Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

domingo, 11 de março de 2012

SERÁ POSSÍVEL DINAMIZAR O FUTEBOL



Dinamizar o jogo de futebol poderia ser uma forma de torná-lo mais atraente, diminuir o número de jogadores do elenco, diminuir o número de lesões e amenizar as insatisfações por parte de alguns jogadores que não são tão utilizados durante a temporada que é muito longa.

O terreno, o tempo de jogo, o espaço e o número de jogadores são componentes estruturais que estabelecem conexões com o comportamento motor dos futebolistas e determinam a dinâmica funcional das modalidades de desporto coletivo. O futebol é uma modalidade com características de cooperação e oposição, regulada por 17 regras e disputada entre duas equipes, compostas por 11 jogadores cada. A duração do jogo abrange dois tempos de 45', com intervalo de 15', totalizando 90'. na prática, o tempo de jogo é de, em média, 60' (CARRAVETTA, 2009, p. 17).

Segundo Garganta (2002, p. 4) quanto maior for o espaço de jogo mais elevada terá de ser a capacidade para cobrir, mental e fisicamente. Sabe-se que um campo de futebol é um espaço muito grande, correspondendo aproximadamente à superfície de 10 quadras de handebol, 20 quadras de basquetebol e 50 quadras de voleibol (observar a figura). Num retângulo de jogo com área média de 7.500 m², onde 20 jogadores jogam com os pés, e, apenas dois com as mãos (goleiros), em espaço limitado, e a regra do impedimento disciplinando muitas ações, a riqueza de detalhes táticos só poderia ser infinita (DRUBSCKY, 2003, p. 108). 
Nos primeiros 30' (tempo de jogo: 1/3), as exigências aos esforços são de média intensidade, e podem ser muito bem controladas. Já nos 15' que antecedem o intervalo, as exigências se tornam de elevada intensidade. A pausa de 15' acelera a recuperação, de modo a facilitar a tolerância aos esforços nos primeiros 15' do segundo tempo de jogo (2/3 do tempo de jogo). Nos últimos 30' de partida, as exigências são mais intensas e o desgaste físico é culminante (3/3 do tempo de jogo). Sendo as dimensões do campo de jogo em formato retangular, com no máximo 120 metros e no mínimo 90 metros de comprimento, por uma largura máxima de 90 metros e mínima de 45 metros. Em partidas internacionais, essas medidas mudam para 110/100 metros de comprimento e 75/64 metros de largura. As expressivas variações nas dimensões dos campos de futebol acentuam as diferenças na conduta motora dos futebolistas. Tal fato pressupõe um elevado nível de desenvolvimento da percepção espacial e do controle motor por parte dofutebolista. As oscilações nas dimensões do campo de jogo, combinadas com as mudanças de piso (tipos de grama, densidade do solo, nivelamento do terreno), exigem do jogador um alto nível de atenção, concentração, controle motor e percepção, sobretudo no que se refere aos parâmetros temporais, espaciais, cinestésicos e de força, durante a movimentação em campo (CARRAVETTA, 2009, p. 17-18).  

Outro fator que interfere nas ações das equipes de futebol é a expulsão. Como se sabe, o jogador expulso não pode ser substituído, o que obriga a equipe a jogar em inferioridade numérica: terá de defender em espaços mais amplos e atacar em espaços mais reduzidos. Segundo evidências, o futebol, comparado a outras modalidades de jogos desportivos coletivos, apresenta diferenças que provocam grandes instabilidades nas ações técnico-táticas, individuais e coletivas. Em outras modalidades do desportovcoletivo, os jogadores excluídos ou desqualificados são substituídos, o piso apresenta maior regularidade, as condições climáticas pouco interferem, e os espaços de jogo são semelhantes. No handebol, por exemplo, o espaço ocupado por cada jogador é de 57 m²; no futsal, oscila entre 37,5m² e 92,4 m²; no voleibol, 13,5m²; no basquetebol, a diferença pode ser ainda menor e, variar entre 5,6 m². Agora vejamos o futebol: o terreno de jogo apresenta uma ampla variação, e o espaço ocupado por cada jogador pode oscilar entre 171 m² e 375 m² (CARRAVETTA, 2009, p. 19).

