No
Brasil foi criado um modelo de periodização (Prof.: Dr. Antônio Carlos Gomes) para atender o calendário dos
desportos coletivos, principalmente, o futebol, que, por apresentar uma grande
quantidade de jogos na temporada, dificulta a distribuição das cargas de
treinamento no macrociclo. O modelo nasce em virtude de o futebol não
apresentar tempo hábil (grande reclamação dos treinadores no início do ano em
todos os programas esportivos nacionais) para uma boa preparação dos jogadores antes
do início dos estaduais (GOMES, 2009).
No futebol moderno, o técnico tem dificuldades de prescrever o conteúdo do treinamento, pois o calendário apresenta uma grande quantidade de jogos em âmbito regional, nacional e internacional que devem ser disputados com alto rendimento devido aos sistemas utilizados na classificação.
Com esse sistema, o volume do treinamento oscila muito pouco durante todo o ciclo anual de competições; consequentemente, a forma desportiva apresenta uma tendência de melhora durante toda a etapa, diminuindo na fase de pré-temporada em razão de uma pequena redução do volume no início da segunda etapa competitiva. O período competitivo no futebol varia de 8 a 10 meses no ano, com uma quantidade de 75 a 85 jogos na temporada (GOMES, 2009).
A
essência da prática do futebol, não exige o desenvolvimento e o aperfeiçoamento
das capacidades motoras no seu máximo. Por outro lado, trata-se de um desporto
que, na sua atividade competitiva, caracteriza-se pelos esforços intermitentes
executados em velocidade, com alto volume de diversas ações motoras e que exige
capacidade anaeróbia e aeróbia (mista). Além da força e da resistência
especial, utiliza também a flexibilidade
para a execução de movimentos técnicos exigidos pelo jogo (GOMES, 2009).
Observo
que, neste modelo de periodização do treinamento em futebol, não evidenciamos
uma preocupação com a forma de jogar da equipe (jogo coletivo), o autor afirma
que, no futebol moderno, o técnico tem dificuldades de prescrever o conteúdo do
treinamento. Em contrapartida, quando ouvimos relatos sobre a Periodização
Tática, ainda observo certa resistência por parte de alguns profissionais. Mas, para que possamos compreender melhor esta metodologia de
treinamento específica para o futebol, pensando em organização coletiva, Vítor
Frade (in Martins, 2003) revela que, a tática resulta deste conceito de
Organização e por isso, compreende uma determinada expressão física, técnica e
psicológica. Sendo assim, a Tática subentende o desenvolvimento dos princípios
de ação da equipe que induzem a adaptações concretas a nível físico, técnico e
psicológico. Gomes (2006), nos mostra que, face a este entendimento percebemos
que a exacerbação física tem um papel subjulgado ao desenvolvimento das
relações entre os jogadores para assim, criar uma entidade coletiva e portanto,
uma organização. Deste modo, esta concepção desafia a Teoria Convencional do
Treino uma vez que esta se preocupa fundamentalmente com as aquisições físicas
dos jogadores em detrimento de um entendimento coletivo e das relações que o
constituem. E, nisto se enquadra o Modelo de Jogo. O Modelo de Jogo confere um
determinado sentido ao desenvolvimento do processo face a um conjunto de
regularidades que se pretendem observar. Deste modo, o modelo permite responder
à questão: para onde vamos? A pertinência desta questão parece-nos fundamental
para desenvolver um processo direcionado para um determinado JOGAR, ou seja,
para um processo intencional. A partir dele criam-se um conjunto de referências
que definem a organização da equipe e jogadores nos vários momentos do jogo.
Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos
princípios coletivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido,
trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer (Gomes,
2006).
Quando
comparamos os dois modelos de treinamento criados para periodizar a performance em futebol, podemos dizer
que a primeira (Modelo de Cargas Seletivas) está diretamente preocupado com o
caráter físico do jogador e a segunda (Periodização Tática) está preocupado com
um JOGAR ESPECÍFICO perspectivado pelo Modelo de Jogo, onde, o técnico assume
essa responsabilidade de operacioná-lo durante a semana com o Morfociclo Padrão, que é utilizado da segunda semana de trabalho até a última e, não durante um
microciclo, mesociclo ou macrociclo anual.
Mas, temos que ter em mente que, são apenas duas formas de treinar o futebol e, claro que as duas obtêm resultados, mas, a forma de operacionalização de cada uma é totalmente diferente. Uma pautada na física e a outra, pautada no fractal, na complexidade. Que é normal causar estranheza.
(...) O êxito no futebol tem mil receitas. O treinador deve crer numa, e com ela seduzir os seus jogadores.Referências
(Valdano, 1998)
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GOMES, M. S. Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés Dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - um estudo de caso- Porto, 2006.
MARTINS, F. A "Periodização Táctica" segundo Vítor Frade: Mais do que um conceito, uma forma de estar e de reflectir o futebol. FCDEF-UP. Porto, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário