Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

LIMITES DO EXERCÍCIO NO CALOR

 


Começou a vigésima segunda Copa do Mundo FIFA 2022. Desta vez ela será disputada pela primeira vez no Oriente Média. Onde o clima é predominantemente árido e semiárido, localizam-se nessa área grandes desertos. Em novembro no país a temperatura média será em torno dos 27º C e 30º C.

Na biologia, diferencia-se, no que diz respeito à temperatura corporal, entre os animais de sangue quente (homotérmicos) e os de sangue frio (pecilotérmicos). Os homotérmicos possuem uma temperatura corporal relativamente independente das temperaturas do meio ambiente. 

Durante situações de sobrecarga, por exemplo, em temperaturas altas e/ou durante atividades físicas, ocorre no corpo um aumento da produção de calor, que é compensado principalmente pelo mecanismo de perda de calor da evaporação ou pela vasodilatação periférica (WEINECK, 2005).

É inegável que o exercício aumenta as demandas no sistema cardiovascular. Somando-se a isso a necessidade de regular a temperatura corporal durante o exercício no calor, o sistema cardiovascular pode ficar sobrecarregado. Nesse cenário, o sistema cardiovascular precisa continuar levando o sangue não apenas até os músculos que estão trabalhando, mas também até a pele, de onde o calor gerado nos músculos pode ser transferido para o ambiente (KENNEY, WILMORE & COSTILL, 2013).

Em temperaturas extremamente altas e/ou durante o exercício físico esportivo, observa-se perdas de fluido, por meio da sudorese, principalmente à custa do plasma. Por isso, quando há um alto déficit de líquido, não ocorre apenas uma crescente limitação da capacidade termorregulatória, cada vez há menos água disponível para fins de evaporação, mas também ocorrem alterações no metabolismo e nas reservas de água e eletrólitos, o que acarreta uma progressiva limitação da capacidade de desempenho físico/desportivo (WEINECK, 2005).

Segundo o portal da CNN Brasil, 73,76% dos jogadores convocados para atuarem na Copa do Catar atuam na Europa (Mais de 70% dos atletas convocados para a Copa de 2022 jogam na Europa (cnnbrasil.com.br). Isso nos mostra que, a grande maioria dos atletas pratica o futebol em temperaturas muito menores do que em Doha na sua grande maioria do tempo. 

Enquanto está realizando um exercício intenso (como uma partida da Copa do Mundo) em condições quentes, o corpo pode perder mais de 1 L/h/m² de superfície corporal. Isso significa que, durante um esforço intenso em um dia quente e úmido (nível elevado de estresse térmico), um indivíduo de tamanho corporal médio (50 a 75 Kg) pode perder, por hora, cerca de 1,6 a 2,0 L de suor, ou 2,5 a 3,2% do peso corporal. A produção prolongada de um grande volume de suor diminui o volume sanguíneo. Isso limita o volume de sangue que retorna ao coração, aumentando a frequência cardíaca e diminuindo o débito cardíaco, o que, por sua vez, diminui o potencial de desempenho, particularmente no caso de resistência (KENNEY, WILMORE & COSTILL, 2013).

Foto 1: Jogadores da Inglaterra se refrescando em ventiladores. 
Fonte: Twitter

Dentre as limitações que podem acontecer com o exercício no calor estão:
  • Cãibras pelo calor;
  • Exaustão pelo calor.
O melhor e mais simples método para a reposição completa das perdas de água determinadas pela sudorese é a determinação de quantidade necessária de líquido correspondente à perda de peso corporal (aferição do peso corporal antes da partida, intervalo e ao término da partida). Também devem ser orientados e incentivados a evitar a perda de peso excessiva (>2%); ou seja, devem repor suas perdas de suor ou prevenir a desidratação, mas não devem consumir líquidos em excesso, a ponto de ganhar peso durante a competição. 

Boa semana!

Referências

WEINECK, Jürgen. Biologia do esporte. Barueri, SP: Manole, 2005.

KENNEY, L.; WILMORE, D; COSTILL, D. Fisiologia do esporte e do exercício. 5 ed. Barueri, SP: Manole, 2013.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

CAPACIDADE ALÁTICA NO JOGADOR DE FUTEBOL

Fig. 1: Analisador de Lactato Portátil

Um fator de suma importância que oferece suporte para as atividades em alta velocidade (sprints) é o fornecimento de energia muscular. 

