Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

SPRINT: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


As ações de sprint são de fundamental importância para o futebol atual. Porém, como ela não é uma habilidade inata, precisamos auxiliar os nossos atletas para que a desempenhem bem.

Um bom início é observar a estabilidade dos nossos atletas. Vários exercícios nos vem à mente quando pensamos em estabilidade que tem haver com a posição do corpo. A inclinação do total do corpo é o que nos impulsiona à medida que aplicamos a força contra o chão. Se você estiver de pé e ereto e aplicar a força contra o chão, você será impulsionado para cima em um salto. Em contrapartida, se estiver em inclinação total aplicando a força diretamente para trás, você será impulsionado para frente. Mas, a inclinação corporal só pode se estender até antes do centro de gravidade, e o alinhamento das articulações não se tornarem prejudiciais ao equilíbrio (FALSONE, 2019). Vejam alguns exemplos:

Vídeo 1: Prone Valslide Hip Flexion Hold

Vídeo 2: Prone Valslide Hip Flexion

Vídeo 3: Wall Acc Pos Hold

Vídeo 4: Wall Acc Pos

Esses são apenas alguns exemplos sobre estabilidade para auxiliar na mecânica do sprint. Se o atleta não possuir um bom nível de estabilidade tanto estática como dinâmica a sua aceleração também não será a ideal, pois irá acontecer o vazamento de energia, o que irá prejudicar a sua performance e também exaurir as suas fontes de energia cedo demais. 

O próximo exercício complementar que podemos elaborar é para a ação dos braços.

Vídeo 5: Arm Work

A ação dos braços é o terceiro fator chave para alcançar o potencial de aceleração total. Como não realizamos qualquer movimento isoladamente, a ação dos braços determinará em grande parte a ação das pernas. Assumindo que temos a mobilidade e o controle motor necessários nos quadris e pernas, produzir atividade potente nos braços estimulará as pernas a acompanharem o processo (FALSONE, 2019).

No treinamento de força, a intenção do movimento geralmente pode ser traduzida na posição final do exercício. Se isso corresponder a posturas corporais importantes da corrida, haverá maior transferência (BOSCH apud JOYCE & LEWINDON, 2014). 

Seguem mais alguns exemplos:

Vídeo 6: Single Leg Bridge

Vídeo 7: Single Leg Bridge Dynamic

Vídeo 8: Single Leg Triple Extension

No vídeo 8 temos um exercício de força com duas intenções relevantes: a posição final completa do reflexo de extensão e a ausência de rotação na ponta dos pés. 

Isto posto, tal como acontece com muitos movimentos esportivos, a forma como o movimento é iniciado geralmente determina o sucesso dos estágios sucessivos desse movimento. No sprint não é diferente. 

Vídeo 9: Sled March

O vídeo acima é um exemplo de como desenvolver força inicial e aplicação de força na direção específica do sprint.

Exercícios e habilidades que aumentam a rigidez dentro do sistema, desenvolvem movimentos poderosos do quadril e minimizam os vazamentos de energia no tronco são fundamentais. O último vídeo trás um exemplo para isso.

Vídeo 10: Overhead ViPR March

A principal intenção deste exercício é enraizar o conceito de altura máxima do quadril ao longo de todo o ciclo da passada. A má postura normalmente resultará em uma posição vertical mais baixa do quadril que não permite uma extensão poderosa do quadril. 

Espero que tenha conseguido contribuir mesmo que minimamente sobre um assunto tão atual e desafiador como é a questão do sprint no futebol.

Boa semana!

Referências

BOSCH, F. Fine-tuning Motor Control in JOYCE, D.; LEWINDON, D. (ed.) High-Performance Training for Sports: the authoritative guide for ultimate athletic conditioning. Champaign: IL, Human Kinetics, 2014. p. 113-126.