Após levantarmos essas evidências, pergunto: por que no futebol as substituições são limitadas a três jogadores?

Sendo que, os outros jogos desporto coletivos são volantes, o número de jogadores é menor e o terreno de jogo é bem inferior ao do futebol.

Pensemos no ambiente de um clube de futebol que, possui em seu elenco 27 jogadores, desses apenas 18 são relacionados para as partidas (11 + 7) e destes 7, o treinador só pode utilizar 3 durante a partida. Ficando sem jogar o jogador pode minar o ambiente do clube. Ex.: o jogador Breno (zagueiro ex- São Paulo Futebol Clube) esta há 3 anos no Bayer de Münichen e só jogou 15 partidas (em nenhuma jogou os 90') e tempos atrás criou certas confusões, que se estivesse jogando poderiam ser evitadas devido a motivação de fazer parte do time.

Se houvessem mais substituições ou o jogador que saiu pudesse voltar (como nos outros desportos coletivos) o jogo ficaria mais dinâmico, intenso e frequente. Pois segundo Garganta (2002, p. 5) no handebol o jogador consegue fazer um gol a cada 2'; no basquetebol e voleibol consegue-se concretizar pontos a cada minuto. As ações de ataque e êxitos quantificáveis é aproximadamente nestas modalidades é de 2 para 1, enquantono futebol é apenas de 50 para 1. Novos mercados poderiam se abrir para o futebol se houvesse mais gols em suas partidas, pois ninguém gosta de assistir um 0 a 0 após 90'. 

Outro fator importante seria de, aumentar a vida útil dos jogadores e não prejudicar ("queimar") novas promessas (revelações dos clubes) que muitas vezes são lançados nos grupos principais, mas ainda não tem essa maturidade para suportar as pressões que o jogo de futebol profissional exige.

Fica aqui o recado para um possível dinamismo do futebol, mas claro, que isso ficará a cargo da  International Football Association Board (IFAB), que é órgão que rege as regras do futebol.

P.S.: no dia 23 de março estarei defendendo a minha Dissertação de Mestrado: Futebol e as Realidades Econômicas Regionais em Santa Catarina: o futebol profissional explicado pelo Desenvolvimento Econômico de suas regiões.

Referências

CARRAVETTA, Elio. O enigma da Preparação Física no Futebol. Porto Alegre, RS: AGE, 2009

DRUBSCKY, Ricardo. O Universo Tático do Futebol: Escola brasileira. Belo Horizonte: Ed. Health, 2003.

GARGANTA, Júlio. Competências no ensino e treino de jovens futebolistas. Revista Digital http://www.efdeportes.com  Buenos Aires - Ano 8 nº 45 fevereiro de 2002.  


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O "AQUI E AGORA" DO JOGO


Como professor e preparador técnico sempre me perguntei, como o ser humano toma as suas decisões?

Durante o jogo de futebol, os jogadores são constantemente chamados a tomar decisões e quanto mais rápido o fizerem tanto melhor, pois o jogo está crescentemente mais rápido sendo que a velocidade de execução distingue os melhores dos medianos. Mas, se nós nos apercebemos no sentido comum e nas imagens tradicionais, é lógico que, deveria transmitir as ideias com uma rapidez que desafiava todas as leis da matéria. Na verdade, fenômeno espantoso é que segundo nos diz Changeux (2002), é quase o contrário que acontece pois, o cérebro é lento, demasiado lento mesmo em relação a certos fenômenos físicos de base. E acrescenta:  
"Com efeito, o sistema nervoso de todos os organismos vivos, incluído o homem, propaga os sinais elétricos a uma velocidade bem menor que a da luz. Isso significa que os sinais neuronais não exploram as ondas eletromagnéticas que provêm das forças fundamentais do mundo físico. Esta limitação física é uma herança que nos foi legada através da evolução das espécies, os organismos primitivos."
(Changeux, 2002, p. 23-24)


Segundo Campos (2008, p. 37) num jogo de futebol entre equipes de topo assistimos a movimentos velozes, execuções em que parece que os jogadores adivinham as movimentações dos companheiros e as decisões têm de ser tomadas de forma espontânea e de acordo com o Modelo de Jogo estabelecido e treinado. Ora, a estas exigências contrapõe-se a lentidão dos processos cerebrais daí que algo tenha que estar por trás desta rapidez que caracteriza o jogo de futebol. Treinar para criar pré-representações e assim aumentar a velocidade dos acontecimentos fazendo-os depender de algo já previamente definido e não somente da solução que o cérebro teria que encontrar e realizar para cada momento do jogo. 

