Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

sexta-feira, 24 de julho de 2020

TREINANDO AÇÕES TÉCNICAS POR MEIO DE JOGOS FRACTAIS



É inegável que para se treinar/jogar futebol a equipe/jogadores tem que possuir um ótimo nível técnico. Com a evolução marcada por avanços significativos em múltiplos domínios do conhecimento aplicados ao futebol. Avanços esses, alavancados pelo desenvolvimento das ciências do esporte que, proporcionaram o surgimento e o aprimoramento de novas metodologias de ensino-aprendizagem-treinamento aplicadas ao futebol.

Hoje os jogos em campos reduzidos, conhecidos internacionalmente como small-sided games são muito estudados e utilizados principalmente na Europa. Esses jogos caracterizam-se por apresentar um formato menor, dimensão do campo e número de jogadores não correspondente ao jogo formal oficial. Scaglia e Reverdito (2011) consideram os jogos em campos reduzidos como jogos conceituais (uma das matrizes de jogos), são jogos em que as suas referências funcionais (princípios operacionais e regras de ação) e estruturais (dimensão do campo, número de alvos) não respeitam a lógica do jogo esportivo coletivo, mas sim a manipulação da bola frente a diferentes objetivos.

Os contrários a esse tipo de metodologia de treinamento argumentam que, o uso dos jogos em campo reduzido não trabalham o aspecto técnico do jogo e recorrem aos trabalhos analíticos de forma fragmentada e descontextualizada do ambiente do jogo para trabalhar esses fundamentos. Dentre as muitas definições de técnica na literatura, escolhemos a de Greco e Benda (1998) que a definem como a adequada interpretação no tempo, espaço e situação do meio, necessário para resolver uma tarefa ou problema motor advindos do esporte. 



O treinamento baseado em jogos parte do princípio do trabalho do todo e não da somatória dos fragmentos do todo. Ao se treinar com jogos, busca-se desenvolver todos os aspectos que ocorrem na partida oficial de forma sistêmica e integrada. 

Destarte, propomos o nome de Jogo Fractal Técnico. O termo Fractal foi instituído por Benoit Mandelbrot em 1975, para denominar uma classe especial de curvas definidas recursivamente que produzia imagens reais e surreais. Uma estrutura geométrica ou física tendo uma forma irregular ou fragmentada em todas as escalas de imediação. A geometria fractal estuda subconjuntos complexos de espaços métricos. Segundo Stacey (1995) um fractal é uma parte invariante ou regular de um sistema caótico que pela sua estrutura e funcionalidade consegue representar o todo, independentemente da escala onde possa ser encontrado. Os fractais são representativos do todo, pois têm uma constituição "genética" semelhante ao todo onde foi observado (GUILHERME OLIVEIRA, 2004 apud CAMPOS, 2008, p. 54).

Ao consultar a literatura, está muito bem descrito que nos formatos de jogos menores (1 VS 1; 2 VS 2; 3 VS 3; 4 VS 4 e suas variações), as respostas fisiológicas, tais como concentração de lactato (La), frequência cardíaca (FC) e a percepção subjetiva de esforço (PSE), são significativamente maiores em relação aos jogos com maior número de participantes. 

Quanto as ações técnicas o Jogo Fractal Técnico pode ser organizado para trabalhar e desenvolver significativamente qualquer ação técnica de uma maneira mais funcional ao que acontece no jogo oficial. 

Na nossa concepção é fundamental que o processo de treinamento em futebol seja baseado em todas as categorias de Jogos Fractais (Técnicos e Posicionais). Pois os jogadores precisam treinar o mais   específico possível de forma sistêmica e integrada possível.

Se você quer saber mais sobre os Jogos Fractais Técnicos e Posicionais em breve estaremos lançando um material explicando melhor e com exemplos de jogos.

O endereço de e-mail para maiores informações é tajessports@gmail.com

Bom final de semana!

Referências

CAMPOS, C. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: a singularidade da intervenção do treinador como sua impressão digital. Espanha: MCSports, 2008.

SCAGLIA, A. J. ; REVERDITO, R. S. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés: todos semelhantes todos diferentes. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 11, p.89-90, 2011. 

STACEY, R. As fronteiras do caos. Biblioteca de Economia e Ciências Empresariais. Lisboa: Bertrand, 1995.









sexta-feira, 17 de julho de 2020

PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NO TREINAMENTO


Após um longo período de pausa (mais de 100 dias) a maioria dos campeonatos regionais retornará nos próximos dias. 

Será normal observarmos em algumas equipes algumas discrepâncias entre seus jogadores no quesito físico devido o conceito de limiar. A Lei de Arndt-Schulz considera o limiar como a capacidade básica do indivíduo ou desenvolvida pelo treinamento, que vai condicionar o grau de intensidade de um estímulo. Devido a pandemia e as medidas de distanciamento social, é sabido que os treinamentos estavam sendo realizados na sua maioria de forma analítica. E o jogo exige muito da capacidade de movimento e das respostas orgânicas globais. Segundo Matveev "a adaptação ideal é o resultado da assimilação de excitadores ideais". 


Com base na imagem acima, partimos do princípio de que cada jogador de futebol tem um "limiar" de esforço determinado e uma margem de tolerância máxima, temos que considerar que os estímulos que são débeis (abaixo do limiar) não excitam suficientemente as funções orgânicas, e portanto, não treinam. Aqueles estímulos mais intensos, mas que todavia se mantêm abaixo do limiar, excitam a função orgânica sempre e quando se repetem um número considerável de vezes, e neste caso produzem alteração e melhoram a função orgânica. Temos também aqueles estímulos fortes que chegam ficam dentro do limiar e produzem excitações sensíveis nas funções orgânicas e, após o devido descanso (recovery), produzem fenômenos de adaptação. E, por último, mas não menos importante, temos os estímulos muito fortes que ultrapassam o limiar, mas não a tolerância máxima individual, também podem produzir fenômenos de adaptação sempre e quando não se repetem com demasiada frequência. Neste caso provocarão sério estado de sobretreinamento (overtraining). 

