Como professor e preparador técnico sempre me perguntei, como o ser humano toma as suas decisões?
Durante o jogo de futebol, os jogadores são constantemente chamados a tomar decisões e quanto mais rápido o fizerem tanto melhor, pois o jogo está crescentemente mais rápido sendo que a velocidade de execução distingue os melhores dos medianos. Mas, se nós nos apercebemos no sentido comum e nas imagens tradicionais, é lógico que, deveria transmitir as ideias com uma rapidez que desafiava todas as leis da matéria. Na verdade, fenômeno espantoso é que segundo nos diz Changeux (2002), é quase o contrário que acontece pois, o cérebro é lento, demasiado lento mesmo em relação a certos fenômenos físicos de base. E acrescenta:
"Com efeito, o sistema nervoso de todos os organismos vivos, incluído o homem, propaga os sinais elétricos a uma velocidade bem menor que a da luz. Isso significa que os sinais neuronais não exploram as ondas eletromagnéticas que provêm das forças fundamentais do mundo físico. Esta limitação física é uma herança que nos foi legada através da evolução das espécies, os organismos primitivos."(Changeux, 2002, p. 23-24)
Segundo Campos (2008, p. 37) num jogo de futebol entre equipes de topo assistimos a movimentos velozes, execuções em que parece que os jogadores adivinham as movimentações dos companheiros e as decisões têm de ser tomadas de forma espontânea e de acordo com o Modelo de Jogo estabelecido e treinado. Ora, a estas exigências contrapõe-se a lentidão dos processos cerebrais daí que algo tenha que estar por trás desta rapidez que caracteriza o jogo de futebol. Treinar para criar pré-representações e assim aumentar a velocidade dos acontecimentos fazendo-os depender de algo já previamente definido e não somente da solução que o cérebro teria que encontrar e realizar para cada momento do jogo.
Observando estas citações, podemos entender que o processo de Ensino-Aprendizagem-Treinamento tem fundamental importância na criação de hábitos (como automatismos). Desta forma, temos utilizar uma metodologia de treinamento que oportunize a tomada decisão em situação de jogo. Assim, a metodologia Analítica fica desprovida de sentido, pois, não tem no seu cerne essa preocupação. A metodologia de treinamento que mais oportuniza isso, é a Periodização Tática.
E o "Aqui e Agora" do jogo nada mais é do que, tomar decisões em situações de pressão. Por isso, o jogagor deve ser sobrecondicionado pelo treinamento a decidir em direção ao Modelo de Jogo Criado e as ideias de jogo que esse Modelo pretende para os momentos do jogo. Jacob e Lafargue (2005) mostraram que a consciência da intenção imediata de executar um ato, precede sempre o ato cerca de 200 mseg., sendo que nestas condições a única forma de salvaguardar o livre arbítrio é a de admitir que, este pequeno intervalo de tempo deixa a possibilidade à vontade consciente de opor a sua recusa a esta ação preparada e de proibir em última instância a sua realização material sendo que existem mesmo casos em que o potencial de ação motriz não é seguido de ação, ou seja, se a decisão do cérebro não é estritamente conforme as intenções prévias do sujeito, resta-lhe a possibilidade de não agir. Isto leva-nos a crer que teremos que treinar o cérebro a decidir de determinada forma, de acordo comos princípios estabelecidos, ou seja, condicionar as intenções prévias que surgem de forma inconsciente para que estas sejam congruentes com o Modelo de Jogo Criado. Esta necessidade é bem evidente quando sabemos que o tempo que medeia a consciência da intenção e a ação propriamente dita se cifra nuns escassos 200 mseg., o que nos indica de forma bem clara a relevância das intenções prévias dos jogadores serem concordantes com a ideia de jogo do treinador, caso contrário a tarefa emconseguir tal desiderato estará condenada ao insucesso.
Referência
CAMPOS, Carlos. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: A singularidade da INTERVENÇÃO DO TREINADOR como a sua impressão digital. MCsports, 2008.
Referência
CAMPOS, Carlos. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: A singularidade da INTERVENÇÃO DO TREINADOR como a sua impressão digital. MCsports, 2008.