Fig. 2: Velocidade de movimentos sem bola e suas subcategorias em relação às ações em campo. Adaptado de Weineck, 2000
Os exemplos práticos que podemos elencar quanto a velocidade de movimento acíclica no futebol são: - Movimentos de frenagem (parada);
- Fintas de corpo (gato);
- Saltos;
- Giros; e
- Mudança de direção (CoD).
Na velocidade de movimentos cíclicos, teremos:- Corrida para a bola e/ou adversário;
- Soltar-se/desprender do adversário;
- Corrida com salto e/ou cabeceio; e
- Corrida do goleiro para saltar e defender o gol.
Basicamente a definição de sprint é a capacidade de aceleração em curtas distâncias. Ao lado da resistência aeróbia e da anaeróbia, a capacidade de sprint representa no futebol a capacidade física de maior importância. Pois, os jogadores que marcaram gols realizam sprints cíclicos (lineares) em 45% destas ações, sendo na sua maioria sem adversários e sem posse de bola (FAUDE, et al., 2012). Essas ações na sua grande maioria acontecem em até 25 metros.
Outro fator de extrema relevância para o futebol relacionado ao sprint é que, essa ação é o principal mecanismo de lesão muscular no futebol. Série de estudos comprovaram que a maioria das lesões de 61% a 68% que ocorrem no grupo muscular isquiotibiais acontecem durante um sprint (ação de alta intensidade) (BROOKS, et al., 2006).
Os isquiotibiais desempenham um papel crucial na produção de força horizontal e na absorção de energia e, portanto, são um grupo muscular fundamental ao correr em altas velocidades. Durante a corrida, os isquiotibiais são altamente ativados na fase inicial de apoio, onde ocorre o contato inicial e, em particular, durante a fase final do balanço. Durante a fase final do balanço, a ativação dos isquiotibiais é duas a três vezes maior do que nas fases iniciais da corrida (fase de aceleração e velocidade absoluta). Os isquiotibiais sofrem contração excêntrica durante esta fase, que envolve o alongamento dos músculos durante a contração e a absorção do trabalho mecânico que está sendo concluído (SHAH, et al. 2022).
De acordo com a terceira lei de Newton, toda ação apresenta uma reação igual e oposta. Como o sprint não é uma habilidade natural e sim uma habilidade adquirida, não podemos apenas querer que nossos jogadores corram em altas velocidades sem antes auxiliá-los a aplicar a força de maneira adequada no solo e esperar que ele te devolva uma força igual e proveitosa. Embora existam várias sutilezas biomecânicas envolvidas, o sprint compreende quatro componentes principais: - Posição do Corpo;
- Ação das Pernas;
- Ação dos Braços; e
- Dorsiflexão do Tornozelo.
E também, mas não menos importante estão os aspectos anatômicos e fisiológicos. A velocidade de contração do músculo é, em geral, dependente da disponibilidade de fibras de contração rápida ou fibras do tipo II. As diferentes performances no setor da capacidade de aceleração justificam-se por características genéticas e por fatores coordenativos, mas, sobretudo, por diferentes níveis iniciais de força máxima. A velocidade máxima do jogador de futebol depende muito do tipo e da quantidade de reserva de energia da sua musculatura de trabalho (membros inferiores), tanto quanto da sua possível velocidade de mobilização. Cientificamente, a capacidade alática pode ser verificada por meio da velocidade da corrida, em um nível de 6 mmol/l de lactato. Nesse ponto, jogadores que produzem pouco lactato em performance de sprints curtos demonstram alta capacidade alática ou, então, capacidade de performance de sprint (HELLWIG, et al., 1988 apud WEINECK, 2000 p. 383).
Destarte, a corrida em alta velocidade (sprint) representa um parâmetro sobre o qual podemos agir para reduzir o risco de lesão no grupo muscular isquiotibiais. Devemos estar atentos a cinemática da corrida, como por exemplo, maior inclinação pélvica anterior e flexão lateral torácica durante a fase de balanço e cinética com menor capacidade de produção de força horizontal durante o sprint estão associados a maior risco de lesão dos isquiotibiais. Outra coisa, um treinamento de resistência de velocidade realizado mais de uma vez por semana piora a resistência aeróbia, ocorrendo o mesmo com as qualidades de velocidade e força rápida. Posteriormente, a exposição ideal a máxima ou quase máxima a velocidade de corrida é sugerida como um fator de proteção. Uma vez que, um aumento agudo e rápido no volume de corrida está associado a lesões nos isquiotibiais, a falta de treinamento de sprint regulamentar e preparatório pode induzir um maior risco de lesões relacionadas ao sprint (EDOUARD, et. al., 2022).
Isto posto, o sprint não é herói e muito menos vilão, ele pode ser os dois! O futebol se atualizou e uma das suas principais características é o aumento das ações em alta velocidade e muitas vezes isso deixa as comissões técnicas em xeque, fazendo com que estes evitem expor seus jogadores as ações de sprint durante as sessões de treinamento. Para solucionar este problema a questão sempre será a quantidade e a qualidade da exposição, juntamente com as individualidades de cada jogador (força dos isquiotibiais; minutagem; tipos de fibras musculares).
Boa semana!
Referências
BROOKS, JH. FULLER, CW. KEMP, SP, REDDIN, DB. Incidence, risk, and prevention of hamstring muscle injuries in professional rugby union. Am J Sports Med. 2006 Aug;34(8):1297-306. doi: 10.1177/0363546505286022. Epub 2006 Feb 21. PMID: 16493170.
EDOUARD, P., MENDIGUCHIA, J., GUEX, K., LAHTI, J., CAROLINE, P., SAMOZINO, P., MORIN, JB. Sprinting: a key piece of the hamstring injury risk management puzzle. British Journal of Sports Medicine, 08:04, 2022.
FAUDE, Oliver; KOCH, Thorsten & MEYER, Tim. Straight sprinting is the most frequent action in goal situations in professional football. Journal of Sports Sciences, 30:7, 625-631, 2012.
SHAH S, COLLINS K, MACGREGOR LJ. The Influence of Weekly Sprint Volume and Maximal Velocity Exposures on Eccentric Hamstring Strength in Professional Football Players. Sports (Basel), 2022.
WEINECK, Jürgen. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos, SP: Phorte, 2000. |
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