Fig. 2: Sistemas Energéticos

Conforme a figura 2, a velocidade máxima do jogador de futebol depende muito do tipo e da quantidade de reserva de energia da sua musculatura de trabalho (pernas), tanto quanto da sua possível velocidade de mobilização. Tanto que, é nítido e notório que, a velocidade máxima diminui com o aumento da duração da corrida, já que diferentes combustíveis possibilitam diferentes taxas de fluxo de energia (energia liberada por unidade de tempo) (WEINECK, 2000).

Por se tratar de uma atividade física intermitente (intervalado) realizada por meio de exercícios de intensidade variada, o futebol apresenta um componente lático importante. A aferição do lactato no sangue tem sido um parâmetro metabólico frequentemente utilizado para quantificar a intensidade do esforço realizado pelo jogador, em virtude da característica anaeróbia a fonte de energia da fase lática é muita exigida. Para Bangsbo et al. (2007), os jogadores de futebol de elite têm alto nível de exigência aeróbia ao longo de um jogo e extensa demanda anaeróbia durante períodos de uma partida, levando à importantes mudanças metabólicas que podem contribuir para o desenvolvimento de fadiga observada durante e no final de um jogo. O rendimento do atleta de futebol está relacionado com a sua capacidade de tolerar elevadas taxas de reposição de ATP em um determinado período de tempo, por isso, é importante uma quantificação objetiva do desempenho anaeróbio.  O lactato, de acordo com McArdle (2003), não deve ser encarado como um produto de desgaste metabólico, e sim como uma fonte de energia que se acumula em virtude do exercício físico intenso, sendo este importante indicador de intensidade durante o jogo devido a sua variação de concentração sanguínea.

O ácido lático é produzido pelo organismo o dia todo, e não apenas quando praticamos exercícios físicos. Durante o transporte de oxigênio para as células musculares pelos glóbulos vermelhos, há produção dessa molécula como resíduo. Na circulação sanguínea, o ácido lático perde prótons, tornando-se uma molécula com carga negativa. Porém, ela pode se ligar a íons com carga positiva de outras substâncias, como o H+. Dessa forma, a molécula sofre uma mudança em sua estrutura, passando a se chamar lactato. É importante salientar que, na literatura, os termos lactato e ácido lático são frequentemente usados ​​de forma análoga, mas o lactato é estritamente uma base fraca, enquanto o ácido lático é o seu ácido correspondente. 

O aumento da produção e concentração de ácido lático após uma situação de hipóxia (sem a presença de oxigênio) é na verdade uma situação de exceção e não de regra, visto que a sua produção ocorre em situações de normóxia (taxas de oxigênio normais). Isso significa que o ácido lático é apenas uma molécula intermediária e suas implicações são irrelevantes para o metabolismo humano.

Durante os treinos, é preciso que a glicose seja metabolizada a fim de gerar energia química. Na primeira fase desse ciclo, o piruvato é formado lentamente e, depois, entra nas células, produzindo uma maior quantidade de energia, o que é feito em um maior intervalo de tempo. No entanto, em atividades físicas que demandam grande contingente de energia (sprints), por exemplo, o corpo precisa optar por uma via que produza energia mais rapidamente. Nesse caso, o lactato é formado. É importante salientar que, nesse caso, o fornecimento de energia ocorre sem a presença de oxigênio (metabolismo anaeróbico lático), visto que o suprimento de oxigênio nem sempre é o suficiente para finalizar as atividades físicas. O lactato se torna energia e desaparece. No entanto, o ácido H+ está presente na corrente sanguínea. O bicarbonato de sódio se une a esse íon, a fim de transformá-lo em água e gás carbônico. Em certas situações, o estoque de bicarbonato de sódio termina, deixando ácidos livres, o que pode gerar uma hiperacidez no meio extracelular, causando dor e desconforto durante ou logo após o exercício. Em alguns casos, o incômodo é tão grande que é preciso interromper a atividade física.

O fato de jogadores, mesmo no fim da partida, ainda poderem realizar performances de velocidade, de força rápida e de aceleração, relaciona-se com o ATP adquirido, em curto espaço de tempo, pelas reservas de creatina fosfato que foram ressintetizadas (sintetizar novamente). 

