Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DUELO ENTRE OS DOMINADORES DA BOLA E OS DOMINADORES DO ESPAÇO

"O defender bem não pode estar separado do fazer bem a transição ataque-defesa, a qual, por sua vez, tem muito haver com o atacar bem."
José Mourinho
 
Muito se ouve falar atualmente em compactação e equipes que jogam com as suas linhas muito próximas. Mas, qual a importância desse conceito tático para uma equipe?

Com essa aproximação das suas linhas (defesa - meio - ataque) a equipe que está defendendo e/ou atacando dificulta as ações ofensivas/defensivas da equipe contrária.

Muitas pessoas ligadas ao futebol e adoradoras do futebol de posse de bola, pensam que a posse de bola é um fim em si mesmo. Eu prefiro trata-la como uma ferramenta, um instrumento. Pois se a minha equipe trabalhar a posse de bola sem a progressão no terreno, não teremos efetividade ofensiva, pois a equipe contrária realizará a recomposição e se tornará compacta impedindo e dificultando o nosso ataque. O importante não é ter a bola, nem passa-la várias vezes, mas realizar a posse de bola com uma intenção. Muitas vezes, essa intenção tem haver com a sua organização ofensiva (posicionamento) e paralelamente, desorganizar o adversário. Fazer ele correr atrás da bola e se desorganizar defensivamente. No caso de perder a posse da bola, teremos mais jogadores da nossa equipe próximo ao local da perda e consequentemente poucos da equipe contrária, desta forma, podemos impossibilitar uma transição da equipe contrária com efetividade.

Percebe-se a partir dessas colocações que, no futebol há basicamente duas propostas de propor o jogo de futebol: as que se organizam a partir da bola e as que o fazem a partir dos espaços. Para os que querem jogar a base da posse de bola, devem proteger as suas costas e gerenciar o atacante e um dos meias abertos (1-4-2-3-1) principalmente dessa plataforma de jogo que é muito utilizada pelas equipes que se proponham a jogar pelos espaços. Pois a equipe que se propõe a jogar a partir dos espaços, cede a bola a equipe rival e deixará um número reduzido de jogadores entre as linhas (defesa - meio). As equipes eficazes nesta forma de jogar, recuperam a posse da bola e a passam ao jogador situado na lateral do campo, que costuma ter uma boa técnica de passe, para que entregue a bola ao atacante com vantagem mais adiantado no terreno de jogo. Se executam bem estes movimentos, recuperação, passe e assistência, podem gerar uma facilidade no costado da zaga da equipe que  estava em posse da bola e adiantada no campo de jogo.

Quem conseguir o equilíbrio entre essas duas propostas de jogo poderá ter êxito? Aguardo as respostas dos leitores.

Boa semana a todos!  

1º CEFA SOCCER CAMP


Neste final de semana ocorreu o 1º CEFA Soccer Camp nas dependências do Centro Esportivo de Futebol Alternativo (CEFA) na cidade de Cascavel|Paraná|Brasil. Evento que oportunizou uma forma de ver, pensar e executar o treinamento de futebol um pouco diferente do usual em nosso país para crianças e adolescentes e treinadores.

Há convite do Professor/Treinador Claudio Roberto da Silveira, fui à Cascavel não com o intuito de ensinar futebol, mas, oportunizar uma nova situação para algumas pessoas de repensar a maneira como vem tratando o treinamento de futebol em razão dos comportamentos que os jogadores devem assumir no treino, para posteriormente torná-los hábitos durante as partidas.




Foram dois dias de trabalho única e exclusivamente com bola, em forma de jogos fractais para mudanças de comportamentos táticos ofensivos e defensivos bem como nas suas transições. Além da parte prática, tive dois momentos para explicar a prática com teoria, para embasar e justificar o por que de se treinar desta forma e não de uma outra forma.

O que fica após esse evento? Fica uma sensação e satisfação de estar no caminho certo, pois em conversas durante o evento, percebi o interesse dos treinadores e principalmente pelas crianças e adolescentes em fazer todos os jogos fractais. Treinadores que participaram do evento tivemos, além do estado  do Paraná, treinadores dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

 

  

Em suma: "O defender bem não  pode estar separado do fazer bem a transição ataque-defesa, o qual, por sua vez, tem muito haver com o atacar bem." 
                                                                                          José Mourinho.

No futebol pode-se até dizer que não se pode inventar mais nada, mas que, temos continuar nos aperfeiçoando, isso é fato!


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A FRACTALIDADE NO FUTEBOL


Em uma partida de futebol, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as sequências de ações. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no treino (GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999). Por isso, a necessidade de criação de um padrão de jogo através da geometria fractal.

