 625-631, 2012.

SHAH S, COLLINS K, MACGREGOR LJ. The Influence of Weekly Sprint Volume and Maximal Velocity Exposures on Eccentric Hamstring Strength in Professional Football Players. Sports (Basel), 2022.

WEINECK, Jürgen. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos, SP: Phorte, 2000.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

RECUPERAR TREINANDO E TREINAR RECUPERANDO

 

Fig. 1 Morfociclo Padrão com jogos aos domingos
Adaptado de TAMARIT, 2013.

Em se tratando de futebol um dos assuntos mais comentados é sobre essa operacionalização dos dias entre treinos e jogos nas competições. Pois, no nosso país temos um calendário congestionado e por sua extensão territorial (um país continental) dificulta ainda mais essa questão.

Como a figura 1 nos mostra, temos os dias de uma semana civil para operacionalizar os treinos e tentar garantir aquisição e evolução a equipe quando os jogos são aos domingos. Neste caso específico vamos tratar da seguinte forma, o jogo aconteceu no domingo, então no dia +1 (segunda-feira no caso), a recuperação será passiva, pois, um fator muito importante é a fadiga mental. Destarte, tanto técnico como jogadores normalmente no dia após o jogo ainda estão fadigados mentalmente (principalmente após um resultado adverso) e o trabalho não será no mais alto nível.

Vamos nos debruçar nessa publicação sobre o dia +2 (terça-feira). A unidade de treino conta ainda com um regime de recuperação. Desta forma, os jogadores ainda se encontram em um processo de recuperação em relação ao jogo passado, o objetivo desse dia é que se recuperem em especificidade. 

Um exemplo prático será mostrado na sequência:

Campograma 1

Um jogo 10 VS 6 (nos 10 estarão os jogadores que mais atuaram durante a partida de domingo), nos 6 estarão jogadores que atuarão menos durante a partida e/ou não atuarão. A equipe em superioridade numérica tem o objetivo de circular a bola e realizar movimentações para que a bola chegue até um companheiro que está mais à frente e a conduza após a linha demarcatória sofrendo oposição dos jogadores em inferioridade numérica (azuis) que realizarão marcação da saída de bola. O objetivo do trabalho está diretamente ligado a Subprincípios que a equipe deve melhorar devido à partida anterior (bem ou mal) e o que prevemos que acontecerá na próxima partida. 

Quanto ao tempo de estímulo deve ser curto, justamente para mobilizar os aspectos bioenergéticos necessários por meio da síntese do ATP-PCr e os intervalos de recuperação são primordiais para garantir a adequada ressíntese do ATP-PCr oriunda do metabolismo aeróbio, de modo que os jogadores estejam em estados ótimos para desempenhar as repetições subsequentes dos trabalhos. Para que os jogadores se recuperem em especificidade, o padrão dos tipos de contrações musculares não deve representar um elevado nível de tensão, duração e velocidade (já para à equipe em inferioridade numérica isso será no caminho inverso). Nessa sessão de trabalho, ela deve assumir uma característica mais descontínua, com tempos menores de exercitação e intervalos de recuperação maiores. Pois, se esse perfil não for respeitado, não haverá garantia de que o metabolismo dominante seja, de fato, o anaeróbio aláctico. O objetivo é otimizar a relação entre exercitação/recuperação, de maneira a maximizar a coordenação metabólica entre a síntese e a ressíntese do ATP, de modo que os jogadores tenham a matriz de jogo incorporada em especificidade com os conjuntos de tomadas de decisão eficazes em relação aos princípios e aos subprincípios de jogo (mas nesse dia de forma menos complexa) (PIVETTI, 2012).

Nessa sessão de trabalho utilizaremos de 3 a 5 exercícios com duração de 10 a 15 minutos cada. 

Sempre buscando a harmonia entre recuperar treinando e treinar recuperando.

Boa semana!

TAMARIT, Xavier. Periodización Táctica VS Periodización Táctica: Vítor Frade aclara, MBF, 2013

PIVETTI, Bruno. Periodização tática: o futebol arte alicerçado por critérios. São Paulo: Porte, 2012.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

GESTÃO DOS BINÔMIOS ESFORÇO DESEMPENHO / ESFORÇO RECUPERAÇÃO NO FUTEBOL


Fig. 1: Morfociclo Padrão com Jogos aos Domingos
Adaptado de Tamarit, 2013.

