Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

PRINCÍPIO HOLOGRAMÁTICO E O MODELO DE JOGO


"... é necessário perceber-se e saber lidar com a noção de "MicroMacro" e com o Princípio Hologramático. E isso passa por reconhecer que ao se exponenciar as partes sem perda de relação com o todo,  este último poderá aceder a níveis de complexidade continuadamente crescentes, claro  está, se a fractalidade for devidamente entendida e como  tal não nos levar à fatalidade."
                                                                                                 Jorge Maciel

Muitos têm preconizado que os clubes de futebol devem ter e/ou perspectivar um Modelo de Jogo para as suas equipes. Mas, poucos comentam sobre o princípio hologramático.

Para que possamos entender a importância do princípio hologramático para o Modelo de Jogo, precisamos definir este princípio. Diferentemente das imagens comuns fotográficas e de filmes, o holograma é projetado no  espaço e reconstitui-se, com extraordinária fidelidade. Como diz Pinson apud Morin (2012), cada ponto do objeto hologramado é memorizado pelo holograma inteiro, e cada ponto do holograma contém a presença da totalidade, ou quase, do objeto. Neste caso, o Modelo de Jogo Perspectivado. Assim, a redução dos jogos sem perda de complexidade (reduzir sem empobrecer) determina não jogos mutilados (sem objetivos e/ou jogos reduzidos), mas jogos fractais completos, com um tipo de organização em que, o todo está na parte que está no todo, e a parte poderia estar mais ou menos apta a regenerar o todo. 

A organização complexa do todo (Modelo de Jogo Perspectivado) necessita da inscrição (Jogos Fractais) que seria a forma de gravar e/ou criar hábitos nos comportamentos dos jogadores referente ao todo (Modelo de Jogo Perspectivado) em cada uma das partes (Momentos do Jogo) contudo singulares; destarte, a complexidade organizacional do todo necessita da complexidade das partes, a qual necessita retroativamente da complexidade organizacional do todo. Cada parte tem a sua singularidade, mas nem por isso representa puros elementos fragmentados do todo.

No universo vivo, o princípio hologramático é o princípio essencial das organizações policelulares, já no Modelo de Jogo Perspectivado, o princípio hologramático é o responsável pelas interações que ocorrem entre as regras - jogadores - entorno - esquemas motrizes nos jogos fractais. Todos se influenciando e interagindo no ambiente caótico de um sistema dinâmico complexo de causalidade não-linear que se joga na fronteira do caos e da ordem.  

Boa semana e bons treinos a todos!

Referência

MORIN, Edgar. O Método 3: o conhecimento do conhecimento. 4 ed. Porto Alegre: Sulina, 2012. 



 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DUELO ENTRE OS DOMINADORES DA BOLA E OS DOMINADORES DO ESPAÇO

"O defender bem não pode estar separado do fazer bem a transição ataque-defesa, a qual, por sua vez, tem muito haver com o atacar bem."
José Mourinho
 
Muito se ouve falar atualmente em compactação e equipes que jogam com as suas linhas muito próximas. Mas, qual a importância desse conceito tático para uma equipe?

Com essa aproximação das suas linhas (defesa - meio - ataque) a equipe que está defendendo e/ou atacando dificulta as ações ofensivas/defensivas da equipe contrária.

Muitas pessoas ligadas ao futebol e adoradoras do futebol de posse de bola, pensam que a posse de bola é um fim em si mesmo. Eu prefiro trata-la como uma ferramenta, um instrumento. Pois se a minha equipe trabalhar a posse de bola sem a progressão no terreno, não teremos efetividade ofensiva, pois a equipe contrária realizará a recomposição e se tornará compacta impedindo e dificultando o nosso ataque. O importante não é ter a bola, nem passa-la várias vezes, mas realizar a posse de bola com uma intenção. Muitas vezes, essa intenção tem haver com a sua organização ofensiva (posicionamento) e paralelamente, desorganizar o adversário. Fazer ele correr atrás da bola e se desorganizar defensivamente. No caso de perder a posse da bola, teremos mais jogadores da nossa equipe próximo ao local da perda e consequentemente poucos da equipe contrária, desta forma, podemos impossibilitar uma transição da equipe contrária com efetividade.