Jogadores que produzem pouco lactato em performance de sprints curtos demonstram alta capacidade alática ou, então, capacidade de performance de sprint. Destarte, o nível de capacidade de performance alática para a organização do treinamento em futebol tem um significado que não pode ser subestimado. 

Boa semana!

Referências

BANGSBO J, IAIA FM, KRUSTRUP, P. Metabolic response and fatigue in soccer. International Journal of Sports and Physiological Performance, 2(2):111-27, 2007.

MCARDLE, W.; KATCH, F.I.; KATCH, V.L; Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2003.

WEINECK, J. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos, SP: Phorte, 2000.


 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

RECUPERAR TREINANDO E TREINAR RECUPERANDO

 

Fig. 1 Morfociclo Padrão com jogos aos domingos
Adaptado de TAMARIT, 2013.

Em se tratando de futebol um dos assuntos mais comentados é sobre essa operacionalização dos dias entre treinos e jogos nas competições. Pois, no nosso país temos um calendário congestionado e por sua extensão territorial (um país continental) dificulta ainda mais essa questão.

Como a figura 1 nos mostra, temos os dias de uma semana civil para operacionalizar os treinos e tentar garantir aquisição e evolução a equipe quando os jogos são aos domingos. Neste caso específico vamos tratar da seguinte forma, o jogo aconteceu no domingo, então no dia +1 (segunda-feira no caso), a recuperação será passiva, pois, um fator muito importante é a fadiga mental. Destarte, tanto técnico como jogadores normalmente no dia após o jogo ainda estão fadigados mentalmente (principalmente após um resultado adverso) e o trabalho não será no mais alto nível.

Vamos nos debruçar nessa publicação sobre o dia +2 (terça-feira). A unidade de treino conta ainda com um regime de recuperação. Desta forma, os jogadores ainda se encontram em um processo de recuperação em relação ao jogo passado, o objetivo desse dia é que se recuperem em especificidade. 

Um exemplo prático será mostrado na sequência:

Campograma 1

Um jogo 10 VS 6 (nos 10 estarão os jogadores que mais atuaram durante a partida de domingo), nos 6 estarão jogadores que atuarão menos durante a partida e/ou não atuarão. A equipe em superioridade numérica tem o objetivo de circular a bola e realizar movimentações para que a bola chegue até um companheiro que está mais à frente e a conduza após a linha demarcatória sofrendo oposição dos jogadores em inferioridade numérica (azuis) que realizarão marcação da saída de bola. O objetivo do trabalho está diretamente ligado a Subprincípios que a equipe deve melhorar devido à partida anterior (bem ou mal) e o que prevemos que acontecerá na próxima partida. 

Quanto ao tempo de estímulo deve ser curto, justamente para mobilizar os aspectos bioenergéticos necessários por meio da síntese do ATP-PCr e os intervalos de recuperação são primordiais para garantir a adequada ressíntese do ATP-PCr oriunda do metabolismo aeróbio, de modo que os jogadores estejam em estados ótimos para desempenhar as repetições subsequentes dos trabalhos. Para que os jogadores se recuperem em especificidade, o padrão dos tipos de contrações musculares não deve representar um elevado nível de tensão, duração e velocidade (já para à equipe em inferioridade numérica isso será no caminho inverso). Nessa sessão de trabalho, ela deve assumir uma característica mais descontínua, com tempos menores de exercitação e intervalos de recuperação maiores. Pois, se esse perfil não for respeitado, não haverá garantia de que o metabolismo dominante seja, de fato, o anaeróbio aláctico. O objetivo é otimizar a relação entre exercitação/recuperação, de maneira a maximizar a coordenação metabólica entre a síntese e a ressíntese do ATP, de modo que os jogadores tenham a matriz de jogo incorporada em especificidade com os conjuntos de tomadas de decisão eficazes em relação aos princípios e aos subprincípios de jogo (mas nesse dia de forma menos complexa) (PIVETTI, 2012).

Nessa sessão de trabalho utilizaremos de 3 a 5 exercícios com duração de 10 a 15 minutos cada. 

Sempre buscando a harmonia entre recuperar treinando e treinar recuperando.

Boa semana!

