Fig. 1 Morfociclo Padrão com jogos aos domingos Adaptado de TAMARIT, 2013. |
Fig. 1 Morfociclo Padrão com jogos aos domingos Adaptado de TAMARIT, 2013. |
Fig. 1 Antônio Carlos Gomes (esquerda) Vítor Frade (direita) |
(...) O êxito no futebol tem mil receitas. O treinador deve crer numa, e com ela seduzir os seus jogadores.Valdano
No futebol moderno, o técnico tem dificuldades de prescrever o conteúdo do treinamento, pois o calendário apresenta uma grande quantidade de jogos em âmbito regional, nacional e internacional que devem ser disputados com alto rendimento devido aos sistemas utilizados na classificação.
Em Portugal Vítor Frade criou uma outra forma de periodizar/organizar o treinamento de futebol, a Periodização Tática. Para esse autor o futebol é um jogo de dinâmicas cuja invariante estrutural é a Interação. Partindo desta perspectiva, o jogar é uma totalidade que resulta das interações dos jogadores e por isso, não deve ser interpretado como um somatório de acontecimentos aleatórios porque se inscreve num contexto coletivo.
E quando nos referimos a Periodização Tática, não podemos esquecer que esta metodologia de treinamento em futebol, é norteada pelo Modelo de Jogo. E, o Modelo de Jogo em futebol é normalmente mal entendido. Muitos falam dele como sendo, o Sistema ou Esquema de Jogo empregado, ou, distribuição inicial adotada pelos jogadores no terreno de jogo (TAMARIT, 2007).
Corroboro com Tamarit (2007) que o Modelo de Jogo é muito mais do que isso. O autor cita uma definição de Portolés (2007) para explicar melhor o conceito de Modelo de Jogo:
[...] um Modelo de Jogo é algo que identifica uma equipe determinada. Não é só um Sistema de Jogo, não é o posicionamento dos jogadores, mas, é a forma como esses jogadores se relacionam entre si e como expressam sua forma de como veem o futebol.
Destarte, significa dizer que, o Modelo de Jogo é uma visão futura do que pretendemos que a nossa equipe realize de forma regular nos diferentes momentos do jogo (Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização Defensiva e Transição Ofensiva).
Assim, a natureza do jogo caracteriza-se pela dinâmica das relações de cooperação dos colegas da equipe para transcender os próprios adversários e por isso, os problemas que se colocam às equipes e jogadores são de natureza tática (Frade, 1989 apud Gomes, 2006). Através deste conceito, enaltecemos que a adequabilidade da decisão é fundamental para resolver as dificuldades impostas pelo adversário e por isso, as exigências coletivas e individuais que se colocam são de ordem tático-técnicas, e não, técnico-tático, como sempre escutamos (GOMES, 2006).
Em relação ao Modelo de Cargas Seletivas, o seu criador Prof.: Dr. Antônio Carlos Gomes (2009), relata que:
Os exercícios técnicos e os táticos devem estar inseridos em todo o processo do treinamento, destinando a maior parte do tempo a essas ações, pois é nelas que ocorrerá o aperfeiçoamento ótimo das capacidades competitivas do desportista.
Percebe-se com esta citação que, o autor tem preocupação de que seu método não seja descontextualizado da especificidade do jogo. Mas, não existe nenhuma referência ao Modelo de Jogo. Só referências específicas sobre as capacidades físicas que os jogadores de futebol devem ter para conseguirem vencer a maratona de jogos da temporada. Isso, de certa forma, nos remete a dicotomia que ainda insiste em se fazer presente no futebol entre o treinador e o preparador físico. Onde um só entende da parte "tática" e o outro só da "física".
Em contrapartida, quando ouvimos relatos sobre a Periodização Tática, ainda observo certa resistência por parte de alguns profissionais. Mas, para que possamos compreender melhor esta metodologia de treinamento específica para o futebol, pensando em organização coletiva, Vítor Frade (in Martins, 2003) revela que, a tática resulta deste conceito de Organização e por isso, compreende uma determinada expressão física, técnica e psicológica. Sendo assim, a Tática subentende o desenvolvimento dos princípios de ação da equipe que induzem a adaptações concretas a nível físico, técnico e psicológico. Gomes (2006), nos mostra que, face a este entendimento percebemos que a exacerbação física tem um papel subjugado ao desenvolvimento das relações entre os jogadores para assim, criar uma entidade coletiva e, portanto, uma organização. Deste modo, esta concepção desafia a Teoria Convencional do Treino uma vez que está se preocupa fundamentalmente com as aquisições físicas dos jogadores em detrimento de um entendimento coletivo e das relações que o constituem. E, nisto se enquadra o Modelo de Jogo. O Modelo de Jogo confere um determinado sentido ao desenvolvimento do processo face a um conjunto de regularidades que se pretendem observar. Deste modo, o modelo permite responder à questão: para onde vamos? A pertinência desta questão parece-nos fundamental para desenvolver um processo direcionado para um determinado JOGAR, ou seja, para um processo intencional. A partir dele criam-se um conjunto de referências que definem a organização da equipe e jogadores nos vários momentos do jogo. Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos princípios coletivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido, trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer (Gomes, 2006).
