O método de preparação desportiva está diretamente ligado ao objetivo pretendido, o qual representa um sistema estável de ações consecutivas direcionadas para a solução de tarefas programadas anteriormente (Gomes, 2009). Mas, em se tratando de futebol, o processo de preparação de equipes envolve um conjunto de procedimentos e decisões que resulta da forma como se vê o jogo e o processo de ensino-aprendizado-treinamento (EAT).
Segundo Filipe Martins (2003 apud Gomes, 2006) existem várias tendências de treino em futebol:
A originária do Leste da Europa (LE), caracteriza-se pela divisão da temporada em [períodos], estruturados para atingir picos de forma em determinados momentos competitivos. Para além disso, este método de preparação confere primazia à variável física, assente numa preparação geral e sem qualquer ligação com a forma de jogar. Sendo assim, preconiza um processo abstrato centrado nos fatores da carga física, através de métodos analíticos.
Segundo Gomes (2009), o método de ensino dividido (analítico-sintético) representa a divisão da atividade motora (AM) em elementos ou em fases relativamente independentes, que podem ser aprendidos de modo autônomo, com sua posterior ligação globalizada. O autor segue relatando que, a possibilidade de concentrar a atenção dos atletas de modo mais completo, na fase destacada, e seu aperfeiçoamento mais detalhado, constitui o seu aspecto positivo. Durante o trabalho com os componentes da técnica, excluise a execução repetida das partes e das fases ainda não assimiladas. A execução das partes isoladas é menos cansativa do que a execução da ação integral. Por conseguinte, é possível o aumento do número de repetições de elementos em ação. Mas, em contrapartida, o autor nos releva que, uma das deficiências consideráveis desse método é que ele não deve ser aplicado nos casos em que a AM não possa ser dividida (ex.: nos saltos na ginástica, no chute na bola) ou não possa ser dividida sem considerável desfigurações das partes destacadas.
Observando esses relatos, uma pergunta surge: Por que essa metodologia é tão utilizado nos treinamentos de futebol?
Sabemos que o futebol é um jogo desportivo coletivo de invasão de ordem essencialmente tática. Onde, a sua complexidade ainda é menosprezada por muitos profissionais que atuam no seu ensino. A grande utilização desse método de treinamento, ao que nos parece, deve ser devido a uma questão de ensinar o gesto motor perfeito. Utilizando parâmetros biomecânicos para a sua aprendizagem. Desta forma pergunto: será que Cristiano Ronaldo treinou o chute de calcanhar dentro do método analítico?
No processo ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) do futebol devemos sempre oportunizar a tomada de decisão dentro das sessões de treinamento. Pois, se esse não for o foco das sessões, obteremos jogadores com pouca propriedade de realizar essas tarefas tão comuns no jogo de futebol atual e, consequentemente, teremos cada vez menos jogadores com poder de decisão própria no futebol.
O aqui agora do jogo é único. E cada jogador deve ter clareza do que realizar nos momentos do jogo em prol do bem coletivo da equipe.
Referências
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GOMES, M. S. Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés Dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - um estudo de caso- Porto, 2006.