Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

RONDO: REDUZIR SEM EMPOBRECER


A bola vai às posições, e não as posições vão até a bola. 
Juanma Lillo

Jamais fomos modernos! Essa frase se encaixa muito bem no tema de hoje. O rondo se origina do nosso tão utilizado "bobinho", que nada mais é, que uma prática deliberada do "caos", brincadeira de bola com os pés. São brincadeiras que surgiram na rua (pedagogia da "rua") e foram adaptadas na pedagogia do esporte.  Desta forma, o rondo nada mais é do que um neologismo no futebol. O que é normal com o avanço das ciências no esporte, principalmente no futebol e na sociedade atual de forma geral.

Porém, qual é a definição de rondo? O que os rondos desenvolvem nos jogadores/equipe? Sem essas respostas corremos o risco de cair no verbalismo.

O rondo é uma tarefa de treinamento onde um grupo em superioridade numérica tenta manter a posse da bola contra um grupo em inferioridade numérica. Os formatos podem ser, circulares, retangulares, hexagonais, entre outros. Os jogadores tem locais predeterminados ao invés de se moverem pelo campo de jogo. O que podem levar aos jogadores ocuparem espaços de certa maneira relacionadas a situações reais de jogo. Já, alguns formatos/variações de rondo envolvem movimentos fora do seu típico espaço de jogo.

Os rondos desenvolvem nos jogadores/equipe as tomadas de decisão; técnica mobilidade e agilidade; trabalho em equipe e entendimento coletivo; resolução de problemas, criatividade e competitividade.

Não é mais novidade que o jogo possui uma "integridade inquebrável", destarte, busca-se formas de treinar que respeitem esse processo de jogo, conseguindo um "reduzir sem empobrecer", que nos levará a um simplificação pretendida. E o rondo se encaixa nessa questão.

A relevância prática disto pode ser entendida pela presença do jogo dentro do processo de treinamento em futebol (Rondo). E isto, ocorrerá por uma redução sem empobrecimento do jogo formal enquanto objetos fractais do mesmo (MACIEL, 2011). Pois, o jogo de futebol pode ser entendido como um sistema caótico com organização fractal. No meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (OLIVEIRA et al., 2007). Brito (2003) afirma que, dentro de um modelo de jogo, existem vários princípios para serem trabalhados durante os treinos. O referido autor relata que, os princípios de jogo são linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos táticos dos jogadores quer no momento ofensivo, quer no momento defensivo, bem como nas suas transições. Como bem relata Maciel apud Tamarit (2013), é graças à redução sem empobrecimento que se asseguram as dominâncias desejadas para cada uma das unidades de treinamento. Uma redução que sendo qualitativa, uma vez que se reporta a complexidade de um jogar, também é quantitativa, já que a configuração dos exercícios (Rondo) de treinamento e o modo como o jogar é vivenciado (sem perda de Especificidade), requer que o treinador manipule e articule com parcimônia as seguintes variáveis: espaço, número de jogadores e tempo. Ou seja, reduzir sem empobrecer é sustentar essa redução na articulação de sentido com o todo. Corroborando com os autores, podemos entender um fractal como uma parte regular de um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o todo, independentemente da escala considerada. Se estilhaçarmos um sistema caótico em subsistemas, podemos neles encontrar, qualquer que seja a escala, uma auto-semelhança com o todo. Desta forma, os autores defendem ser possível emprestar uma organização fractal a todo o processo de treinamento, para obter uma auto-semelhança, tanto ao nível dos padrões de comportamento como da produção do processo, nas suas diferentes escalas de manifestação (SOARES, 2009).

Devemos impor uma inversão no binômio Volume - Intensidade, a Intensidade deve ser quem dita o ritmo das sessões de treinamento. O Volume, é o somatório de frações de máxima intensidade (Volume de Qualidade). A recuperação aqui faz parte integrante do treino. Recuperar entre os exercícios (jogos) e unidades de treino. Para que os jogadores estejam aptos a exercitar frações máximas de intensidade de acordo com a forma de jogar da equipe.  
 
Não há nada como ver a equipe que treinamos jogar bem. Vencer é importante, claro. Mas jogando bem é melhor ainda, utilizando habilidades técnicas, comportamentos táticos, intensidade física e aspectos psicológicos utilizados nos treinamentos. O rondo conquistou os profissionais do futebol. Como muitas tendências de sucesso, eles encontraram o seu lugar, e os treinadores com visão de futuro incorporaram os princípios por trás deles (frações de máximas intensidades) e os levaram para um nível mais elevado.  

O mais importante no futebol é perceber o futebol.

Boa semana!

Referências

BRITO, J. Documento de apoio à disciplina de Opção II – Futebol, UTAD, Vila Real. Não Publicado, 2003.

MACIEL, J. Não o deixes matar o bom futebol e quem o joga. Pelo Futebol Adentro não é perda de tempo! Portugal: Chiado, 2011.

OLIVEIRA, B. F. M. et al. Mourinho: por qué tantas victorias? Espanha: MCSports, 2007.

SOARES, P. Transições: uma instantaneidade suportada pelo “equilíbrio” ...a representatividade da fluidez que o “jogar” deve manifestar. Monografia de Licenciatura. Não Publicado. Porto: 2009.

TAMARIT, X. Periodización Táctica vs Periodización Táctica. Espanha: MBF, 2013.
 

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