Qual é a quantidade de esforço para as cadeias musculares dos membros inferiores durante o treinamento que eu programei? Qual é a qualidade desse trabalho? Após essa tarefa, qual o próximo treinamento posso desenvolver sem agravar a fadiga?

Com base nessas três questões quero levantar um debate sobre a gestão dos binômios esforço desempenho/esforço recuperação com você leitor. 

No futebol e em qualquer outra atividade física desportiva, treinamos para melhorar a forma de adaptação. E, segundo a teoria e metodologia do treinamento desportivo, temos diferentes tipos de adaptação:
  1.  Fenômenos de adaptação morfológicos;
  2. Adaptações biopositivas e bionegativas;
  3. Sistemas de adaptação rápida e lenta;
  4. Adaptações específicas e não especifícas.
Neste caso específico, vamos nos ater no item 2, adaptações biopositivas e bionegativas. Segundo Weineck,  2005, p. 14:
... se os estímulos forem apresentados qualitativa e quantitativamente de forma - observando-se a capacidade de receber carga de cada sistema biológico -, resulta uma melhora da capacidade de desempenho, pela formação de novas estruturas de suporte (adaptação biopositiva), mais propícias a um bom desempenho. Um excesso de estímulos, por outro lado, leva a uma adaptação bionegativa - também chamada de má adaptação - e apresenta uma exigência exagerada do sistema, com momento de prejuízo.

Se não soubermos quantificar a dosagem do esforço que uma atividade terá sobre a musculatura exigida, poderemos causar uma adaptação bionegativa no jogador se, não dermos o tempo de descanso necessário para essa musculatura.

Fig. 2: Supercompesação

Na figura acima podemos observar isso no sistema muscular (a) no sistema ligamentar e de sustentação (b) e após uma recuperação incompleta (c). Se isso não for respeitado, muito provavelmente os jogadores estarão trabalhando sempre em um processo aquém do que seriam capazes. Destarte, derrotas começam a surgir e o que se faz, aumentam as demandas físicas de trabalho.

Se estamos tratando do tema gestão dos binômios esforço desempenho/esforço recuperação, temos que comentar sobre o tempo, correto? Segundo Prigogine (2002, p. 21) "o reaparecimento do paradoxo tempo deve-se essencialmente a dois tipos de descobertas. O primeiro consiste na descoberta das estruturas de não equilíbrio, também chamadas de 'dissipativas'. (...)". A estrutura dissipativa só existe quando o sistema dissipa energia e permanece em interação com o mundo exterior, é isso que ocorre quando se pratica futebol. O sistema busca equilíbrio e as atividades que propomos causam desequilíbrios ao sistema (fadiga). Assim surge, outro fenômeno, o da auto-organização. De acordo com Morin (2013, p. 282-283) o fenômeno da auto-organização refere-se à aptidão de um sistema para criar novas estruturas e estabelecer um nível novo de ordem e organização, após sofrer perturbações aleatórias, de maneira que quanto mais complexos forem os comportamentos do sistema, mais ele manifestará capacidade para se adaptar em relação ao entorno.

Trabalhar o entorno, não é mudar de terreno, mas, ter a percepção de que, a movimentação dos jogadores da sua equipe e da equipe contrária como condicionantes da atuação individual do futebolista, pois, os princípios dinâmicos da tomada de decisão e de como esta surge da interação entre neurônios interconectados, se baseiam em modelos em que a decisão se associa a uma transição entre atratores, ou estados estáveis, da rede. Esta transição entre estados é induzida por "inputs" seletivos associados a um estímulo, que modifica a paisagem dos atratores do sistema, favorecendo a transição entre o atrator neutro e um atrator seletivo, associado a uma escolha categórica (MARTI ORTEGA apud POL, 2013, p. 25). E, esse processo desgasta mais do que apenas o aspecto físico. 