Destarte, seja qual for a sua função dentro do treinamento esportivo é sempre bom estar relembrando aspectos básicos do treinamento esportivo e fisiologia do exercício, para oportunizar uma ótima performance para os seus atletas e compreender o que pode estar acontecendo com eles nesse retorno gradual aos jogos. 

Bom final de semana!


segunda-feira, 13 de julho de 2020

JOGO FRACTAL PARA ORIENTAÇÃO DO CORPO E PRESSÃO NA SAÍDA DE BOLA


Descrição 

4 vs 4 + 2 goleiros. 
O formato do campo igual ao da imagem acima, balizas posicionadas de forma assimétricas. 

Os três atacantes (azuis) pressionam a saída de bola da equipe adversária (amarela) no lado direito do campo em forma geométrica de triângulo. O objetivo do trabalho é organizar a pressão e a cobertura ofensiva, bem como a orientação do posicionamento do corpo dos jogadores para poderem economizar energia nos seus deslocamentos e reagirem rápido as mudanças de direção ocasionadas pela troca de passes da equipe adversária.


segunda-feira, 6 de julho de 2020

ENTREVISTA FISIOLOGISTA ANDRÉ FORNAZIERO


Fala galera, tudo bem com vocês?

Hoje daremos continuidade ao nosso primeiro ciclo de entrevistas com profissionais renomados que atuam no futebol.

Espero que gostem!

Vou deixar que o nosso entrevistado desta semana se apresente:

AF: Me chamo André Fornaziero, sou Bacharel em Ciência do Esporte pela Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Fisiologia do Exercício, Mestre em Fisiologia da Performance e Doutorando em Ciências do Movimento Humano com ênfase no Desempenho Físico e Esportivo pela Universidade Federal do Paraná. Sou professor universitário, pesquisador, palestrante e possuo mais de 10 anos de experiência como fisiologista no futebol, com passagens por clubes como Paraná Clube e Club Athletico Paranaense.


EF: É muito comum escutarmos que o futebol mudou. Mas, na sua opinião qual foi a principal mudança do futebol do século XX para o futebol do século XXI?

AF: Acredito que a principal mudança se refere as demandas competitivas, principalmente sob o ponto de vista físico, mas também técnico e tático. Fisicamente é claro que há uma maior demanda, vários estudos científicos reportam esse achado e por consequência o controle da preparação e recuperação tem sido alvo de muitos estudos. Por outro lado, acredito que a maior profundidade de análise com relação aos aspectos técnicos e táticos também aumentou a complexidade do treinamento e assim a exigência do melhor entendimento do jogo por parte dos atletas.

EF: No futuro o futebol será ainda mais intenso? Qual seria o seu conselho para os clubes em uma eventual seleção de jogadores?

AF: Sem dúvida será mais intenso, da mesma forma como tem acontecido nos últimos anos. Acredito que a seleção dos atletas deverá ser feita com a utilização de técnicas mais profundas de análise de dados, para que os clubes sejam capazes de cruzar informações de diferentes tipos e ter uma posição mais assertiva se aquele determinado atleta preenche os requisitos exigidos pelo modelo de jogo da equipe.

EF: Como o treinamento deverá ocorrer para suprir as futuras demandas do jogo?

AF: Nos últimos anos o processo de treinamento evoluiu sobremaneira, tanto no sentido da qualidade das atividades propostas como no controle e gestão de todas as informações que podem ser coletadas. Acredito muito que a formação que os treinadores vêm tendo nos últimos anos é de fundamental importância para esse processo pois eles são os líderes das comissões e quanto mais entenderem sobre todos os aspectos, mais cada profissional poderá dar seu contributo. Além disso, atualmente a quantidade de informações geradas em cada sessão de treinamento é muito grande, portanto um ponto essencial nesse contexto é a análise integrada desses dados, de modo que possibilite que a comissão técnica tome decisões mais assertivas.

EF: Deixo aberto o espaço para comentar mais sobre o tema se for do seu interesse.

AF: Acredito que de acordo com o processo de evolução do futebol como um todo, as instituições, profissionais, atletas e todos os membros envolvidos nesse processo devem sempre estar abertos a inovação. Gosto muito de fazer um comparativo da nossa situação atual com o cenário que tínhamos há 10 anos atrás, apenas para citar alguns exemplos: eram raros os clubes possuíam analistas de desempenho, fisioterapeuta só trabalhava com atletas lesionados e fisiologista era responsável por avaliação física. Atualmente grande parte das equipes possuem mais de 1 analista de desempenho, os fisioterapeutas fazer parte do processo de prevenção de lesões e o laboratório dos fisiologistas agora é o campo, coletando informações de carga de treinamento em tempo real.  Se nos últimos 10 anos muita coisa mudou, imaginemos o quanto esse cenário irá se modificar nos próximos 10? Tentarei fazer aqui uma previsão para o futuro: em 10 anos, certamente grande parte das equipes terá um analista de dados em suas comissões técnicas e além disso alguma outra função que ainda nem existe atualmente.

Muito obrigado André Fornaziero por aceitar o nosso convite para esse ciclo de entrevistas sobre o tema Futuro do Futebol. Boa sorte na sua caminhada profissional e esperamos nos falar em breve. 

Forte Abraço!