Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

domingo, 24 de março de 2013

MODELO DE JOGO - EXISTE IDADE PARA A SUA IMPLANTAÇÃO?

 
 
 
Estamos nos acostumando a ouvir esse termo, Modelo de Jogo. Modelo de Jogo de uma forma simplificada, seria a forma como a equipe atua (padrão de comportamento dos jogadores) em conformidade com a ideia do seu treinador dos Princípios e Subprincípios do JOGO, sendo assim, dando uma identidade (DNA) a essa equipe.
 
Mas, em se tratando de treinamento de crianças e adolescentes, existe uma idade para a sua aplicação? Em fevereiro, tive a oportunidade de conversar alguns minutos com o Professor Dr. Wilton Carlos de Santana (www.pedagogiadofutsal.com.br) sobre esse assunto, ele me indagou sobre qual a idade para começar a trabalhar o Modelo de Jogo? Eu o respondi que já inicio o processo com os meninos do Sub - 13. Vamos as explicações.
 
Para poder afirmar isso, terei que me embasar em autores que trabalhem o desenvolvimento perceptivo-motor. Williams (1983 apud Gallahue e Ozmun, 2005, p. 309) relatou que a acuidade visual dinâmica torna-se crescentemente refinada durante três faixas etárias: de 5 anos a 7 anos; de 9 anos a 10 anos e de 11 anos a 12 anos de idade. E, que a percepção de movimento exata continua a se desenvolver até cerca dos 10 anos a 12 anos de idade. Qual a relação da acuidade visual com o Modelo de Jogo? Se pretendo que a minha equipe mantenha o bloco defensivo sempre próximo, necessito entender que essa etapa do desenvolvimento perceptivo-motor só tem uma grande melhora após os 12 anos de idade. E, os autores relatam ainda que, os meninos demonstram melhor acuidade visual (tanto dinâmica como estática) do que as meninas em todas as idades. Então, para o futebol feminino o tempo será outro.
 
Pautados em Piaget (1964b, 1974 apud Fonseca, 2008, p. 90-91), observamos que o Estágio do Desenvolvimento Intelectual da criança de 7 anos a 11 anos encontra-se na Inteligência Concreta (Operacional), que significa, pensamento lógico, classificações, seriações, acabamento de certos sistemas de conjunto, cooperação lúdica, combinação entre o figurativo e o operacional. Fatos esses, que corroboram a não implantação do Modelo de Jogo para essas faixas etárias. Seguindo, os autores afirmam que, após os 12 anos de idade, encontra-se a Inteligência Abstrata (Formal), que implica em, generalização e abstração, o pensamento já assente sobre enunciados verbais, opera por meio de conjugação espaço-temporais, reciprocidade nas operações mentais. Fatos que corroboram a utilização de uma implantação do Modelo de Jogo a partir dos 13 anos de idade.
 
Por outro lado, de acordo com Cruyff (2002 apud Maciel, 2008, p. 294) até os 14 anos de idade é fundamental deixar os jovens jogar e desfrutar, uma faixa etária igualmente sugerida como referencial  por Marisa Gomes, que sugere que sobretudo até esse período, às crianças deve ser proporcionada uma "variabilidade cultural".
 
Sabemos que, antes dos 13 anos e 14 anos de idade as crianças são egocêntricas. Segundo Maciel (2008, p. 295) assim, as idades anteriores a isso são ótimas para desenvolver a Relação com a Bola, e que posteriormente o expressem de forma exponenciada submentendo-o e sustentando-o num jogar mais complexo alicerçado num plano coletivo. A Aculturação a esse jogar (Modelo de Jogo), como forma prioritária apenas se deverá verificar em idades mais adiantadas, momento em que a lógica do processo, se reverte. Isto é, a dominância deverá deixar de ser sobre o plano individual, para se centrar predominantemente, nas questões relacionadas com a Organização de Jogo, as quais comportam outra ordem de complexidade, para a qual os jovens deverão encontrar-se preparados. Maciel (2008) cita Meinel (1984) resaltando que, daí a sugestão dos 14 anos de idade, atendendo às características padronizadas desta faixa etária nos parecendo mais ajustada.
 
