Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

sexta-feira, 24 de maio de 2013

NEUROCIÊNCIAS E A COMPLEXIDADE CEREBRAL DO TREINO EM FUTEBOL DE JOVENS

 
 
Quando pensamos em treinamento de futebol, isso nos remete a trabalhos físicos. Que os músculos devem estar bem preparados, a capacidade cardiorrespiratória em sua plenitude, entre outros.
 
 
Mas, se analisarmos que órgão que comanda todo esse sistema complexo que é o ser humano, nos deparamos com o cérebro. Sendo assim, os grandes jogadores, na sua maioria, iniciaram os seus treinamentos antes dos 12 anos. Isso era atribuída unicamente à “plasticidade sináptica” do cérebro infantil, explicando, a uma maior facilidade para mudanças sinápticas de acordo com a experiência de fato observada em animais jovens. Após a infância, essa plasticidade diminuiria, à medida que a maquinaria molecular das sinapses fosse substituída pela versão adulta, tornando o aprendizado mais difícil (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
No entanto, quem nunca ouviu sobre a “idade de ouro” da aprendizagem (6 a 11 anos). Essa fase seria exatamente o que relatei anteriormente, uma melhor época para aprender determinadas habilidades motoras. Após essa idade, há uma alteração drástica no cérebro adolescente que pode explicar o desempenho excelente adquirido até a puberdade, mas, não depois: a redução dos núcleos da base (gânglios da base) (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
Segundo Herculano-Houzel (2005), os núcleos da base são estruturas que ocupam a porção mais interna do cérebro, sob o córtex dos dois hemisférios. Embora não comandem diretamente os movimentos, eles geram e armazenam programas motores complexos como auxiliares para o córtex, e têm por isso uma função fundamental no aprendizado motor.
 
 
Segundo Kornhuber (1974); Grillner (2008) apud Silveira (2010), a execução de um movimento “encomendado” por outras regiões do sistema nervoso depende da interação entre o córtex cerebral, os núcleos da base e o cerebelo. Existem evidências que o processamento de informação em várias áreas do córtex cerebral leva à emissão de comandos motores pelas regiões motoras corticais e que então esses comandos são convertidos em programas ou padrões motores para a efetuação do movimento em coordenadas espaço-temporais. Esses programas motores são gerados por estruturas subcorticais, situadas no cerebelo e nos núcleos da base, de tal forma que os movimentos rápidos são pré-programados pelo cerebelo no que diz respeito ao momento e à duração da atividade, enquanto que os núcleos da base exercem papel semelhante nos movimentos lentos executados numa gama de movimentos (Kornhuber, 1974; Mink, 2008 apud Silveira, 2010). Finalmente, para aqueles movimentos que necessitam de análise sensorial sofisticada dos objetos, os padrões originados pelo cerebelo e núcleos da base são processados e refinados posteriormente no córtex cerebral (Mauk e Trach, 2008 apud Silveira, 2010).  
 
 
Após esses relatos, percebe-se a importância que os treinamentos de futebol na mais tenra idade têm, com o repertório motor. Pois, para o desenvolvimento, ou a qualidade das capacidades coordenativas, o repertório motor passa a ser um fator determinante, porque cada movimento, por mais novo que seja, é sempre executado com base em típicas combinações de coordenação (Harre, 1976 apud Weineck, 2005). Entretanto, o que explicaria a preocupação de algumas pessoas ligadas a treinamento em futebol de jovens que se preocupam tanto com a parte física?
 
 
Paul Thompsom e sua equipe (2003) apud Herculano-Houzel (2005) explica que, uma das estruturas que formam os núcleos da base, o caudado, perde 20% da sua substância cinzenta logo no começo da adolescência, entre 8 e 11 anos, e chega ao seu formato “maduro” mais ou menos aos 13 anos. Se o aprendizado motor envolve a ação coordenada do córtex e dos núcleos da base, a execução de sequências novas de movimentos (drible) requer o comando e a supervisão constantes do córtex motor. Mas à medida que elas são aprendidas e “cristalizadas”, essas sequências são transferidas para o controle dos núcleos da base. No entanto, habilidades motoras aprendidas até o início da adolescência encontrarão um caudado ainda rico em possibilidades sinápticas, o que talvez explique por que os jovens que aprenderam o futebol até os 12 anos parecem ser “talentos naturais” (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
Então, todos os envolvidos com treinamento de futebol de jovens (até os 12 anos) encontra-se em uma ótima situação para desenvolver sequências motoras novas, o que, futuramente oportunizará jogadores mais criativos motoramente para uma equipe implantar o seu Modelo de Jogo.
 
 
Referências
 
 
HERCULANO-HOUZEL, S. O Cérebro em Transformação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
 
 
SILVEIRA, L.C.de L. Neurociência e Futebol: fatos e mitos. Neurociências, vol. 6 nº 1 jan/mar de 2010.

WEINECK, J. Biologia do Esporte. Barueri, SP: Manole, 2005


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