TAMARIT, Xavier. Periodización Táctica VS Periodización Táctica: Vítor Frade aclara, MBF, 2013

PIVETTI, Bruno. Periodização tática: o futebol arte alicerçado por critérios. São Paulo: Porte, 2012.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

VBT NO FUTEBOL

Fig. 1 - Jump Squat

O treinamento baseado em velocidade (do inglês, Velocity Based Training - VBT) é um método para avaliar a intensidade de um determinado movimento através do cálculo do deslocamento e do tempo através do monitoramento da velocidade da barra ou do corpo. Por muitos anos, o método padrão usados pelos preparadores físicos era determinar o peso dessa carga com base em uma porcentagem de uma repetição máxima (1RM). O VBT, por outro lado, é baseado na velocidade de um movimento ou carga levantada (SIGNORE, 2022).

Pesquisa na Espanha revelou algumas descobertas importantes sobre alguns dos benefícios do VBT (GONZÁLEZ-BADILLO e SÁNCHEZ-MEDINA, 2010):
  • As pessoas que treinam com velocidade máxima durante a fase concêntrica de um levantamento ou movimento obtêm melhores resultados de força e potência do que aquelas que não treinam com a velocidade máxima pretendida.
  • A velocidade diminui de forma bastante linear em um conjunto de exercícios tradicionais de treinamento de força, como supino e agachamento. 
  • A velocidade está intimamente relacionada com a porcentagem do 1RM.
O princípio da Adaptação Específica das Demandas Impostas (do inglês, Specific Adaptation of the Imposed Demands SAID) afirma que o treinamento deve criar adaptação ou característica necessária para se destacar no esporte desejado. No entanto, o tipo de adaptação necessária muda mês para mês e de atleta para atleta com base na composição anatômica. Uma das principais vantagens do VBT é a capacidade de atletas e preparadores físicos garantirem que a característica desejada que estão tentando alcançar esteja em desenvolvimento. Cada tipo de força ou característica tem uma velocidade. Se não estamos treinando na zona necessária ou velocidade desejada, então não estamos desenvolvendo força ou característica que estamos perseguindo. É aqui que entram em jogo as zonas de força especiais, vide figura 2 (SIGNORE, 2022). 

Fig. 2 - Os tipos de força e onde elas se localizam na curva de Força - Velocidade
adaptado de Signore, 2022

O VBT é uma realidade quando o assunto é treinamento de força no futebol. Pois segundo Loturco, et al, 2015, o agachamento com salto (do inglês, Jump Squat, figura 1) é um dos exercícios mais utilizados para melhorar a produção de potência da parte inferior do corpo, o que influencia no desempenho esportivo. O treinamento de força/potência e velocidade para a melhora do desempenho no futebol necessita de um volume baixo, velocidade alta (aproximadamente 1m/s). Conforme na figura 2, o que corresponde na curva força/velocidade a característica de velocidade-força, importantíssima para a prática do futebol e se encaixa perfeitamente na rotina diária de treinamentos. O treinamento com velocidades altas é a forma mais efetiva para se aumentar a potência e a velocidade, sendo também efetivo para o aumento da força (MORRISSEY, et al, 1998). A execução de repetições em altas velocidades impõe demandas metabólicas menores em exercícios tais como extensões de joelho, agachamento, remada e rosca bíceps, em comparação com a execução de repetições com velocidades baixas ou moderadas (BALLOR et al, 1987). Destarte, o treinamento para potência é executado de melhor forma com cargas leves (entre 30%  - 40%  do peso corporal) em velocidades máximas (WILSON et al, 1993). Cenário perfeito tanto para o pré-treino em academia como exercícios no campo durante um morfociclo.

Comenta aqui qual a sua experiência com o VBT. E se você ainda não utiliza, vale muito a pena começar.

Boa semana!

Referências

SIGNORE, N. Velocity Based Training: how to apply science, technology, and data to maximize performance. Champaign, IL: Human Kinetics, 2022.

GONZÁLEZ-BADILLO, J.J, and SÁNCHEZ-MEDINA, L. 2010. Movement velocity as a measure of loading intensity in resistance training. International Journal of Sports Medicine. 31(5):347-352. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19966589.

LOTURCO, I. et, al. 2015. Determining the Optimum Power Load in Jump Squat using the mean propulsive velocity. PLoS ONE 10:(10):e0140102. https://www.narsp.com.br 

MORRISSEY, M.C., et al. 1998. Early phase differential effects of slow and fast barbell squat training. American Journal of Sports Medicine 26: 221-230.

