Ontem tivemos a última rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol. Hoje todos os clubes estão oficialmente em férias. Esse período que compreende o final da temporada e o início da próxima pré-temporada (pre-season) do ano seguinte, é denominado período de transição (off-season), segundo a teoria e metodologia do treinamento desportivo.
Esse período é amparado pela Lei 6.354/76 no seu artigo 25 que diz:
Art. 25. O atleta terá direito a um período de férias anuais remuneradas de trinta (30) dias, que coincidirá com o recesso obrigatório das atividades de futebol.
Parágrafo único. Durante os dez (10) dias seguintes aos recesso é proibida a participação do atleta em qualquer competição com ingressos pagos.
Entre as tarefas básicas do período de transição, estão o descanso completo para recuperação do potencial gasto durante as cargas de treinamento e das competições do ano anterior e a manutenção de um nível de preparo que garanta desempenho ótimo do futebolista no macrociclo seguinte. Atenção especial deve ser dada à completa recuperação física e, principalmente psicológica (PLATONOV, 2008).
A literatura expõem que a duração do período de transição oscila, geralmente, de três (3) a quatro (4) até seis (6) a oito (8) semanas e depende do calendário de cada equipe (PLATONOV, 2008). No Brasil costumam perdurar entre quatro (4) e cinco (5) semanas.
É do conhecimento de todos que, os atletas de futebol chegam ao final da temporada bem cansados (sendo o Brasil um país com dimensões continentais isso contribui e muito), mas, por outro lado, também é do conhecimento de quem exerce alguma função no futebol e meio acadêmico/científico que, longos períodos sem treinamentos acarretam perdas aptidão física dos jogadores. O conhecido Princípio do Reversibilidade.
No princípio da desadaptação, ao que parece pode existir uma relação proporcional entre o período de tempo de interrupção dos treinos e a real perda dos ajustes fisiológicos adquiridos anteriormente (BOMPA, 2002).
Os autores citados acima reportam declínios em algumas variáveis fisiológicas dos futebolistas:
- VO2máx;
- Velocidade Linear (sprint);
- Velocidade com Mudança de Direção (CoD);
- Queda da Potência Muscular.
Em contrapartida, outras evidências (experiência prática) nos mostram que durante o período de transição essa queda de desempenho não é tão acentuada assim.
Mas, como o nome sugere esse é um período de férias, não podemos exigir que os jogadores pratiquem atividades de alta intensidade durante esse período, porém, existem responsabilidades a serem cumpridas. Uma grande indulgência consigo em relação ao álcool é prejudicial ainda que durante o período de transição. O regime atlético correto também envolve uma dieta adequada. O ganho de peso maior que dois (2) a quatro (4) quilos é indesejado (BOMPA, 2002).
Na prática, são utilizados modelos diferentes para esse período de transição. O que sugerimos é uma combinação de métodos de descanso ativos com passivo, com cargas não-específicas, que permitem garantir a manutenção dos componentes básicos do preparo. Com duração entre 50 e 60 minutos, com prática de ciclismo e/ou natação, força funcional (com o próprio peso corporal e/ou alguns equipamentos como elásticos, kettlebell, etc. e exercícios de mobilidade/flexibilidade).
O ideal será elaborar um programa baseado em uma análise criteriosa, levando em conta dados como: idade do jogador; tempo de prática na modalidade, histórico de lesão, funções táticas, entre outros) e que evitemos o overtraining.
O principal objetivo é que aprendamos com base nos erros do passado e evitemos a repetição deles!
Boa semana!
Referências
PLATONOV, Vladimir N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte, 2008.
BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo: Porte, 2002.
BRASIL, Diário Oficial da União - Lei Nº 6.354 Seção 1 - 3/9/1976, Página 11687 (Publicação Original) Coleção de Leis do Brasil - 1976, Página 25 Vol. 5 (Publicação Original).