FALSONE, S. Reduzindo o tempo da reabilitação ao desempenho. Rio de Janeiro: FitnessPro Education, 2019. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

SPRINT: HERÓI OU VILÃO?


Fig. 1: Ação de Sprint

No futebol quando tratamos do assunto velocidade temos que ter em mente sobre qual espectro da manifestação da velocidade estamos nos referindo. Pois, os fatores estruturais a ela vinculados são vários e temos uma descrição de Benedek/Palfai (1980 apud WEINECK, 2000 p.355) que irá nos nortear sobre o tema. 
A velocidade do jogador de futebol é uma capacidade verdadeiramente múltipla, a qual pertencem não somente o reagir e agir rápido, a saída e a corrida rápidas, a velocidade no tratamento com a bola, o sprint e a parada, mas também o reconhecimento e a utilização rápida de certa situação.  

Destarte, apoiados nessa descrição sobre as características das exigências da velocidade no futebol, algumas capacidades importantes nos vêm à mente, são elas:

  • Velocidade de Percepção;
  • Velocidade de Antecipação;
  • Velocidade de Decisão;
  • Velocidade de Reação;
  • Velocidade de Movimentos sem Bola;
  • Velocidade de Ação com Bola; e
  • Velocidade-Habilidade.
Para ficarmos dentro do tema desta publicação vamos nos debruçar sobre a velocidade de movimentos sem bola. Onde teremos velocidade cíclica e velocidade acíclica.

Fig. 2: Velocidade de movimentos sem bola e suas subcategorias 
em relação às ações em campo. Adaptado de Weineck, 2000

Os exemplos práticos que podemos elencar quanto a velocidade de movimento acíclica no futebol são:
  • Movimentos de frenagem (parada);
  • Fintas de corpo (gato);
  • Saltos;
  • Giros; e 
  • Mudança de direção (CoD).
Na velocidade de movimentos cíclicos, teremos:
  • Corrida para a bola e/ou adversário;
  • Soltar-se/desprender do adversário;
  • Corrida com salto e/ou cabeceio; e
  • Corrida do goleiro para saltar e defender o gol.
Basicamente a definição de sprint é a capacidade de aceleração em curtas distâncias. Ao lado da resistência aeróbia e da anaeróbia, a capacidade de sprint representa no futebol a capacidade física de maior importância. Pois, os jogadores que marcaram gols realizam sprints cíclicos (lineares) em 45% destas ações, sendo na sua maioria sem adversários e sem posse de bola (FAUDE, et al., 2012). Essas ações na sua grande maioria acontecem em até 25 metros. 

Outro fator de extrema relevância para o futebol relacionado ao sprint é que, essa ação é o principal mecanismo de lesão muscular no futebol. Série de estudos comprovaram que a maioria das lesões de 61% a 68% que ocorrem no grupo muscular isquiotibiais acontecem durante um sprint (ação de alta intensidade) (BROOKS, et al., 2006). 

Os isquiotibiais desempenham um papel crucial na produção de força horizontal e na absorção de energia e, portanto, são um grupo muscular fundamental ao correr em altas velocidades. Durante a corrida, os isquiotibiais são altamente ativados na fase inicial de apoio, onde ocorre o contato inicial e, em particular, durante a fase final do balanço. Durante a fase final do balanço, a ativação dos isquiotibiais é duas a três vezes maior do que nas fases iniciais da corrida (fase de aceleração e velocidade absoluta). Os isquiotibiais sofrem contração excêntrica durante esta fase, que envolve o alongamento dos músculos durante a contração e a absorção do trabalho mecânico que está sendo concluído (SHAH, et al. 2022).