Apoiados na figura 1, temos o Morfociclo Padrão da metodologia de treino Periodização Tática e nele, temos o Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade que será fundamental para entender, em parte, a essência da Periodização Tática quanto a dimensão física, se diferenciando da lógica convencional. Vítor Frade (apud TAMARIT, 2013, p. 44),
... o esforço advém de você ter que contrair músculos, ter que se mover e, por tanto, como há três indicadores que caracterizam o modo de manifestação das contrações musculares e sendo diverso o modo em relação ao prolongamento de suas manifestações e a sua fadiga, então há que calibrar bem. É a garantia de extremar ou maximizar, diagnosticando assim, em um dia um desses indicadores, no outro dia esse não, e no outro, outro. 
Fig. 3: Contrações das cadeias musculares dominantes
Adaptado de Guilherme Oliveira, 2010

Para Jorge Maciel (apud TAMARIT, 2013, p. 45) "a diferença dos regimes de desempenho envolvidos nos diferentes dias se faz levando em conta a fractalização das várias dimensões que compõe o jogar".

As contrações musculares se caracterizam por sua duração, velocidade e tensão. É sabido que durante todo exercício estas três interagem de maneira conjunta e sistemática, também sabemos que algumas aumentam sua dominância perante outras dependendo das ações (objetivos dos treinos de futebol) que se realizam (TAMARIT, 2013).  

Jorge Maciel (apud TAMARIT, 2013, p. 46) faz um relato sobre esse princípio de treino, assim, "se trata de uma alternância horizontal por se referir a necessidade de variação dos contornos do jogar e da gestão dos binômios Esforço Desempenho e Esforço Recuperação, que devem ser verificados ao longo dos vários dias que compõe o Morfociclo." 

Doravante, Frade (apud TAMARIT, 2013, p. 131) nos alerta para o estado de falência circunstancial do funcionamento de qualquer átomo ou de qualquer órgão é um estado de parabiose. Este é um processo que relata a união de elementos vivos. Neste caso, representa os estímulos qualitativos do treinamento e com o propósito de articulação que este fenômeno desencadeia, após a desestruturação gerada, faz emergir uma determinada engendração conforme o estímulo que a motivou. Se trata de um processo de auto-organização que concebe o organismo e suas partes constituintes como estruturas dissipativas susceptíveis para aspirarem níveis de complexidade crescentes. Em si, não se respeitando isso, ocorrerá a "paranecrose" (FRADE apud TAMARIT, 2013, p. 131) que é o fenômeno análogo do descrito na parabiose, pois seus efeitos, pela diferença qualitativa há nível de estímulo, pela não devida contemplação do tempo de recuperação, motiva a morte dos elementos vivos, e sua consequente perda de complexidade por parte do sistema.

Em suma, olhando para esse cenário de gestão dos binômios de esforço desempenho e esforço recuperação é importante entender que, após três dias depois da partida a equipe não está totalmente recuperada, desta forma, as atividades programadas devem ser pensadas para não agravar o processo de recuperação. Deve-se privilegiar contrações musculares com aumento significativo da tensão, mas sem esquecer de recuperar (muito descontínuo). Deve haver um grande número de contrações excêntricas (isso logicamente para aquele grupo de jogadores que jogou a maior parte do tempo da partida). Para os outros, isso será assunto para outro dia.

Boa semana!

Referências

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 15 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

PRIGOGINE, Ilya. As leis do caos. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

POL, Rafel. La Preparación Física en el fútbol. El processo de entrenamiento desde las ciencias de la complejidad. MC Sports, 2013.

TAMARIT, Xavier. Periodización Táctica VS Periodización Táctica: Vítor Frade aclara. MBF, 2013.

WEINECK, Jürgen. Biologia do Esporte. 7 ed. Barueri - SP: Manole, 2005. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

MODELO DE CARGAS SELETIVAS VS PERIODIZAÇÃO TÁTICA

Fig. 1 Antônio Carlos Gomes (esquerda) Vítor Frade (direita) 

(...) O êxito no futebol tem mil receitas. O treinador deve crer numa, e com ela seduzir os seus jogadores.
Valdano
Em se tratando de futebol não podemos deixar de pensar nas várias formas de se preparar/treinar. 

No Brasil foi criado um modelo de periodização (Prof.: Dr. Antônio Carlos Gomes) para atender o calendário dos desportos coletivos, principalmente, o futebol, que, por apresentar uma grande quantidade de jogos na temporada, dificulta a distribuição das cargas de treinamento no macrociclo. O modelo nasce em virtude de o futebol não apresentar tempo hábil (grande reclamação dos treinadores no início do ano) para uma boa preparação dos jogadores antes do início da temporada (GOMES, 2009).

