Quando
pensamos em treinamento de futebol, isso nos remete a trabalhos físicos. Que os
músculos devem estar bem preparados, a capacidade cardiorrespiratória em sua
plenitude, entre outros.
Mas,
se analisarmos que órgão que comanda todo esse sistema complexo que é o ser
humano, nos deparamos com o cérebro. Sendo assim, os grandes jogadores, na sua
maioria, iniciaram os seus treinamentos antes dos 12 anos. Isso era atribuída
unicamente à “plasticidade sináptica” do cérebro infantil, explicando, a uma
maior facilidade para mudanças sinápticas de acordo com a experiência de fato
observada em animais jovens. Após a infância, essa plasticidade diminuiria, à
medida que a maquinaria molecular das sinapses fosse substituída pela versão
adulta, tornando o aprendizado mais difícil (Herculano-Houzel, 2005).
No
entanto, quem nunca ouviu sobre a “idade de ouro” da aprendizagem (6 a 11
anos). Essa fase seria exatamente o que relatei anteriormente, uma melhor época
para aprender determinadas habilidades motoras. Após essa idade, há uma
alteração drástica no cérebro adolescente que pode explicar o desempenho
excelente adquirido até a puberdade, mas, não depois: a redução dos núcleos da
base (gânglios da base) (Herculano-Houzel, 2005).
Segundo
Herculano-Houzel (2005), os núcleos da base são estruturas que ocupam a porção
mais interna do cérebro, sob o córtex dos dois hemisférios. Embora não comandem
diretamente os movimentos, eles geram e armazenam programas motores complexos
como auxiliares para o córtex, e têm por isso uma função fundamental no
aprendizado motor.
Segundo
Kornhuber (1974); Grillner (2008) apud Silveira (2010), a execução de um
movimento “encomendado” por outras regiões do sistema nervoso depende da
interação entre o córtex cerebral, os núcleos da base e o cerebelo. Existem evidências
que o processamento de informação em várias áreas do córtex cerebral leva à
emissão de comandos motores pelas regiões motoras corticais e que então esses
comandos são convertidos em programas ou padrões motores para a efetuação do
movimento em coordenadas espaço-temporais. Esses programas motores são gerados
por estruturas subcorticais, situadas no cerebelo e nos núcleos da base, de tal
forma que os movimentos rápidos são pré-programados pelo cerebelo no que diz
respeito ao momento e à duração da atividade, enquanto que os núcleos da base
exercem papel semelhante nos movimentos lentos executados numa gama de
movimentos (Kornhuber, 1974; Mink, 2008 apud Silveira, 2010). Finalmente, para
aqueles movimentos que necessitam de análise sensorial sofisticada dos objetos,
os padrões originados pelo cerebelo e núcleos da base são processados e
refinados posteriormente no córtex cerebral (Mauk e Trach, 2008 apud Silveira,
2010).
Após
esses relatos, percebe-se a importância que os treinamentos de futebol na mais
tenra idade têm, com o repertório motor. Pois, para o desenvolvimento, ou a
qualidade das capacidades coordenativas, o repertório motor passa a ser um
fator determinante, porque cada movimento, por mais novo que seja, é sempre
executado com base em típicas combinações de coordenação (Harre, 1976 apud Weineck,
2005). Entretanto, o que explicaria a preocupação de algumas pessoas ligadas a
treinamento em futebol de jovens que se preocupam tanto com a parte física?
Paul
Thompsom e sua equipe (2003) apud Herculano-Houzel (2005) explica que, uma das
estruturas que formam os núcleos da base, o caudado, perde 20% da sua
substância cinzenta logo no começo da adolescência, entre 8 e 11 anos, e chega
ao seu formato “maduro” mais ou menos aos 13 anos. Se o aprendizado motor
envolve a ação coordenada do córtex e dos núcleos da base, a execução de
sequências novas de movimentos (drible) requer o comando e a supervisão
constantes do córtex motor. Mas à medida que elas são aprendidas e “cristalizadas”,
essas sequências são transferidas para o controle dos núcleos da base. No
entanto, habilidades motoras aprendidas até o início da adolescência
encontrarão um caudado ainda rico em possibilidades sinápticas, o que talvez
explique por que os jovens que aprenderam o futebol até os 12 anos parecem ser “talentos
naturais” (Herculano-Houzel, 2005).
Então,
todos os envolvidos com treinamento de futebol de jovens (até os 12 anos) encontra-se
em uma ótima situação para desenvolver sequências motoras novas, o que,
futuramente oportunizará jogadores mais criativos motoramente para uma equipe
implantar o seu Modelo de Jogo.
Referências
HERCULANO-HOUZEL, S. O Cérebro em Transformação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
SILVEIRA, L.C.de L. Neurociência e Futebol: fatos e mitos. Neurociências, vol. 6 nº 1 jan/mar de 2010.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. Barueri, SP: Manole, 2005