Observando estas citações, podemos entender que o processo de Ensino-Aprendizagem-Treinamento tem fundamental importância na criação de hábitos (como automatismos). Desta forma, temos utilizar uma metodologia de treinamento que oportunize a tomada decisão em situação de jogo. Assim, a metodologia Analítica fica desprovida de sentido, pois, não tem no seu cerne essa preocupação. A metodologia de treinamento que mais oportuniza isso, é a Periodização Tática.

 E o "Aqui e Agora" do jogo nada mais é do que, tomar decisões em situações de pressão. Por isso, o jogagor deve ser sobrecondicionado pelo treinamento a decidir em direção ao Modelo de Jogo Criado e as ideias de jogo que esse Modelo pretende para os momentos do jogo. Jacob e Lafargue (2005) mostraram que a consciência da intenção imediata de executar um ato, precede sempre o ato cerca de 200 mseg., sendo que nestas  condições a única forma de salvaguardar o livre arbítrio é a de admitir que, este pequeno intervalo de tempo deixa a possibilidade à vontade consciente de opor a sua recusa a esta ação preparada e de proibir em última instância a sua realização material sendo que existem mesmo casos em que o potencial de ação motriz não é seguido de ação, ou seja, se a decisão do cérebro não é estritamente conforme as intenções prévias do sujeito, resta-lhe a possibilidade de não agir. Isto leva-nos a crer que teremos que treinar o cérebro a decidir de determinada forma, de acordo comos princípios estabelecidos, ou seja, condicionar as intenções prévias que surgem de forma inconsciente para que estas sejam congruentes com o Modelo de Jogo Criado. Esta necessidade é bem evidente quando sabemos que o tempo que medeia a consciência da intenção e a ação propriamente dita se cifra nuns escassos 200 mseg., o que nos indica de forma bem clara a relevância das intenções prévias dos jogadores serem concordantes com a ideia de jogo do treinador, caso contrário a tarefa emconseguir tal desiderato estará condenada ao insucesso.

Referência

CAMPOS, Carlos. A justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: A singularidade da INTERVENÇÃO DO TREINADOR como a sua impressão digital. MCsports, 2008.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

2012: O ANO DAS PROFECIAS



O ano de 2012 está apenas no começo. Mas muitos levam em consideração as superstições (no mundo do futebol isso é muito comum), e, segundo o calendário Maia, esse é o ano do "Fim dos Tempos".

Pensando no futebol de formação brasileiro, isto já está acontecendo a algum tempo, pois, não temos calendário suficiente para muitas categorias de transição para os meninos ascenderem as equipes principais. Deve ser por isso que é raro um jovem se firmar em seu clube de origem. Lembram do caso Oscar no São Paulo Futebol Clube?


Vale a pena ler, e mais, é muito importante saber que um jogador profissional brasileiro têm opinião formada sobre um assunto tão sério como este.  


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

FC BARCELONA "MÉS QUE UN CLUB" PARTE FINAL



Chega ao fim a série de postagens sobre o FC Barcelona "Més que un Club". E nada mais atraente do que escrever sobre a relação entre o FC Barcelona e o garoto Neymar Jr. Em agosto, participei do II Seminário sobre Futebol no Grêmio FBPA, onde o gerente de prospecção do FC Barcelona na América do Sul, Jordi Melero Busquets relatou alguns princípios para ojogador ser contratado pelo FC Barcelona e num desses relatou a opção por Alexis Sanchez ao invés de Neymar Jr.

