Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

MUDANÇA, TRANSFORMAÇÃO. O QUE É MELHOR PARA UM CLUBE ?


Quando há uma troca de treinador em algum clube, eu me pergunto, será que a diretoria do clube está procurando uma mudança ou quer uma transformação?

Vou explicar melhor. Eu entendo que uma mudança significa na troca de pessoa que está no comando (no caso do futebol o treinador), geralmente quando se troca o treinador muda-se a comissão técnica toda, mas o trabalho será o mesmo (mesma rotina de treinamentos tradicionais), ou seja, apenas troca-se quem vai realizar o trabalho. E no início, isso surte efeito, pois o grupo de jogadores querem mostrar para a nova comissão técnica que estão dispostos há serem titulares. A chamada mudança psicológica, mas com o passar do tempo tudo volta como estava antes, resultados negativos, novas especulações sobre troca de treinador e por aí vai.

Mas quando se trata de uma transformação, o clube quer algo mais. E é isso que o Real Madrid C.F. quer ao contratar José Mourinho, uma transformação. A transformação diz respeito há algo novo, diferente do realizado até então. E no caso do futebol o que seria esse algo novo, diferente, se como dizem por aí, "no futebol não tem mais nada o que inventar". A metodologia de treinamento de José Mourinho, isso é a transformação. Mourinho se recusa a trabalhar como os demais treinadores, ele não está preocupado com as cargas físicas do treinamento, ou com aspectos quantitativos, por exemplo, o uso de frequencímetros para aferição da frequência cardíaca para através dela, saber a suposta intensidade do esforço em uma sessão de treinamento. E pergunto? Qual será o intervalo da frequência cardíaca ideal para uma basculação coletiva até a direita para, pressionar o lateral esquerdo adversário com a posse da bola? 

Mourinho acredita que os aspectos quantitativos são redutores, um bloqueio epistemológico e, portanto metodológico. Para ele o que importa é o Modelo de Jogo (aspectos qualitativos) a ser criado e implementado junto com os jogadores, pois como ele diz: "Craque, craque é a equipe." E isso se constroi no treinamento, nas mudanças de comportamentos, através da operacionalização desse treinamento ao longo da temporada.

Nesse ano, teremos o prazer de assistir um grande Campeonato Espanhol, com grandes confrontos entre Barcelona F.C. e Real Madrid C.F. (em transformação). E eu acho isso melhor para um clube. 

sábado, 3 de julho de 2010

JOSÉ MOURINHO E SUAS CONSIDERAÇÕES SOBRE PRÉ-TEMPORADA


No início do ano de 2009, tive há oportunidade de conhecer um profissional altamente capacitado. O professor Michel Huff, com quem tive há oportunidade de estagiar. E dentre nossas muitas conversas (sobre as metodologias de treinamento) uma era unânime, há de José Mourinho. O professor Michel Huff, me indicou algumas bibliografias (fora do contexto convencional) e, estas eu estou conseguindo graças a outro amigo que está fazendo Doutorado em Portugal, meu amigo Silvio Costa Sampaio. Graças a esses dois amigos e as leituras baseadas na metodologia de treinamento usada por José Mourinho, estou me tornando um profissional mais crítico do que a maioria.

Agora relatarei algumas palavras de José Mourinho referente a pré-temporada (lembrando que, daqui há alguns dias começa a pré-temporada na Europa e aqui no Brasil os clubes estão na inter-temporada). Vejamos o que pensa Mourinho:

"Quando vejo referências as pré-temporadas de nossas equipes e me mostram imagens dos atletas correndo, trabalhando em espaços que não são o campo de futebol, desde a praia ao campo de golfe, me coloco a pensar que estes são métodos superados, para não dizer arcaicos."

"A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na globalidade da forma desportiva."

"Não sei onde começa o físico e acaba o psicológico ou o tático. Para mim, o futebol é globalidade, e o jogador também e assim não consigo fazer a divisão."

"Eu não trabalho o físico. E quando dissem que o Porto está muito bem preparado fisicamente, refuto isso totalmente. O Porto utiliza uma metodologia que rompe com todos os conceitos tradicionais do treinamento analítico."