Como os jogos desportos coletivos de invasão (JDCI), de forma geral, não exigem o desenvolvimento das capacidades máximas e, sim, submáximas, nos últimos anos, foi elaborado um modelo de organização de cargas na temporada que permanece durante todo o ciclo com o volume inalterado, procurando uma forma de qualificação durante toda a temporada e alternando as capacidades de treinamento a cada mês durante o ciclo competitivo (GOMES, 2009).

No Modelo de Cargas Seletivas, o principal alvo do aperfeiçoamento no treinamento está nas capacidades de velocidade. Pois, na prática, verifica-se que o ciclo anual de 52 semanas deve ser subdividido em duas etapas, caracterizando, assim, uma periodização dupla com duração de 26 semanas cada (GOMES, 2009).

Com esse sistema, o volume do treinamento oscila muito pouco durante todo o ciclo anual de competições; consequentemente, a forma desportiva apresenta uma tendência de melhora durante toda a etapa, diminuindo na fase de pré-temporada em razão de uma pequena redução do volume no início da segunda etapa competitiva. O período competitivo no futebol varia de 8 a 10 meses no ano, com uma quantidade de 75 a 85 jogos na temporada (GOMES, 2009).
 
A essência da prática do futebol, não exige o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das capacidades físicas no seu máximo. Por outro lado, trata-se de um desporto que, na sua atividade competitiva, caracteriza-se pelos esforços intermitentes executados em velocidade, com alto volume de diversas capacidades físicas e que exige capacidade anaeróbica e aeróbica (mista). Além da força e da resistência especial, utiliza também a flexibilidade para a execução dos movimentos técnicos exigidos pelo jogo (GOMES, 2009). O autor segue relatando que:
No futebol moderno, o técnico tem dificuldades de prescrever o conteúdo do treinamento, pois o calendário apresenta uma grande quantidade de jogos em âmbito regional, nacional e internacional que devem ser disputados com alto rendimento devido aos sistemas utilizados na classificação.

Em Portugal Vítor Frade criou uma outra forma de periodizar/organizar o treinamento de futebol, a Periodização Tática. Para esse autor o futebol é um jogo de dinâmicas cuja invariante estrutural é a Interação. Partindo desta perspectiva, o jogar é uma totalidade que resulta das interações dos jogadores e por isso, não deve ser interpretado como um somatório de acontecimentos aleatórios porque se inscreve num contexto coletivo. 

E quando nos referimos a Periodização Tática, não podemos esquecer que esta metodologia de treinamento em futebol, é norteada pelo Modelo de Jogo. E, o Modelo de Jogo em futebol é normalmente mal entendido. Muitos falam dele como sendo, o Sistema ou Esquema de Jogo empregado, ou, distribuição inicial adotada pelos jogadores no terreno de jogo (TAMARIT, 2007).

Corroboro com Tamarit (2007) que o Modelo de Jogo é muito mais do que isso. O autor cita uma definição de Portolés (2007) para explicar melhor o conceito de Modelo de Jogo:

[...] um Modelo de Jogo é algo que identifica uma equipe determinada. Não é só um Sistema de Jogo, não é o posicionamento dos jogadores, mas, é a forma como esses jogadores se relacionam entre si e como expressam sua forma de como veem o futebol.

Destarte, significa dizer que, o Modelo de Jogo é uma visão futura do que pretendemos que a nossa equipe realize de forma regular nos diferentes momentos do jogo (Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização Defensiva e Transição Ofensiva).

Assim, a natureza do jogo caracteriza-se pela dinâmica das relações de cooperação dos colegas da equipe para transcender os próprios adversários e por isso, os problemas que se colocam às equipes e jogadores são de natureza tática (Frade, 1989 apud Gomes, 2006). Através deste conceito, enaltecemos que a adequabilidade da decisão é fundamental para resolver as dificuldades impostas pelo adversário e por isso, as exigências coletivas e individuais que se colocam são de ordem tático-técnicas, e não, técnico-tático, como sempre escutamos (GOMES, 2006). 

Em relação ao Modelo de Cargas Seletivas, o seu criador Prof.: Dr. Antônio Carlos Gomes (2009), relata que:

Os exercícios técnicos e os táticos devem estar inseridos em todo o processo do treinamento, destinando a maior parte do tempo a essas ações, pois é nelas que ocorrerá o aperfeiçoamento ótimo das capacidades competitivas do desportista.