BALLOR, D.L. et al. 1987. Metabolic responses during hydraulic resistance exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise 19: 363-367.

WILSON, G.J., et al. 1993. The opyimal training load for the development of dynamic athletic performane. Medicine and Science in Sports and Exercise 25: 1279-1286.


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

TREINAMENTO CONCORRENTE NO FUTEBOL

 


Atualmente o jogo/treinamento de futebol vem sendo dissecado e essas informações estão disponíveis das mais variadas formas, sejam por publicações científicas, divulgações em  programas esportivos, entre outros canais.

No futebol mundial, os jogadores podem correr em média 10,8 Km com distâncias em alta velocidade chegando em até 24 sprints altamente intensos e mais de 20 cabeceios e contatos em todo o período do jogo (aproximadamente 100 minutos).

Fica claro que, a partir de dados de jogos/treinos, que os atletas são exigidos com uma alta capacidade de metabolismo aeróbico, além da capacidade de gerar forças significativas estática e dinamicamente em um jogo para produzir altas velocidades de corrida e acelerações/desacelerações frequentes. Esses atletas precisam absorver e transmitir ações envolvendo o contato corporal de várias forças-g.

O treinamento concorrente pode ser definido como o treinamento específico das capacidades de resistência e força em sucessão imediata ou com até 24 horas de recuperação separando os dois modos de exercício. No desenvolvimento do potencial atlético em todos os esportes, unidades de treinamento são construídas e periodizadas para treinar os componentes funcionais críticos para o sucesso esportivo. O tempo de treinamento é uma mercadoria finita; por isso, os preparadores físicos treinam múltiplas capacidades em blocos para maximizar a resposta a este estímulo de treino. Ao treinar concorrentemente tanto as capacidades de resistência quanto de força, pode ocorrer interferência quando o desenvolvimento da outra capacidade comparada ao treinamento de qualquer uma das capacidades de forma independente e isolada.

A pesquisa sobre os efeitos do treinamento concorrente em indivíduos de elite e treinados é mais ponderada para demonstrar um efeito de interferência. Parece que em indivíduos bem treinados, o treinamento concorrente interfere no desenvolvimento de força e potência. 
  • O treinamento concorrente afeta a taxa de desenvolvimento de força ou potência de forma mais significativa do que de força absoluta;
  • Grandes volumes de treinamento de resistência, em termos de intensidade e frequência, têm o maior impacto no desenvolvimento de força no treinamento concorrente;
  • A resistência é apenas minimamente afetada pela introdução do treinamento de força concorrente (STEWART, 2014).
Na mesma linha de raciocínio Kenney, Wilmore e Costill (2013) afirmam que, para o atleta que treina ao mesmo tempo para resistência aeróbica e força, os resultados publicados até agora indicam que pode haver ganhos de força, potência e resistência. Contudo, os ganhos de força e potência musculares são menos expressivos quando o treinamento de força é combinado com o treinamento de resistência, em comparação com o treinamento realizado exclusivamente para o ganho de força.

Destarte, podemos afirmar então que, para aquele grupo de jogadores que participam mais das partidas (Grupo 1) a participação nos jogos já os condiciona no requisito resistência e a força e potência diminuem (haja vista que um dos mais utilizados testes de fadiga pós-jogo é o Counter Movement Jump [CMJ]).  Dito isso, o foco deve ser no treinamento de força e potência. Para aqueles jogadores relacionados para as partidas, mas que, não vem atuando tanto (Grupo 2) precisam de um trabalho para mantê-los condicionados e aptos para quando forem participar das partidas. Um treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) pode ser uma solução. Já para aquele grupo de jogadores que apenas treina (Grupo 3) e não é relacionado para os jogos, um trabalho extra se torna necessário para que estes fiquem em nível de condicionamento próximos dos seus colegas de trabalho.  

Com base nesses relatos, se faz necessário olhar mais para os treinos de força e potência em jogadores de futebol como uma forma de aprimorar aquilo que eles já fazem muito bem (sendo que, estes tenham um bom desempenho na resistência). Pois o jogo de futebol atual exige muito dessa capacidade física dos seus participantes. Com a quantidade grande de jogos por temporada (no Brasil um time de elite faz em média 69 partidas), não é mais segredo para ninguém que, o treinamento de força pode reduzir o risco de lesão na maioria dos esportes, levando em consideração que indivíduos fatigados correm mais risco de sofrer uma lesão. 

