Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

DESACELARAÇÃO HORIZONTAL: VACINA CONTRA LESÕES?

 

Fig. 1: Desaceleração Horizontal

Qual deve ser o objetivo do treinamento? Na minha humilde opinião é promover o desenvolvimento atlético e a redução das lesões, a fim de melhorar o desempenho. Para isso, é preciso de uma abordagem integrada, que foque na pessoa por completo ao invés de componentes individuais. 

Nas últimas publicações tratamos do sprint e agora daremos sequência no aspecto da corrida tratando da desaceleração. 

A fase de desaceleração é uma etapa de transição, na qual o atleta tenta controlar a inércia (momentum) gerada na etapa de velocidade máxima (FALSONE apud LIEBENSON, 2017). Não há dúvida que, como uma expressão da potência e velocidade explosivas, a aceleração carrega algum risco de lesão em função de forças intensas aplicadas a tecidos moles, tecido conjuntivo e articulações. Porém, pode-se argumentar que mais lesões ocorrem durante a desaceleração (FALSONE, 2019). 

Muito tempo e dedicação foi empregado no estudo das atividades de alta de intensidade (sprint). Um grupo de pesquisadores traz à tona outra ação locomotora de alta intensidade, que talvez receba menos atenção: a desaceleração (McBURNIE, et al., 2022). Embora seja um termo genérico para descrever um processo realizado em muitas tarefas atléticas, desaceleração (ou seja, aceleração negativa) no contexto desta discussão refere-se à ação realizada durante cenários esportivos que antecede uma mudança de direção (CoD), ou uma ação realizada imediatamente após um sprint para reduzir a velocidade (McBURNIE, et al., 2022).

No futebol desacelerações de alta intensidade (> -2,5 m/s2) são executadas com mais frequência do que acelerações equivalentemente intensas durante partidas oficiais. Fundamentalmente, desacelerações de alta intensidade estão ligadas a padrões de movimentos comumente realizadas em partidas/treinos, onde os atletas precisam reduzir rapidamente o impulso para fugir ou perseguir oponentes durante as transições (McBURNIE, et al., 2022).

Durante a desaceleração horizontal é necessário um alto grau de pré-ativação muscular para suportar efetivamente os grandes momentos externos que são gerados no contato com o solo. Especificamente, os altos níveis de ativação podem facilitar a produção de altas forças musculares internas em prazos mais curtos, permitindo subsequentemente que o impulso de frenagem externo necessário seja gerado para reduzir o momento horizontal. 

Fig. 2: Desaceleração Horizontal com Mudança de Direção (CoD)

A desaceleração depende do próximo padrão de movimento que será realizado. Assim, a fase de desaceleração prepara o corpo colocando-o em um posicionamento otimizado para iniciar a próxima fase do movimento. 

Como mencionado anteriormente, desacelerações de alta intensidade são realizadas com mais frequência do que acelerações de intensidade equivalente em vários esportes coletivos. A desaceleração pode ser considerada uma qualidade fundamental subjacente à velocidade multidirecional do jogador de futebol. Atletas que possuem capacidades avançadas de aceleração e velocidade máxima podem apresentar capacidades de desaceleração reduzida, isso pode supor que esses atletas identificados provavelmente estão despreparados para as demandas físicas do esporte de equipe competitivos, devido às demandas de carga ainda maiores para realizar desacelerações não planejadas no jogo. Com essas informações, juntamente com a avaliação da competência de movimento do atleta e capacidade física (particularmente força excêntrica e reativa) os praticantes podem caracterizar mais facilmente déficits biomecânicos ou neuromusculares específicos (McBURNIE, et al., 2022).

Embora o desenvolvimento e manutenção contínuos da atividade locomotora de alta velocidade continuem sendo a peça vital do quebra-cabeça do desempenho em esportes como o futebol. Durante o trabalho de campo, os atletas precisam ser regularmente expostos a desaceleração de alta intensidade dentro do seu microciclo semanal, e o trabalho complementar pode ser recomendado da mesma forma que a suplementação das corridas de alta intensidade (HSR) são agora comumente utilizadas. Destarte, a desaceleração horizontal deve ser treinada como uma habilidade de movimento em conjunto com a melhoria da capacidade de força excêntrica e qualidades de desempenho neuromuscular no treinamento fora do campo (McBURNIE, et al., 2022). Afinal, como já dizia o slogan de uma famosa companhia de pneus "Força sem controle é nada." Nesse caso específico, velocidade sem freio é nada.

A pergunta que foi feita no título da publicação não é tão simples de ser respondida. Mais pesquisas precisam ser feitas para que a resposta possa ser positiva e/ou negativa. Outra questão que precisa ser levantada quanto a desaceleração é o próximo padrão de movimento, que depende dos graus de angulação para a mudança de direção (CoD), 45º, 90º e 180º cada um com um grau de intensidade diferente.    

Boa semana!

Referências

FALSONE, S. A corrida em esporte. in LIEBENSON, C. Treinamento funcional na prática desportiva e reabilitação neuromuscular. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 263-272.

FALSONE, S. Reduzindo o tempo da reabilitação ao desempenho. Rio de Janeiro: FitnessPro Education, 2019. 

McBURNIE, A.; HARPER, D.J.; JONES, P. A.; DOS SANTOS, T. Deceleration Training in sports: another potential 'vacine' for sports-related injury? Sports Medicine 2022. 52:1-12.

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