Lógico que, o treinador deve ter conhecimento que alguns meninos terão essa possibilidade antes ou após essa faixa etária. O treinador é o responsável, pois, esse momento de transição não deve ser igual para todos os jogadores. Quando é que cada jogador se encontra em nível de assimilar um nível de complexidade de jogo diferente, menos centrado no Eu e na bola, passando deste modo, do "jogar bola" para o "Jogar Futebol" (Maciel, 2008, p. 295).
 
Eu acredito que com 13 anos de idade isso seja possível! E, em idades mais precoces devemos ainda apresentar alguns Princípios básicos do Jogo de Futebol as crianças como:
  • Largura e Profundidade do campo;
  • Refutar a inferioridade numérica;
  • Evitar a igualdade numérica; e
  • Criar superioridade numérica.

Sem isso, ficará mais difícil a implantação do Modelo de Jogo posterior. 

Referências

FONSECA, V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3 ed. São Paulo: Phorte, 2005.

MACIEL, J. A(In)(Corpo)r(Acção) Precoce dum jogar de Qualidade como Necessidade (ECO)ANTROPOSOCIALTOTAL: Futebol um Fenómeno AntropoSocialTotal, que "primeiro se estranah e depois se entranha" e ... logo, logo, ganha-se! Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário na opção de Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008.

sábado, 16 de março de 2013

A ESSÊNCIA... GERIDA EM ÚTEROS ARTIFICIAIS

 
 
Já não é novidade para ninguém que, o Futebol de Rua era o grande formador de jogadores num passado não muito distante. Rinus Michels treinador holandês, que no ano de 1985, foi eleito pela FIFA, o melhor treinador do século XX, refere que o Futebol de Rua é o modo de aprendizagem mais natural que se conhece.
 
Segundo Maciel (2008), Michels (2001), procurando desenvolver um Modelo de Formação para o seu país, capaz de se assumir como uma alternativa para o Futebol de Rua, constatou que a grande diferença entre as práticas de outrora e as da altura residia ao nível de tempo de prática. Pois bem, traçando um paralelo, hoje temos as Escolas de Futebol, que, corroborando com Maciel (2008), podem ajudar na criação de Úteros Artificiais. 
 
Mas, qual é o primeiro problema? No Futebol de Rua a quantidade de horas praticadas era próxima de 25 horas semanais. Nas Escolas de Futebol (na sua quase totalidade) teremos três sessões de treinamentos semanais com, 1h15min. há 1h30min. aproximadamente. O que resulta por volta de 4h30min. semanais de prática. Mesmo que esses praticantes, tenham algumas outros horas durante a semana dedicadas a prática do Futebol, não teremos a mesma quantidade de horas que existia com a prática do Futebol de Rua de antigamente. Pois, é notório que hoje, a carga torrencial de matérias e de horas letivas que a escola crescentemente impõe aos estudantes impossibilita essa grande quantidade de prática de futebol.
 
Cientes disso, o que nós Profissionais envolvidos no processo e responsáveis pelo papel de moderadores e facilitadores da aprendizagem devemos fazer? Se a quantidade de horas prática não nos é suficiente, a qualidade tem que ser. Pois, segundo Tamarit (2007), apesar de ser a quantidade algo necessário, é fundamental que o treino seja de qualidade.
 
Essa qualidade depende do treinador, pois, mesmo sendo o Futebol de Rua uma maneira ótima para o processo ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) do futebol, não podemos nos esquecer do que relata Rink (2001):
 Nem sempre o aluno (jogador) está pronto para construir as suas próprias aprendizagens, principalmente quando é confrontado com assuntos completamente novos, sem pontos de referência, em situações de descoberta não guiada, isto é, sem qualquer orientação por parte do professor.
 
 Outro problema que observo, é que em Escolas de Futebol que se pautam nas metodologias convencionais, não há espaço para o erro. Segundo Tani (2005 apud Maciel, 2008, p. 291), creditam que o processo de aprendizagem se constitui como sendo uma sucessão de respostas corretas, ignorando-se deste modo que o erro é intrínseco ao Homem, sendo mesmo determinante para a construção do conhecimento.
 
Para que as Escolas de Futebol possam ser mesmo uma alternativa para o Futebol de Rua (Úteros Artificiais), segundo Michels (2001) Fonseca (2006) Tamarit (2007) apud Maciel (2008, p.292):
O Futebol de Rua pode considerar-se como o processo mais natural de Aprendizagem do Jogo, uma vez que através das várias vivências que proporcionava, permitia que os Jogadores aprendessem com os erros cometidos, desenvolvendo consequentemente o seu Talento. No Futebol de Rua, aprende-se com os erros, fato que permite uma Aprendizagem pessoal com base nestes, que vão contudo coabitar com a adaptabilidade aumentada dos Jogadores. Por esse motivo, a intervenção do treinador deverá guiar o Jogador no sentido deste Aprender por si próprio, e não proibir ou punir o erro.
 
Espero que tenha conseguido passar a mensagem.
 
Referências
 
MACIEL, J. A(In)(Corpo)r(Acção) Precoce dum jogar de Qualidade como Necessidade (ECO)ANTROPOSOCIALTOTAL: Futebol um Fenómeno AntropoSocialTotal, que "primeiro se estranah e depois se entranha" e ... logo, logo, ganha-se! Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário na opção de Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008.
 
RINK, J. Investgating the assumptions of pedagogy. Journal of Teaching in Physical Education, 20, 2, 112-128. 2001.
 
TAMARIT, X. Que és la "Periodización Táctica"? Vivenciar el juego para condicionar el Juego. MCSports, 2007.
 

 
 
 




sábado, 9 de março de 2013

A MACROESTRUTURA DO PROCESSO DE PREPARAÇÃO DOS TREINADORES EM FUTEBOL

Foto
 
Fazendo um paralelo com a Teoria e Metodologia do Treinamento Desportivo (TMTD), sobre a macroestrutura do processo de preparação de desportistas, todos, temos conhecimento que existem etapas há serem cumpridas para obtermos jogadores com qualidade. Segundo Platonov (2008) essas etapas são:
 
1. Etapa da Preparação Inicial;
2. Etapa da Preparação Básica Preliminar;
3. Etapa da Preparação Básica Especializada;
4. Etapa da Preparação para Obtenção dos Melhores Resultados;
5. Etapa da Concretização Máxima das Capacidades Individuais;
6. Etapa da Manutenção da Alta Maestria;
7. Etapa de Diminuição Gradual dos Resultados; e
8. Etapa de Encerramento da Carreira Desportiva de Alto Nível.
 
Pergunto: existe uma Macroestrutura do Processo de Preparação dos Treinadores em Futebol no Brasil?  
 
Sei que, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) oferece um curso para formação de treinadores na Granja Comary, com diferentes níveis de atuação, tais como, Escola de Futebol e Categorias de Base até há atuação no Futebol Profissional. Mas, não sei qual a validade disso, pois, como é do conhecimento de todos, no Brasil qualquer pessoa pode ser treinador de futebol. Com formação, ou, sem formação alguma.
 
Na edição do Footecon de 2013, Eduardo Conde Tega (Diretor Executivo da Universidade do Futebol), apresentou uma palestra sobre a formação do treinador de futebol na Europa, nesta fala, ele apresenta o quanto é diferente essa Macroestrutura de Formação para a atuação de técnicos de futebol na Europa em relação ao Brasil.
 
Observando isso, alguns questionamentos surgem. Apenas referente a Organização Defensiva e a sua eficácia. Para assegurarmos uma correta Organização Defensiva, é conveniente que os treinadores se façam uma série de perguntas que possam esclarecer muitas coisas:
 
1. Que tipo de marcação é mais efetiva diante da Organização Ofensiva que apresenta o adeversário?
2. Que problemas podem surgir em relação ao tipo de marcação que escolhemos?
3. É possível tirar vantagem ofensiva após uma correta atuação defensiva?
4. Possuo os jogadores com características para desempenhar tal função defensiva?
5. Conheço os Princípios Fundamentais do Futebol e implanto-os na minha equipe?
 
Lembrando que o Jogo de Futebol acontece num âmbito sistêmico aleatório, assim, teremos que nos preocupar em defender, atacar e transitar entre esses dois momentos, sem dissociá-los (fragmentá-los).
 
"Quem só teoriza, não sabe. Quem só pratica, repete. O saber nasce da conjugação da teoria e da prática."

 (Manoel Sérgio)
 
Referência

PLATONOV, V. N. Tratado geral do treinamento desportivo. São Paulo: Phorte, 2008.