Percebe-se a partir dessas colocações que, no futebol há basicamente duas propostas de propor o jogo de futebol: as que se organizam a partir da bola e as que o fazem a partir dos espaços. Para os que querem jogar a base da posse de bola, devem proteger as suas costas e gerenciar o atacante e um dos meias abertos (1-4-2-3-1) principalmente dessa plataforma de jogo que é muito utilizada pelas equipes que se proponham a jogar pelos espaços. Pois a equipe que se propõe a jogar a partir dos espaços, cede a bola a equipe rival e deixará um número reduzido de jogadores entre as linhas (defesa - meio). As equipes eficazes nesta forma de jogar, recuperam a posse da bola e a passam ao jogador situado na lateral do campo, que costuma ter uma boa técnica de passe, para que entregue a bola ao atacante com vantagem mais adiantado no terreno de jogo. Se executam bem estes movimentos, recuperação, passe e assistência, podem gerar uma facilidade no costado da zaga da equipe que  estava em posse da bola e adiantada no campo de jogo.

Quem conseguir o equilíbrio entre essas duas propostas de jogo poderá ter êxito? Aguardo as respostas dos leitores.

Boa semana a todos!  

1º CEFA SOCCER CAMP


Neste final de semana ocorreu o 1º CEFA Soccer Camp nas dependências do Centro Esportivo de Futebol Alternativo (CEFA) na cidade de Cascavel|Paraná|Brasil. Evento que oportunizou uma forma de ver, pensar e executar o treinamento de futebol um pouco diferente do usual em nosso país para crianças e adolescentes e treinadores.

Há convite do Professor/Treinador Claudio Roberto da Silveira, fui à Cascavel não com o intuito de ensinar futebol, mas, oportunizar uma nova situação para algumas pessoas de repensar a maneira como vem tratando o treinamento de futebol em razão dos comportamentos que os jogadores devem assumir no treino, para posteriormente torná-los hábitos durante as partidas.




Foram dois dias de trabalho única e exclusivamente com bola, em forma de jogos fractais para mudanças de comportamentos táticos ofensivos e defensivos bem como nas suas transições. Além da parte prática, tive dois momentos para explicar a prática com teoria, para embasar e justificar o por que de se treinar desta forma e não de uma outra forma.

O que fica após esse evento? Fica uma sensação e satisfação de estar no caminho certo, pois em conversas durante o evento, percebi o interesse dos treinadores e principalmente pelas crianças e adolescentes em fazer todos os jogos fractais. Treinadores que participaram do evento tivemos, além do estado  do Paraná, treinadores dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

 

  

Em suma: "O defender bem não  pode estar separado do fazer bem a transição ataque-defesa, o qual, por sua vez, tem muito haver com o atacar bem." 
                                                                                          José Mourinho.

No futebol pode-se até dizer que não se pode inventar mais nada, mas que, temos continuar nos aperfeiçoando, isso é fato!


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A FRACTALIDADE NO FUTEBOL


Em uma partida de futebol, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino (GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999). Por isso, a necessidade de criação de um padrão de jogo através da geometria fractal.

A geometria fractal pode ser mais bem compreendida dentro do processo de treinamento de futebol, fazendo uma analogia simples. Quando uma fotografia é feita de uma partida de futebol, quantos jogadores aparecem na mesma? Irão aparecer quantos jogadores serão responsáveis pelo setor onde a fotografia for tirada. Por exemplo, é retirada uma fotografia, quantos jogadores vão aparecer na mesma? Neste caso, na figura acima temos um 8 vs 9, onde também podemos identificar mais três micro-confrontos, 2 vs 2; 3 vs 2 e 1 vs 1. 

E isso são os fractais que estão representando o todo. O micro representa o macro. Pois, o padrão de comportamento diz respeito ao modelo da equipe, o padrão dos comportamentos coletivos, o padrão dos comportamentos setoriais, o padrão dos comportamentos intersetoriais, o padrão dos comportamentos individuais e o padrão das respectivas interações (CAMPOS, 2008). E essas interações que representam o modelo da equipe devem ser treinadas dentro da geometria fractal. Ou, o intitulado Jogo Fractal. Os jogadores deverão entender os objetivos e as finalidades dos exercícios (Jogos Fractais) dentro do jogo todo. Para isso será fundamental o conhecimento global do jogo por parte dos jogadores, imagem mental e vivencia do mesmo (GUILHERME OLIVEIRA, AMIEIRO e FRADE s/d apud TAMARIT, 2013). Isso em substituição do jogo reduzido, que na sua grande maioria ocorre sem objetivos táticos.

A relevância prática disto pode ser entendida pela presença do jogo dentro do processo de treinamento em futebol (Jogo Fractal). E isto, ocorrerá por uma redução sem empobrecimento do jogo formal enquanto objetos fractais do mesmo (MACIEL, 2011). Pois, o jogo de futebol pode ser entendido como um sistema caótico com organização fractal. No meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (OLIVEIRA et al., 2007). Brito (2003) afirma que, dentro de um modelo de jogo, existem vários princípios para serem trabalhados durante os treinos. O referido autor relata que, os princípios de jogo são linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos táticos dos jogadores quer no momento ofensivo, quer no momento defensivo, bem como nas suas transições. Como bem relata Maciel apud Tamarit (2013), é graças à redução sem empobrecimento que se asseguram as dominâncias desejadas para cada uma das unidades de treinamento. Uma redução que sendo qualitativa, uma vez que se reporta a complexidade de um jogar, também é quantitativa, já que a configuração dos exercícios (jogos) de treinamento e o modo como o jogar é vivenciado (sem perda de Especificidade), requer que o treinador manipule e articule com parcimônia as seguintes variáveis: espaço, número de jogadores e tempo. Ou seja, reduzir sem empobrecer é sustentar essa redução na articulação de sentido com o todo. Corroborando com os autores, podemos entender um fractal como uma parte regular de um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o todo, independentemente da escala considerada. Se estilhaçarmos um sistema caótico em subsistemas, podemos neles encontrar, qualquer que seja a escala, uma auto-semelhança com o todo. Desta forma, os autores defendem ser possível emprestar uma organização fractal a todo o processo de treinamento, para obter uma auto-semelhança, tanto ao nível dos padrões de comportamento como da produção do processo, nas suas diferentes escalas de manifestação (SOARES, 2009).

Referências

BRITO, J. Documento de apoio à disciplina de Opção II – Futebol, UTAD, Vila Real. Não Publicado, 2003.
CAMPOS, C. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: a singularidade da intervenção do treinador como sua impressão digital. Espanha: MCSports, 2008. 
GARGANTA, J.; GRÉHAIGNE, J. F. Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Movimento, Ano V, n 10, 1999.
MACIEL, J. Não o deixes matar o bom futebol e quem o joga. Pelo Futebol Adentro não é perda de tempo! Portugal: Chiado, 2011.
OLIVEIRA, B. F. M. et al. Mourinho: por qué tantas victorias? Espanha: MCSports, 2007.
SOARES, P. Transições: uma instantaneidade suportada pelo “equilíbrio” ...a representatividade da fluidez que o “jogar” deve manifestar. Monografia de Licenciatura. Não Publicado. Porto: 2009.
TAMARIT, X. Periodización Táctica vs Periodización Táctica. Espanha: MBF, 2013.



domingo, 4 de outubro de 2015

TERRITÓRIO E FUTEBOL: CHAPECÓ NA ROTA DOS TORNEIOS CONTINENTAIS DE FUTEBOL


No início da temporada de futebol 2015 os clubes de Santa Catarina chamaram a atenção por ter quatro equipes disputando a Série A do Brasileiro. No mês de outubro, nos dias 21 (em Buenos Aires) e 28 (em Chapecó) teremos o embate entre River Plate (atual campeão da Copa Libertadores da América) VS Chapecoense, jogo este que será histórico para a região oeste do estado de Santa Catarina, pois novamente atrai os olhares do país e agora do continente para a cidade de Chapecó.

A região oeste catarinense foi a região que se consolidou mais tardiamente no início do século XX com o Acordo de Limites entre Chapecó e Concórdia. A região oeste do estado de Santa Catarina se especializa em produtos de origem agro-alimentar. Para que possamos compreender melhor isso, precisamos voltar no tempo e entender o estado catarinense pela sua ótica econômica. A estrutura da economia catarinense, caracterizada pela diversificação setorial e pela concentração das principais atividades em determinados espaços do território, estabeleceu uma rede urbana baseada em pequenas e médias cidades. Portanto, do ponto de vista econômico destacam-se as cidades de Lages e Caçador, ligadas ao  setor madeireiro; Chapecó e Concórdia, ligadas ao setor agro-alimentar; Itajaí, cidade do principal porto do estado; Blumenau, Joinville, Jaraguá do Sul, Brusque e Criciúma, ligadas às atividades industriais e Florianópolis, a capital administrativa.

                              Complexos da Economia Catarinense


Os clubes de futebol de Santa Catarina e as suas indústrias apresentam um plano de marketing diferente dos outros estados quando o assunto é futebol. Pois se utiliza das empresas regionais, com a sua exposição aliadas aos clubes de futebol do estado ao longo do tempo, para buscar projeção e fortalecimento no mercado local. Melo Neto (2007) define marketing esportivo como “um tipo de marketing promocional”. Ele diferencia o marketing esportivo do marketing publicitário tradicional pelos seguintes motivos: dá chance do consumidor participar ativamente deste mercado; e possibilita uma ótima resposta ao nível de imagem e de vendas, pois atinge o consumidor de forma mais rápida e direta. Mesmo que o consumidor não queira, ele tem contato direto com a marca espantada na camisa do clube que ele é simpatizante.

Também é possível através do esporte a regionalização da mídia e segmentação de mercado. Ao vincular a marca da empresa ao esporte, ela obtém alto poder de penetração na mente do consumidor, pois o momento encontra-se disponível para aquela situação. Uma das vantagens do marketing esportivo é sua capacidade de fixação da marca ou do produto da empresa investidora na mente do consumidor (MELO NETO, 2007). Os torcedores aficionados pelo futebol ou o mercado de simpatizantes de um clube são os potenciais consumidores de um bem (CARDIA, 2004). Para Melo Neto (2007) “a segmentação é a maior vantagem do marketing esportivo”. Os atributos e características do marketing esportivo fazem dele uma ação de baixo custo, de grande eficácia, e o torna indispensável em qualquer plano estratégico de marketing e comunicação para empresas que se destacam pela liderança em seus mercados e pela excelência empresarial (MELO NETO, 2007).

Essa regionalização da mídia através de patrocínios dos produtos regionais nos clubes de futebol de Santa Catarina é evidente. 
               Patrocínio do Frigorífico Aurora na camisa da Chapecoense

A cidade de Chapecó têm uma população estimada em 2015 de, 205.795 pessoas. Fazendo  um paralelo, é a cidade com menor população que detêm um clube na Série A do Campeonato de Futebol e consequentemente, a menor cidade em população que possui um clube disputando  as quartas de final da Copa Sulamericana (do Brasil na história).  

Destarte, isso corrobora que, o esporte influencia no desenvolvimento de um território e uma cidade desenvolvida tende a provocar uma transformação positiva no esporte local. Chapecó é a prova viva disso. 

Referências

 CARDIA, W. Marketing e Patrocínio Esportivo. Porto Alegre: Bookman, 2004.  

 MELO NETO, F. Marketing Esportivo. Rio de Janeiro: Record, 2007.
  



JOGO FRACTAL PARA POSSE E CIRCULAÇÃO DA BOLA E RECUPERAÇÃO DA POSSE DE BOLA


5 vs 5 + 4 curingas. Cada equipe ao ter a posse da bola deve ter um jogador em cada setor. A equipe sem a posse de bola pode ocupar livremente o espaço de jogo e deve buscar criar dobras de marcação no setor onde a bola estiver.




segunda-feira, 28 de setembro de 2015

JOGO FRACTAL PARA A PENETRAÇÃO


Em um espaço de 30 metros, jogam 3 equipes formadas por 4 jogadores. Devem ser marcados, dois setores de pontuação ao final dos dois lados do campo. A equipe “A” (equipe do meio) sai com a bola a jogar contra a equipe “B” (equipe posicionada à esquerda) e tenta penetrar no setor de pontuação mediante um passe em profundidade e/ou condução. Se houver sucesso, marca 1 ponto e vai ao outro lado atacar a equipe “C”. Porém, se a equipe “B” recuperar a bola, ela vai atacar a equipe “C” e a equipe “A” ficará no lugar da equipe “B”.