"Não creio, no futebol de hoje, em equipes que estão bem fisicamente e outras mal. [...] Há equipes adaptadas, ou não, a forma de jogar de seu treinador. O que nós buscamos é que a equipe consiga se adaptar ao tipo de esforço que nossa forma de jogar exige."

"Hoje, em minha metodologia, não há espaço para o preparador físico tradicional."

E aqui no Brasil parece que está metodologia está angariando adeptos, vejamos o que o professor Élio Carravetta, coordenador da preparação física do S.C. Internacional relatou essa semana (25/06/2010) em entrevista ao sitio Universidade do Futebol:

"É até uma declaração forte, mas a preparação física como grande parte da sociedade pensa simplismente não existe. No futebol, ao contrário, o que se busca é o equilíbrio das qualidades físicas para melhorar o desempenho individual através de treinamentos técnicos, táticos, estratégicos e relacionais, e tudo isso pensando no rendimento coletivo das equipes."    

Lembrando que Mourinho também fala que essa divisão cartesiana não existe. O que existe é o Modelo de Jogo, e os treinamentos têm  que priorizar isso desde o primeiro dia da temporada. E sabe também que só o subordinar de todo o processo de treinamento e da supradimensão tática, isto é, a vivência/aquisição hierarquizada de seus princípios de jogo, o permite mobilizar a subdimensão física na singularidade que o seu jogar requisita.

sábado, 26 de junho de 2010

JOGO PARA COMPACTAÇÃO - OFENSIVA/DEFENSIVA


Princípio: Compactação

Sub-Princípio: Fechar as linhas e definir o bloco de pressão

Objetivo: Diminuir os espaços entre os setores e tornar a equipe mais compacta (funcionando como um bloco único)

Tempos: 5X8'                           Recuperação: 2' 

Adaptação Biológica: Resistência Específica e melhora  da concentração.

Dimensão: 3/4 do campo

Materiais: Discos, coletes e bolas

Descrição

Número de jogadores 18 (8:8 + 2 goleiros)

Jogo específico 8:8. Para defender a equipe deverá sempre ocupar o espaço médio de duas faixas geminadas (transversais) incluindo a faixa onde está a bola. Se o adversário está com a bola na faixa 2, todos os jogadores deverão ocupar as faixas 2 e 3. No ataque, devem-se dispersar no espaço mínimo de três faixas geminadas para criar as situações de jogo que permitam a troca de passes e a fluência das jogadas.

Nas faixas longitudinais, os defensores, devem se colocar em duas faixas geminadas a partir daquela onde a bola está. E, os atacantes, dispersar inteligentemente em duas ou três faixas de campo na direção da baliza contrária. 


sábado, 19 de junho de 2010

QUEM TREINA AS SITUAÇÕES DE IMPEDIMENTO?


“Não basta manter boa relação individual com a bola: é preciso aprender a ler o jogo. E desse modo, aprender a se comunicar em meio à ação”. Alcides Scaglia.

Com base nesta citação do Professor Dr. Alcides Scaglia, escrevo a matéria dessa semana. Perguntando: quem treina as situações de impedimento nas sessões de treinamento?

Essa pergunta se torna pertinente, pelo motivo da Regra 11 – Regra do Impedimento, ela é responsável por grande parte da dinâmica de jogo no futebol. Por isso, abordar as inúmeras situações de impedimento nos treinos técnicos e táticos é importante, pois condiciona o atleta a ser cada vez mais eficiente nessas circunstâncias. A produtividade ofensiva de uma equipe está diretamente relacionada à interferência da regra do impedimento nas ações de ataque criadas por ela.

É aqui que entra a importância da formação. Imaginemos uma criança de 14 anos que só jogou o jogo de pelada a vida toda, e agora entrou em uma equipe que participa de competições formais, ela têm muita competência com a bola nos seus pés, mas ela não consegue jogar (ou, não é tão competente, faltam-lhe algumas habilidades), pois a regra do impedimento exige singular estruturação do espaço, que se não dominada, não se alcançará níveis mais elaborados e estruturados (organização espacial) de jogo.