De acordo com a terceira lei de Newton, toda ação apresenta uma reação igual e oposta. Como o sprint não é uma habilidade natural e sim uma habilidade adquirida, não podemos apenas querer que nossos jogadores corram em altas velocidades sem antes auxiliá-los a aplicar a força de maneira adequada no solo e esperar que ele te devolva uma força igual e proveitosa. Embora existam várias sutilezas biomecânicas envolvidas, o sprint compreende quatro componentes principais:
  • Posição do Corpo;
  • Ação das Pernas;
  • Ação dos Braços; e 
  • Dorsiflexão do Tornozelo.
E também, mas não menos importante estão os aspectos anatômicos e fisiológicos. A velocidade de contração do músculo é, em geral, dependente da disponibilidade de fibras de contração rápida ou fibras do tipo II. As diferentes performances no setor da capacidade de aceleração justificam-se por características genéticas e por fatores coordenativos, mas, sobretudo, por diferentes níveis iniciais de força máxima. A velocidade máxima do jogador de futebol depende muito do tipo e da quantidade de reserva de energia da sua musculatura de trabalho (membros inferiores), tanto quanto da sua possível velocidade de mobilização. Cientificamente, a capacidade alática pode ser verificada por meio da velocidade da corrida, em um nível de 6 mmol/l de lactato. Nesse ponto, jogadores que produzem pouco lactato em performance de sprints curtos demonstram alta capacidade alática ou, então, capacidade de performance de sprint (HELLWIG, et al., 1988 apud WEINECK, 2000 p. 383). 

Destarte, a corrida em alta velocidade (sprint) representa um parâmetro sobre o qual podemos agir para reduzir o risco de lesão no grupo muscular isquiotibiais. Devemos estar atentos a cinemática da corrida, como por exemplo, maior inclinação pélvica anterior e flexão lateral torácica durante a fase de balanço e cinética com menor capacidade de produção de força horizontal durante o sprint estão associados a maior risco de lesão dos isquiotibiais. Outra coisa, um treinamento de resistência de velocidade realizado mais de uma vez por semana piora a resistência aeróbia, ocorrendo o mesmo com as qualidades de velocidade e força rápida. Posteriormente, a exposição ideal a máxima ou quase máxima a velocidade de corrida é sugerida como um fator de proteção. Uma vez que, um aumento agudo e rápido no volume de corrida está associado a lesões nos isquiotibiais, a falta de treinamento de sprint regulamentar e preparatório pode induzir um maior risco de lesões relacionadas ao sprint (EDOUARD, et. al., 2022).

Isto posto, o sprint não é herói e muito menos vilão, ele pode ser os dois! O futebol se atualizou e uma das suas principais características é o aumento das ações em alta velocidade e muitas vezes isso deixa as comissões técnicas em xeque, fazendo com que estes evitem expor seus jogadores as ações de sprint durante as sessões de treinamento. Para solucionar este problema a questão sempre será a quantidade e a qualidade da exposição, juntamente com as individualidades de cada jogador (força dos isquiotibiais; minutagem; tipos de fibras musculares).

Boa semana!

Referências

BROOKS, JH. FULLER, CW. KEMP, SP, REDDIN, DB. Incidence, risk, and prevention of hamstring muscle injuries in professional rugby union. Am J Sports Med. 2006 Aug;34(8):1297-306. doi: 10.1177/0363546505286022. Epub 2006 Feb 21. PMID: 16493170.

EDOUARD, P., MENDIGUCHIA, J., GUEX, K., LAHTI, J., CAROLINE, P.,  SAMOZINO, P., MORIN, JB. Sprinting: a key piece of  the hamstring injury risk management puzzle. British Journal of Sports Medicine, 08:04, 2022.

FAUDE, Oliver; KOCH, Thorsten & MEYER, Tim. Straight sprinting is the most frequent action in goal situations in professional football. Journal of Sports Sciences, 30:7, 625-631, 2012.

SHAH S, COLLINS K, MACGREGOR LJ. The Influence of Weekly Sprint Volume and Maximal Velocity Exposures on Eccentric Hamstring Strength in Professional Football Players. Sports (Basel), 2022.

WEINECK, Jürgen. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos, SP: Phorte, 2000.