Já não é novidade para ninguém que, o Futebol de Rua era o grande formador de jogadores num passado não muito distante. Rinus Michels treinador holandês, que no ano de 1985, foi eleito pela FIFA, o melhor treinador do século XX, refere que o Futebol de Rua é o modo de aprendizagem mais natural que se conhece.
Segundo Maciel (2008), Michels (2001), procurando desenvolver um Modelo de Formação para o seu país, capaz de se assumir como uma alternativa para o Futebol de Rua, constatou que a grande diferença entre as práticas de outrora e as da altura residia ao nível de tempo de prática. Pois bem, traçando um paralelo, hoje temos as Escolas de Futebol, que, corroborando com Maciel (2008), podem ajudar na criação de Úteros Artificiais.
Mas, qual é o primeiro problema? No Futebol de Rua a quantidade de horas praticadas era próxima de 25 horas semanais. Nas Escolas de Futebol (na sua quase totalidade) teremos três sessões de treinamentos semanais com, 1h15min. há 1h30min. aproximadamente. O que resulta por volta de 4h30min. semanais de prática. Mesmo que esses praticantes, tenham algumas outros horas durante a semana dedicadas a prática do Futebol, não teremos a mesma quantidade de horas que existia com a prática do Futebol de Rua de antigamente. Pois, é notório que hoje, a carga torrencial de matérias e de horas letivas que a escola crescentemente impõe aos estudantes impossibilita essa grande quantidade de prática de futebol.
Cientes disso, o que nós Profissionais envolvidos no processo e responsáveis pelo papel de moderadores e facilitadores da aprendizagem devemos fazer? Se a quantidade de horas prática não nos é suficiente, a qualidade tem que ser. Pois, segundo Tamarit (2007), apesar de ser a quantidade algo necessário, é fundamental que o treino seja de qualidade.
Essa qualidade depende do treinador, pois, mesmo sendo o Futebol de Rua uma maneira ótima para o processo ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) do futebol, não podemos nos esquecer do que relata Rink (2001):
Nem sempre o aluno (jogador) está pronto para construir as suas próprias aprendizagens, principalmente quando é confrontado com assuntos completamente novos, sem pontos de referência, em situações de descoberta não guiada, isto é, sem qualquer orientação por parte do professor.
Outro problema que observo, é que em Escolas de Futebol que se pautam nas metodologias convencionais, não há espaço para o erro. Segundo Tani (2005 apud Maciel, 2008, p. 291), creditam que o processo de aprendizagem se constitui como sendo uma sucessão de respostas corretas, ignorando-se deste modo que o erro é intrínseco ao Homem, sendo mesmo determinante para a construção do conhecimento.
Para que as Escolas de Futebol possam ser mesmo uma alternativa para o Futebol de Rua (Úteros Artificiais), segundo Michels (2001) Fonseca (2006) Tamarit (2007) apud Maciel (2008, p.292):
O Futebol de Rua pode considerar-se como o processo mais natural de Aprendizagem do Jogo, uma vez que através das várias vivências que proporcionava, permitia que os Jogadores aprendessem com os erros cometidos, desenvolvendo consequentemente o seu Talento. No Futebol de Rua, aprende-se com os erros, fato que permite uma Aprendizagem pessoal com base nestes, que vão contudo coabitar com a adaptabilidade aumentada dos Jogadores. Por esse motivo, a intervenção do treinador deverá guiar o Jogador no sentido deste Aprender por si próprio, e não proibir ou punir o erro.
Espero que tenha conseguido passar a mensagem.
Referências
MACIEL, J. A(In)(Corpo)r(Acção) Precoce dum jogar de Qualidade como Necessidade (ECO)ANTROPOSOCIALTOTAL: Futebol um Fenómeno AntropoSocialTotal, que "primeiro se estranah e depois se entranha" e ... logo, logo, ganha-se! Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário na opção de Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008.
RINK, J. Investgating the assumptions of pedagogy. Journal of Teaching in Physical Education, 20, 2, 112-128. 2001.
TAMARIT, X. Que és la "Periodización Táctica"? Vivenciar el juego para
condicionar el Juego. MCSports, 2007.
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