Para que essa situação seja minimizada, os treinamentos com a regra do impedimento devem ser iniciados nas categorias Sub-11 e que seja respeitada a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) desses atletas, para que eles possam entender essa regra de forma clara e possam aplicá-la a seu favor durante as competições.

Enfim, trabalhar com a formação de atletas vai além de se ter “jogado” o futebol, necessitamos é de uma boa metodologia de treinamento e de operacionalização científica para entendermos como funciona o futebol moderno.

sábado, 12 de junho de 2010

REPOSIÇÃO DE BOLA


As reposições de bola em jogo pelo goleiro (jogador muitas vezes negligenciado nos treinamentos táticos), são muito importantes para uma equipe ter uma transição de defesa para o ataque organizada.

Um goleiro que tenha, ótima precisão na reposição da bola em jogo com os pés ou com as mãos, tem uma grande importância num Modelo de Jogo que tenha como prioridade a saída rápida da defesa para o ataque, principalmente após escanteios defensivos. Pois, desta forma, poderemos contra-atacar a equipe adversária em superioridade númerica, e assim, tendo algumas movimentações bem treinadas e velozes teremos muita vantagem sobre os adversários.
 

Nos treinamentos temos que nos preocupar com esse fator muito importnate do microciclo, o treino da reposição da bola em jogo, sem esse fator, não existe possibilidade de conseguirmos êxito numa partida, muito menos, de implantarmos um Modelo de Jogo com a participação do goleiro, se este, ficar alheio aos trabalhos táticos. Pois o goleiro faz parte da organização defensiva da equipe e é uma peça fundamental para uma equipe que queira ser vitoriosa.

Acredito que com essas preocupações, treinadores atentos na forma de como se operacionalizam as formas de trabalhar o futebol especificamente saem ganhando. 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

OS OBJETIVOS DAS FASES DO JOGO

Todas as ações realizadas pelos jogadores que sejam de caráter individual ou coletivos durante o transcurso da partida tem como finalidade obter a maior eficácia possível no desenvolvimento de uma série de intenções táticas (ofensivas e defensivas).

Basicamente o jogo se distingue em oito grandes objetivos táticos:

Objetivos

Ofensivos                                              Defensivos

Manter a posse da bola                      Recuperar a posse da bola

Progressão no jogo                            Evitar a progressão no jogo

A finalização                                       Evitar a finalização

Superar as situações de 1:1  Evitar ser superado nas situações 1:1

OBJETIVOS OFENSIVOS

São intenções que a equipe que se encontra com a posse da bola.

  1. Manter a posse da bola: através deste objetivo do jogo a equipe atacante tenta conservar a bola em seu poder mantendo a iniciativa do jogo.


Este objetivo de jogo apresenta uma série de aspectos favoráveis:


  1. Conservar um resultado favorável;
  2. Manter a iniciativa de jogo;
  3. Ganhar tempo na partida;
  4. Modificar o ritmo da partida;
  5. Evitar a perda da bola;
  6. Desgastar física e psiquicamente o adversário ao não permitir-lhe recuperar a posse da bola.


Para a realização com eficácia deste objetivo são necessárias o domínio integrado de uma série de ações táticas, técnicas, físicas e psicológicas por parte dos jogadores tanto no espaço individual como coletivo.

AÇÕES TÁTICAS

  1. Com respeito a bola: noção de tempo (tempo de bola), paredes (aparas), organização coletiva e velocidade coletiva;
  2. Com respeito aos adversários: desmarcações;
  3. Com respeito aos espaços: amplitudes (profundidade e largura), espaços livres;
  4. Com respeito aos companheiros: apoios.

Para manifestar este objetivo são necessárias ações táticas de apoios e desmarcações dos jogadores, para com o jogador de posse da bola, para facilitar e dar possibilidades de envio da mesma através de paredes (aparas), organização coletiva, etc. E, é importante a amplitude (largura) para obrigar o adversário a defender um maior número de metros no campo.

AÇÕES TÉCNICAS


  1. Individuais: controle, condução e finta;
  2. Coletivas: passe, ações combinadas.


Para manifestar este objetivo são necessárias ações técnicas individuais e coletivas, sendo que para desenvolver as ações táticas como, noção de tempo (tempo de bola), paredes (aparas), organização coletiva, etc., é necessário o domínio de ações técnicas como a condução, finta, passes, etc.

Tendo entendido isso, passamos a entender a importância de um bom planejamento de treinamentos, para que possamos ter uma equipe jogando com objetivos ofensivos e defensivos bem definidos e, o principal, sabendo por que estão realizando certos objetivos.

sábado, 29 de maio de 2010

AS FASES DO JOGO


Na dinâmica do encaixe de um jogo de futebol, percebe-se que ele é constituído de três situações táticas clássicas:

  1. Ataque;
  2. Defesa; e
  3. Reorganização de Posturas.

Assim, pode-se analisar o jogo também considerando a eficiência das equipes no desempenho dessas três fases. Temos que nos ater nos treinamentos, principalmente quanto as distâncias entre as peças do desenho tático escolhido, pois é esse fator que, dará um maior equilíbrio nesses três requisitos do jogo, mas não só. O técnico que faz a leitura correta da interferência dessas distintas fases na produção da sua equipe sai na frente para melhor ajustá-la. O que caracteriza um modelo de jogo da equipe é, o aprimoramento de uma dessas três fases, ou como deveria ser, o aprimoramento das três.

Como devem ser os três momentos do jogo:

Momento Ofensivo (fase de construção de jogadas): caracteriza-se pela insistência na construção de jogadas de ataque ou, pelo menos, na manutenção de posse de bola. Não basta apenas delimitar o posicionamento dos jogadores em campo sem instruí-los e prepará-los para executar as ações. Em termos ofensivos, muitas esquematizações táticas podem ser utilizadas. A partir das suas características, os atletas devem ser distribuídos em campo e treinados individualmente, por setores e em conjunto, para as ações ofensivas. Poderá haver trocas de posicionamento entre as peças do desenho, mas é importante que sejam feitas por jogadores que saibam ser ofensivos também nas zonas para as quais estão migrando. Os procedimentos ofensivos de uma equipe de futebol costumam ser marca registrada do sistema tático que os utilizam. (Drubsky, 2003).

Momento Defensivo (fase de recuperação de bola): talvez seja este o fator determinante para que o desenho tático funcione no futebol. Qual peça vai marcar determinado setor nas várias situações de jogo em que o adversário recupera a posse de bola e prepara a contra-ofensiva? Quais setores farão as coberturas nestes casos? Quem pega quem na saída de bola do adversário? Isso deve estar bem assimilado para evitar furos no desenho. Sendo o futebol moderno caracterizado pela ocupação inteligente dos espaços, a equipe que deixa buracos no campo estará fadada a maus resultados. Num jogo em que os atletas se preocupam apenas em ser ofensivos, o resultado quase sempre é a derrota! Cada desenho tem a sua melhor forma de marcar o adversário. Além disso, o sistema de marcação depende das características dos jogadores e do encaixe do jogo. Após conjugar essas situações, o técnico define como bloquear as ações do seu oponente já a partir do seu campo ou de zonas mais recuadas. (Drubsky, 2003).

Momentos de Reorganização (fase de transição do jogo): são nítidas em campo as situações de jogo em que as equipes perdem ou recuperam a posse de bola e necessitam de um tempo para reorganizar seu posicionamento em razão das novas necessidades. Na transição tanto para as ações de ataque quanto para as de defesa, exige-se eficiência das equipes e seus desenhos, sob pena de sofrerem danos irreparáveis. A fase de reorganização do jogo é uma circunstância tática treinável que deve levar em consideração a organização do desenho, as esquematizações táticas e o desenvolvimento dos sistemas de cobertura e compensações e do poder de posse de bola, entre outros. (Drubsky, 2003).