Boa semana!

Referências

STEWART, Glenn. Minimising the Interference Effect. in: JOYCE, David; LEWINDON, Daniel (editors). High-Performance Training for Sports.  Human Kinetics, 2014 p. 269-276.

KENNEY, Larry W.; WILMORE, Jack H.; COSTILL, David L. Fisiologia do Exercício. Barueri, SP. Manole, 2013.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

ALVOS FISIOLÓGICOS DO HIIT NO FUTEBOL


O  HIIT (High Intensity Interval Training), traduzido Treinamento Intervalado de Alta Intensidade não é algo novo. As primeiras informações dessa metodologia de treinamento datam da década de 1930 (do século passado). 

As sessões de treinamentos influenciadas por essa metodologia tem como objetivos estímulos curtos (de 3 segundos até 5 minutos), porém com alta intensidade (igual ou superior a 85% da capacidade aeróbica máxima). 

Apoiados nos autores Laursen & Buchheit (2018) que fazem uma analogia com soldados indo para a guerra, necessitamos fabricar armas para eliminarmos os nossos alvos. Baseados em evidências práticas, nos seus antecessores e em ciências, os autores definem que existem cinco (5) armas e/ou formatos principais que podem ser usados em treinamentos e que podem induzir a resposta fisiológica aguda apropriada para os nossos objetivos. E essas são:
  1. Intervalos Curtos;
  2. Intervalos Longos;
  3. Treinamento de Sprint Repetidos;
  4. Treinamento de Intervalo de Sprint; e
  5. HIIT Baseado em Jogos
Os referidos autores prosseguem afirmando que, essas armas podem ser usadas para diferentes operações de combate, dependendo dos nossos alvos fisiológicos. 

No caso específico do futebol, vamos falar do HIIT Baseado em Jogos que, incluem os Jogos Reduzidos. Estes são em última análise, formas de intervalos longos baseados em jogos específicos (especificidade do esporte). Além de incluir sistematicamente a tomada de decisões e interações com os oponentes e companheiros, com duração entre 2 minutos e 4 minutos em uma intensidade de esforço específica do esporte.


Tal como em muitos desportos, há organização da maioria dos treinos baseados em jogos no formato de jogos reduzidos se justifica conforme imagem acima. No gráfico de pizza podemos ver as habilidades técnicas com 45%, a consciência tática com 30% e o condicionamento físico representa 25% das capacidades dos jogadores (BUCHHEIT, et. al., 2018). 

Além disso, programas de treinamento de várias semanas usando jogos reduzidos como uma arma HIIT, relataram melhorias em vários fatores relacionados à vitória, incluindo velocidade, força e desempenho de resistência, mas também, e provavelmente mais importante, proficiência técnica e consciência tática, confirmando o potencial dessa abordagem como um forte alternativa ao HIIT baseado em corrida (BUCHHEIT, et. al., 2018). 

O argumento final para o uso de jogos reduzidos para atingir alvos fisiológicos como arma HIIT é que eles são semelhantes às diferentes estratégias disponíveis para modular a intensidade do exercício durante um HIIT baseado em corrida e, por sua vez, as respostas metabólicas e locomotoras. A carga fisiológica e locomotora durante os jogos reduzidos pode ser ajustada usando, entre outras, manipulações as dimensões do campo, número de jogadores e regras (BUCHHEIT, et. al., 2018). 

Porém, se faz necessário a inclusão de HIIT baseado em corrida nos treinamentos para aprimorar o condicionamento físico dos jogadores.

No próximo post traremos exemplos práticos desses jogos reduzidos (porém, nós preferimos denomina-los Jogos Fractais).

Boa semana!

Referências
    
LAURSEN, Paul; BUCHHEIT, Martin. Science and Application of High-Intensity Interval Training: solutions to the programming puzzle. Human Kinetics, 2018.

BUCHHEIT, Martin; et.al. Soccer in: LAURSEN, Paul; BUCHHEIT, Martin. Science and Application of High-Intensity Interval Training: solutions to the programming puzzle. Human Kinetics, 2018. p. 547 - 564.