Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

quarta-feira, 20 de julho de 2022

EPICENTRO DO JOGO, ESPAÇOS DE FASE E JOGO DE POSIÇÃO

                                    Figura 1: Fotograma
Legenda: ACB= Atacante com a Bola; ASB= Atacante sem a Bola; DSB= Defensor sem a Bola

Muitas pessoas não gostam de futebol. Sim, eu já ouvi muito isso na minha vida. Por outro lado, existem muitas pessoas espalhadas pelo mundo que dedicam grande parte das suas vidas a esse esporte. O Brasil é considerado o "País do Futebol" (no site de busca mais famoso encontramos aproximadamente 33.100.000 resultados sobre esse tema). Alguns tratam o esporte futebol como sendo algo simples, uma equipe que ataca e a outra que se defende. E seguem dizendo que, "se nenhuma das duas equipes errar, o resultado será 0 X 0". 

Confesso, eu já fui um desses. Míope pela paixão, assistindo jogos e não compreendendo a complexidade que eles nos mostram.

Para que possamos começar a compreender a complexidade do jogo de futebol, devemos entender sobre às referências espaciais. Olhando o fotograma acima, temos dentro do círculo vermelho seis (6) jogadores, sendo um deles portador da bola. Destarte, o epicentro do jogo é o local onde se encontra a bola em determinado momento (tempo) do jogo (TEOLDO, et. al. 2015). Apoiados na Geofísica, o epicentro é o ponto da superfície da Terra onde primeiramente chega a onda sísmica. Entretanto, o epicentro é o ponto de maior concentração e/ou liberação de energia. Quando relaciono isso com o futebol, quero dizer que, entre todos os elementos e forças de interação que provocam respostas e contra-respostas em outros de um forma variada a cada momento, o maior dentre eles, o que possui mais forças gravitacionais é a bola (PERAITA, 2021). 

O centro do jogo (no fotograma acima representado pelo círculo vermelho) é uma circunferência estabelecida por um raio de 9,15 metros (distância regulamentar no futebol) a partir do epicentro do jogo. Sobre essa referência espacial (zona onde a bola se encontra) irá gerar 22 vetores de força diferentes que vão condicionar todos os comportamentos. Haverá jogadores cujas decisões sobre a sua localização, posicionamento e conduta serão influenciadas (para mais ou para menos) pela posição da bola (PERAITA, 2021). 

Desta forma, podemos classificar os papéis no jogo do seguinte modo:

  • Momento com a Bola
  • Atacante com a Bola (Microssistema de ação de jogo);
  • Atacante sem a Bola no Centro do Jogo (Mesossistema de ação do jogo);
  • Atacante sem a Bola Fora do Centro do Jogo (Macrossistema de ação do jogo).
  •  Momento sem a Bola
  • Defensor do atacante com a Bola (Microssistema de ação de jogo);
  • Defensor do atacante sem a Bola no Centro do Jogo (Mesossistema de ação do jogo);
  • Defensor do atacante sem a Bola Fora do Centro do Jogo (Macrossistema de ação do jogo). 
A partir dessa compreensão, algumas equipes que antes se organizavam apenas para proteger um gol e atacar o outro, começaram a se estruturar em torno da bola. Desse insight, nasce o Jogo de Posição (PERAITA, 2021). Outro fator que merece menção aqui é a REC 5 (recuperar a posse de bola após a sua perda em até 5 segundos), o centro do jogo é uma ótima referência espacial para isso (por isso o seu entendimento tanto por comissão técnica e plantel se faz necessário). Pois, dentro do espaço do centro do jogo é preciso diferenciar, por sua vez, entre o espaço de intervenção, próprio do atacante com a bola e o defensor do atacante com a bola e o espaço de ajuda mútua onde um número reduzido de atacantes sem a bola próximos a ele participam nessa situação ajudando ao executor a concluir sua atuação de maneira exitosa. Entretanto estes acontecimentos estão acontecendo em um lugar concreto do espaço de jogo, a totalidade do espaço restante deve estar ocupada de uma determinada maneira pelo restante dos integrantes da equipe e todos eles devem estar em situação de cooperação com os que estão na interação de ajuda mútua. Os indivíduos que cooperam são ajustados espacialmente ao espaço de intervenção em diferentes coordenadas que atendem aos sistemas de jogo globais que o treinador tenha proposto para essa partida e que tem uma diferente interpretação em função da fase de ataque (momento com a bola) ou defesa (momento sem a bola) em que se encontra à equipe. Destarte, o espaço que ocupam os jogadores que estão cooperando se denomina espaço fora do centro de jogo ou espaços de fase para diferenciá-lo do espaço do centro do jogo. Então temos que toda a equipe está ocupando um espaço de fase segundo a fase tática em que está comprometida e, em algum lugar desse espaço, há um grupo menor que ocupa um espaço singular no entorno da bola que é o espaço de intervenção onde se estabelecem relações de ajuda mútua de um alto valor afetivo (SEIRUL-LO, 2004).

O jogo aparentemente simples para alguns, esconde muitas nuances de ordem coordenativa, afetiva e mental. O jogo de futebol precisa do equilíbrio entre os momentos de "ter a bola" e o "não ter a bola" (fluxo contínuo) suportado por um sentimento organizacional coletivo. 

Ufa, espero que tenham gostado. Prometo ser mais assíduo nas publicações, se tiverem algum assunto que gostariam que eu trate aqui, sou todo ouvidos. Deixem o seu comentário que farei o possível para atender.

Forte Abraço!

Referências

TEOLDO, Israel. GUILHERME, José. GARGANTA, Júlio. Para um futebol jogado com ideias: concepção, treinamento e avaliação do desempenho tático de jogadores e equipes. 1 ed. Curitiba: Appris, 2015.

PERAITA, Agustín. Espaços de Fase: Como Paco Seirul-lo mudou a tática para sempre. 1 ed. Porto Alegre: Simplíssimo, 2021.

SEIRUL-LO, Francisco. Estructura socioafectiva. Master Profesional en Alto Rendimento en Deportes de Equipo. Área Coordenativa, Barcelona. Byomedic - Fundació F.C Barcelona.