Em uma partida de futebol, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino (GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999). Por isso, a necessidade de criação de um padrão de jogo através da geometria fractal.
A geometria fractal pode ser mais bem compreendida dentro do processo de treinamento de futebol, fazendo uma analogia simples. Quando uma fotografia é feita de uma partida de futebol, quantos jogadores aparecem na mesma? Irão aparecer quantos jogadores serão responsáveis pelo setor onde a fotografia for tirada. Por exemplo, é retirada uma fotografia, quantos jogadores vão aparecer na mesma? Neste caso, na figura acima temos um 8 vs 9, onde também podemos identificar mais três micro-confrontos, 2 vs 2; 3 vs 2 e 1 vs 1.
E isso são os fractais que estão representando o todo. O micro representa o macro. Pois, o padrão de comportamento diz respeito ao modelo da equipe, o padrão dos comportamentos coletivos, o padrão dos comportamentos setoriais, o padrão dos comportamentos intersetoriais, o padrão dos comportamentos individuais e o padrão das respectivas interações (CAMPOS, 2008). E essas interações que representam o modelo da equipe devem ser treinadas dentro da geometria fractal. Ou, o intitulado Jogo Fractal. Os jogadores deverão entender os objetivos e as finalidades dos exercícios (Jogos Fractais) dentro do jogo todo. Para isso será fundamental o conhecimento global do jogo por parte dos jogadores, imagem mental e vivencia do mesmo (GUILHERME OLIVEIRA, AMIEIRO e FRADE s/d apud TAMARIT, 2013). Isso em substituição do jogo reduzido, que na sua grande maioria ocorre sem objetivos táticos.
A relevância prática disto pode ser entendida pela presença do jogo dentro do processo de treinamento em futebol (Jogo Fractal). E isto, ocorrerá por uma redução sem empobrecimento do jogo formal enquanto objetos fractais do mesmo (MACIEL, 2011). Pois, o jogo de futebol pode ser entendido como um sistema caótico com organização fractal. No meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (OLIVEIRA et al., 2007). Brito (2003) afirma que, dentro de um modelo de jogo, existem vários princípios para serem trabalhados durante os treinos. O referido autor relata que, os princípios de jogo são linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos táticos dos jogadores quer no momento ofensivo, quer no momento defensivo, bem como nas suas transições. Como bem relata Maciel apud Tamarit (2013), é graças à redução sem empobrecimento que se asseguram as dominâncias desejadas para cada uma das unidades de treinamento. Uma redução que sendo qualitativa, uma vez que se reporta a complexidade de um jogar, também é quantitativa, já que a configuração dos exercícios (jogos) de treinamento e o modo como o jogar é vivenciado (sem perda de Especificidade), requer que o treinador manipule e articule com parcimônia as seguintes variáveis: espaço, número de jogadores e tempo. Ou seja, reduzir sem empobrecer é sustentar essa redução na articulação de sentido com o todo. Corroborando com os autores, podemos entender um fractal como uma parte regular de um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o todo, independentemente da escala considerada. Se estilhaçarmos um sistema caótico em subsistemas, podemos neles encontrar, qualquer que seja a escala, uma auto-semelhança com o todo. Desta forma, os autores defendem ser possível emprestar uma organização fractal a todo o processo de treinamento, para obter uma auto-semelhança, tanto ao nível dos padrões de comportamento como da produção do processo, nas suas diferentes escalas de manifestação (SOARES, 2009).
Referências
CAMPOS, C. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: a singularidade da intervenção do treinador como sua impressão digital. Espanha: MCSports, 2008.
GARGANTA, J.; GRÉHAIGNE, J. F. Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Movimento, Ano V, n 10, 1999.
MACIEL, J. Não o deixes matar o bom futebol e quem o joga. Pelo Futebol Adentro não é perda de tempo! Portugal: Chiado, 2011.
OLIVEIRA, B. F. M. et al. Mourinho: por qué tantas victorias? Espanha: MCSports, 2007.
SOARES, P. Transições: uma instantaneidade suportada pelo “equilíbrio” ...a representatividade da fluidez que o “jogar” deve manifestar. Monografia de Licenciatura. Não Publicado. Porto: 2009.
TAMARIT, X. Periodización Táctica vs Periodización Táctica. Espanha: MBF, 2013.