A geometria fractal pode ser mais bem compreendida dentro do processo de treinamento de futebol, fazendo uma analogia simples. Quando uma fotografia é feita de uma partida de futebol, quantos jogadores aparecem na mesma? Irão aparecer quantos jogadores serão responsáveis pelo setor onde a fotografia for tirada. Por exemplo, é retirada uma fotografia, quantos jogadores vão aparecer na mesma? Neste caso, na figura acima temos um 8 vs 9, onde também podemos identificar mais três micro-confrontos, 2 vs 2; 3 vs 2 e 1 vs 1. 

E isso são os fractais que estão representando o todo. O micro representa o macro. Pois, o padrão de comportamento diz respeito ao modelo da equipe, o padrão dos comportamentos coletivos, o padrão dos comportamentos setoriais, o padrão dos comportamentos intersetoriais, o padrão dos comportamentos individuais e o padrão das respectivas interações (CAMPOS, 2008). E essas interações que representam o modelo da equipe devem ser treinadas dentro da geometria fractal. Ou, o intitulado Jogo Fractal. Os jogadores deverão entender os objetivos e as finalidades dos exercícios (Jogos Fractais) dentro do jogo todo. Para isso será fundamental o conhecimento global do jogo por parte dos jogadores, imagem mental e vivencia do mesmo (GUILHERME OLIVEIRA, AMIEIRO e FRADE s/d apud TAMARIT, 2013). Isso em substituição do jogo reduzido, que na sua grande maioria ocorre sem objetivos táticos.

A relevância prática disto pode ser entendida pela presença do jogo dentro do processo de treinamento em futebol (Jogo Fractal). E isto, ocorrerá por uma redução sem empobrecimento do jogo formal enquanto objetos fractais do mesmo (MACIEL, 2011). Pois, o jogo de futebol pode ser entendido como um sistema caótico com organização fractal. No meio do caos aparente é possível sustentar regularidades organizacionais, isto é, modelar e padronizar uma dada forma de jogar (OLIVEIRA et al., 2007). Brito (2003) afirma que, dentro de um modelo de jogo, existem vários princípios para serem trabalhados durante os treinos. O referido autor relata que, os princípios de jogo são linhas orientadoras básicas que coordenam as atitudes e comportamentos táticos dos jogadores quer no momento ofensivo, quer no momento defensivo, bem como nas suas transições. Como bem relata Maciel apud Tamarit (2013), é graças à redução sem empobrecimento que se asseguram as dominâncias desejadas para cada uma das unidades de treinamento. Uma redução que sendo qualitativa, uma vez que se reporta a complexidade de um jogar, também é quantitativa, já que a configuração dos exercícios (jogos) de treinamento e o modo como o jogar é vivenciado (sem perda de Especificidade), requer que o treinador manipule e articule com parcimônia as seguintes variáveis: espaço, número de jogadores e tempo. Ou seja, reduzir sem empobrecer é sustentar essa redução na articulação de sentido com o todo. Corroborando com os autores, podemos entender um fractal como uma parte regular de um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o todo, independentemente da escala considerada. Se estilhaçarmos um sistema caótico em subsistemas, podemos neles encontrar, qualquer que seja a escala, uma auto-semelhança com o todo. Desta forma, os autores defendem ser possível emprestar uma organização fractal a todo o processo de treinamento, para obter uma auto-semelhança, tanto ao nível dos padrões de comportamento como da produção do processo, nas suas diferentes escalas de manifestação (SOARES, 2009).

Referências

BRITO, J. Documento de apoio à disciplina de Opção II – Futebol, UTAD, Vila Real. Não Publicado, 2003.
CAMPOS, C. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: a singularidade da intervenção do treinador como sua impressão digital. Espanha: MCSports, 2008. 
GARGANTA, J.; GRÉHAIGNE, J. F. Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Movimento, Ano V, n 10, 1999.
MACIEL, J. Não o deixes matar o bom futebol e quem o joga. Pelo Futebol Adentro não é perda de tempo! Portugal: Chiado, 2011.
OLIVEIRA, B. F. M. et al. Mourinho: por qué tantas victorias? Espanha: MCSports, 2007.
SOARES, P. Transições: uma instantaneidade suportada pelo “equilíbrio” ...a representatividade da fluidez que o “jogar” deve manifestar. Monografia de Licenciatura. Não Publicado. Porto: 2009.
TAMARIT, X. Periodización Táctica vs Periodización Táctica. Espanha: MBF, 2013.