Percebe-se com esta citação que, o autor tem preocupação de que seu método não seja descontextualizado da especificidade do jogo. Mas, não existe nenhuma referência ao Modelo de Jogo. Só referências específicas sobre as capacidades físicas que os jogadores de futebol devem ter para conseguirem vencer a maratona de jogos da temporada. Isso, de certa forma, nos remete a dicotomia que ainda insiste em se fazer presente no futebol entre o treinador e o preparador físico. Onde um só entende da parte "tática" e o outro só da "física".

Em contrapartida, quando ouvimos relatos sobre a Periodização Tática, ainda observo certa resistência por parte de alguns profissionais. Mas, para que possamos compreender melhor esta metodologia de treinamento específica para o futebol, pensando em organização coletiva, Vítor Frade (in Martins, 2003) revela que, a tática resulta deste conceito de Organização e por isso, compreende uma determinada expressão física, técnica e psicológica. Sendo assim, a Tática subentende o desenvolvimento dos princípios de ação da equipe que induzem a adaptações concretas a nível físico, técnico e psicológico. Gomes (2006), nos mostra que, face a este entendimento percebemos que a exacerbação física tem um papel subjugado ao desenvolvimento das relações entre os jogadores para assim, criar uma entidade coletiva e, portanto, uma organização. Deste modo, esta concepção desafia a Teoria Convencional do Treino uma vez que está se preocupa fundamentalmente com as aquisições físicas dos jogadores em detrimento de um entendimento coletivo e das relações que o constituem. E, nisto se enquadra o Modelo de Jogo. O Modelo de Jogo confere um determinado sentido ao desenvolvimento do processo face a um conjunto de regularidades que se pretendem observar. Deste modo, o modelo permite responder à questão: para onde vamos? A pertinência desta questão parece-nos fundamental para desenvolver um processo direcionado para um determinado JOGAR, ou seja, para um processo intencional. A partir dele criam-se um conjunto de referências que definem a organização da equipe e jogadores nos vários momentos do jogo. Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos princípios coletivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido, trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer (Gomes, 2006). 

Ao analisar os dois modelos de treinamento criados para periodizar a performance em futebol, podemos dizer que a primeira (Modelo de Cargas Seletivas) está diretamente preocupado com o caráter físico do jogador e a segunda (Periodização Tática) está preocupado com um JOGAR ESPECÍFICO perspectivado pelo Modelo de Jogo, onde, o técnico assume essa responsabilidade de operacioná-lo durante a semana com o Morfociclo Padrão, que é utilizado da segunda semana de trabalho até a última e, não durante um microciclo, mesociclo ou macrociclo anual. Quanto ao preparador físico nesse cenário, o Modelo de Cargas Seletivas parece ser um terreno mais habitual (não que, não haja trabalhos com bola, muito pelo contrário), mas por se tratar de um conteúdo com o qual estamos mais familiarizados, tanto na graduação como nos cursos de especializações/extensões. Na Periodização Tática, ele precisa estar em sintomia e compreender a ideia de jogo do treinador (o seu pensamento sobre futebol), para que possa trabalhar em conjunto nos aspectos táticos e técnicos e criar exercícios que vão ao encontro dos objetivos do treinador. Sempre deixando bem claro quais são os objetivos do exercício e buscando treinar na intensidade do jogo que se propõe a realizar durante os jogos e campeonato.

Mas, temos que ter em mente que, são apenas duas formas de treinar o futebol e, claro que as duas obtêm resultados, mas, a forma de operacionalização de cada uma é totalmente diferente. Uma pautada na física e a outra, pautada no fractal, na complexidade. Que é normal causar estranheza.

Boa semana!

Referências

GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GOMES, M. S. Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés Dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - um estudo de caso- Porto, 2006.

MARTINS, F. A "Periodização Táctica" segundo Vítor Frade: Mais do que um conceito, uma forma de estar e de reflectir o futebol. FCDEF-UP. Porto, 2003.