Ao analisar os dois modelos de treinamento criados para periodizar a performance em futebol, podemos dizer que a primeira (Modelo de Cargas Seletivas) está diretamente preocupado com o caráter físico do jogador e a segunda (Periodização Tática) está preocupado com um JOGAR ESPECÍFICO perspectivado pelo Modelo de Jogo, onde, o técnico assume essa responsabilidade de operacioná-lo durante a semana com o Morfociclo Padrão, que é utilizado da segunda semana de trabalho até a última e, não durante um microciclo, mesociclo ou macrociclo anual. Quanto ao preparador físico nesse cenário, o Modelo de Cargas Seletivas parece ser um terreno mais habitual (não que, não haja trabalhos com bola, muito pelo contrário), mas por se tratar de um conteúdo com o qual estamos mais familiarizados, tanto na graduação como nos cursos de especializações/extensões. Na Periodização Tática, ele precisa estar em sintomia e compreender a ideia de jogo do treinador (o seu pensamento sobre futebol), para que possa trabalhar em conjunto nos aspectos táticos e técnicos e criar exercícios que vão ao encontro dos objetivos do treinador. Sempre deixando bem claro quais são os objetivos do exercício e buscando treinar na intensidade do jogo que se propõe a realizar durante os jogos e campeonato.
Mas, temos que ter em mente que, são apenas duas formas de treinar o futebol e, claro que as duas obtêm resultados, mas, a forma de operacionalização de cada uma é totalmente diferente. Uma pautada na física e a outra, pautada no fractal, na complexidade. Que é normal causar estranheza.
Boa semana!
Referências
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GOMES, M. S. Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés Dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - um estudo de caso- Porto, 2006.
MARTINS, F. A "Periodização Táctica" segundo Vítor Frade: Mais do que um conceito, uma forma de estar e de reflectir o futebol. FCDEF-UP. Porto, 2003.
Fig. 1 - Jump Squat |
Fig. 2 - Os tipos de força e onde elas se localizam na curva de Força - Velocidade adaptado de Signore, 2022 |
Foto 1: Cristiano Ronaldo salta 2,57 metros e supera goleiro |
Força Explosiva (Força e Velocidade): é a capacidade demonstrada na superação de certa resistência no menor tempo possível, e é caracterizada pelo sistema neuromuscular mobilizador do potencial funcional com a finalidade de alcançar altos níveis de força. A força explosiva representa particularmente a manifestação das capacidades de força e de velocidade relacionadas com o esforço em uma ou poucas repetições (saltos, lançamentos, etc.).
Gomes e Souza, 2008
Já está bem documentado na literatura que o aumento da força máxima melhora a força explosiva e essa, está intimamente ligada aos momentos mais decisivos do jogo, como o gol, por exemplo. Destarte, se a força máxima for treinada em demasia ela pode ocasionar um aumento na secção transversa tanto das fibras de contração rápida quanto das de contração lenta e isso, é prejudicial para a força explosiva.
A velha metodologia de treino previa, para o início da preparação, um período de treinamento dirigido exclusivamente à melhoria da força máxima (2 a 3 meses) e, posteriormente, um período de transformação seguido de um outra de força especial. As novas proposições, com base em experiências baseadas em evidências e comprovadas no campo, prevêem trabalhos de força máxima e de força explosiva durante o mesmo período (BOSCO, 2007). A adaptação biológica de origem neural que ocorre como resposta inicial aos estímulos promovidos pelo treinamento da força máxima é fenômeno já bem documentado (MORITANI e de VRIES, 1980). É bem provável que os fatores neurais atuem em diversos níveis do sistema nervoso central e periférico, determinando como resultado final a ativação máxima de várias unidades motoras envolvidas (BOSCO, 2007).
Figura 1: Inertial Movement Analysis (IMA) adaptado de Rabelo, 2016 |
Campograma 1: Jogo Fractal 3 VS 3 Top 1 Neural IMA per Minute |