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

VBT NO FUTEBOL

Fig. 1 - Jump Squat

O treinamento baseado em velocidade (do inglês, Velocity Based Training - VBT) é um método para avaliar a intensidade de um determinado movimento através do cálculo do deslocamento e do tempo através do monitoramento da velocidade da barra ou do corpo. Por muitos anos, o método padrão usados pelos preparadores físicos era determinar o peso dessa carga com base em uma porcentagem de uma repetição máxima (1RM). O VBT, por outro lado, é baseado na velocidade de um movimento ou carga levantada (SIGNORE, 2022).

Pesquisa na Espanha revelou algumas descobertas importantes sobre alguns dos benefícios do VBT (GONZÁLEZ-BADILLO e SÁNCHEZ-MEDINA, 2010):
  • As pessoas que treinam com velocidade máxima durante a fase concêntrica de um levantamento ou movimento obtêm melhores resultados de força e potência do que aquelas que não treinam com a velocidade máxima pretendida.
  • A velocidade diminui de forma bastante linear em um conjunto de exercícios tradicionais de treinamento de força, como supino e agachamento. 
  • A velocidade está intimamente relacionada com a porcentagem do 1RM.
O princípio da Adaptação Específica das Demandas Impostas (do inglês, Specific Adaptation of the Imposed Demands SAID) afirma que o treinamento deve criar adaptação ou característica necessária para se destacar no esporte desejado. No entanto, o tipo de adaptação necessária muda mês para mês e de atleta para atleta com base na composição anatômica. Uma das principais vantagens do VBT é a capacidade de atletas e preparadores físicos garantirem que a característica desejada que estão tentando alcançar esteja em desenvolvimento. Cada tipo de força ou característica tem uma velocidade. Se não estamos treinando na zona necessária ou velocidade desejada, então não estamos desenvolvendo força ou característica que estamos perseguindo. É aqui que entram em jogo as zonas de força especiais, vide figura 2 (SIGNORE, 2022). 

Fig. 2 - Os tipos de força e onde elas se localizam na curva de Força - Velocidade
adaptado de Signore, 2022

O VBT é uma realidade quando o assunto é treinamento de força no futebol. Pois segundo Loturco, et al, 2015, o agachamento com salto (do inglês, Jump Squat, figura 1) é um dos exercícios mais utilizados para melhorar a produção de potência da parte inferior do corpo, o que influencia no desempenho esportivo. O treinamento de força/potência e velocidade para a melhora do desempenho no futebol necessita de um volume baixo, velocidade alta (aproximadamente 1m/s). Conforme na figura 2, o que corresponde na curva força/velocidade a característica de velocidade-força, importantíssima para a prática do futebol e se encaixa perfeitamente na rotina diária de treinamentos. O treinamento com velocidades altas é a forma mais efetiva para se aumentar a potência e a velocidade, sendo também efetivo para o aumento da força (MORRISSEY, et al, 1998). A execução de repetições em altas velocidades impõe demandas metabólicas menores em exercícios tais como extensões de joelho, agachamento, remada e rosca bíceps, em comparação com a execução de repetições com velocidades baixas ou moderadas (BALLOR et al, 1987). Destarte, o treinamento para potência é executado de melhor forma com cargas leves (entre 30%  - 40%  do peso corporal) em velocidades máximas (WILSON et al, 1993). Cenário perfeito tanto para o pré-treino em academia como exercícios no campo durante um morfociclo.

Comenta aqui qual a sua experiência com o VBT. E se você ainda não utiliza, vale muito a pena começar.

Boa semana!

Referências

SIGNORE, N. Velocity Based Training: how to apply science, technology, and data to maximize performance. Champaign, IL: Human Kinetics, 2022.

GONZÁLEZ-BADILLO, J.J, and SÁNCHEZ-MEDINA, L. 2010. Movement velocity as a measure of loading intensity in resistance training. International Journal of Sports Medicine. 31(5):347-352. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19966589.

LOTURCO, I. et, al. 2015. Determining the Optimum Power Load in Jump Squat using the mean propulsive velocity. PLoS ONE 10:(10):e0140102. https://www.narsp.com.br 

MORRISSEY, M.C., et al. 1998. Early phase differential effects of slow and fast barbell squat training. American Journal of Sports Medicine 26: 221-230.

BALLOR, D.L. et al. 1987. Metabolic responses during hydraulic resistance exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 19: 363-367.

WILSON, G.J., et al. 1993. The opyimal training load for the development of dynamic athletic performane. Medicine and Science in Sports and Exercise 25: 1279-1286.