Hoje o jornalista Fernando Polo do diário Mundo Deportivo escreveu uma matéria:

"Neymar ya sabe en qué debe mejorar para triunfar en el Barça"

El crack brasileño y su familia conocen de primera mano de parte del FC Barcelona cómo debe ir evolucionando su juego para encajar en la maquinaria del equipo de Guardiola.

Debe esforzarse por abrir el campo

Neymar está acostumbrado a jugar con libertad de movimientos en el frente de ataque del Santos. Le sobra calidad para ello y se lo ha ganado. Su tendencia natural es partir de banda izquierda para acabar por el centro, donde tiene más opción de tiro con su pierna buena, la derecha. En el Barça debería cambiar porque aquí los técnicos también le ven partiendo desde la banda pero con la misión de romper hacia dentro, aunque también muchas veces hacia fuera. Es decir, enganchado a la línea de cal y apurando la línea de fondo para centrar hacia atrás. Calidad tiene porque le sobra dribling y, pese a ser diestro, usa muy bien las dos piernas. Pero es un esfuerzo que deberá hacer porque jugar en banda en el Barça ya fue un gran reto para otros cracks que no acabaron de asimilarlo. Henry y Eto'o, sin ir más lejos.

Mejorar en el juego asociativo y la presión

Neymar se ha hecho un nombre con sólo 19 años a fuerza de meter goles y de superar adversarios gracias a su depurada técnica para el regate, el amago y la finta. Eso en el Barça es primordial para un delantero. Como lo es el saber asociarse con sus compañeros. La base del juego del Barça es la posesión del balón, que desgasta al rival y es la mejor forma de defenderse. Una posesión hipnótica basada en la gran calidad de los jugadores de Guardiola para pasarse y pasarse la bola sin que se la quiten. Y cuando el rival está despistado, el golpe: un cambio de juego, o un pase interior letal o una acción personal de alguno de los cracks para asestar el hachazo definitivo y lograr el gol. Neymar debe mejorar porque es un driblador nato y en el Barça deberá regatear menos y pasar más. Como también tendrá que correr hacia atrás cuando pierda un balón y saltar a las presiones como hacen los futbolistas de Pep en fase defensiva. Deberá cambiar de chip porque aquí muerde en defensa y corre hacia atrás hasta Messi.

Concienciarse del juego de posición del Barça

En el Barça, cada jugador sabe en todo momento dónde hay un compañero. Y eso no quiere decir que los futbolistas de Guardiola jueguen siempre en el mismo sitio y en la misma ubicación, sino todo lo contrario. Las permutas son constantes en el Barça, pero lo que está claro es que en cada posición del sistema táctico dispuesto por Guardiola siempre debe haber alguien, con lo que los relevos están a la orden del día y la coordinación debe ser total. Los espacios no se ocupan de forma estática, sino que los jugadores tienen que llegar a ellos. Neymar, por definición, es un futbolista anárquico que en el Barça debería reciclarse. Es algo que se perfecciona jugando y entrenando, pero que ya se puede ir asimilando viendo vídeos del Barça. Y en eso está ya el delantero del Santos.

Paciencia, paciencia y más paciencia

Neymar está habituado a jugarse muchas de las posesiones de balón del Santos. Es lógico, es el mejor del equipo y casi todo el mundo le busca a él, sobre todo en los momentos de máxima tensión. Y el crack se la juega, asumiendo ese rol. En el Barça eso hay que saber dosificarlo. Lejos quedan ya los tiempos en que Leo Messi buscaba el slalom imposible en cada acción porque eso era lo que gustaba a la gente o lo que esperaban algunos de sus compañeros, o porque el mismo se auto-responsabilizaba en exceso. Ahora Leo se dosifica esperando el momento justo para saltar y dar el zarpazo letal. Y no pasa nada porque se pase algún minuto sin aparecer, porque cuando lo hace es en plenitud de facultades. Ese debe ser el espejo de Neymar: si Messi se dosifica, también deberá hacerlo él.

Comportamiento ético acorde al 'estilo Barça'

Neymar ha protagonizado episodios lamentables con técnicos (Dorival Junior acabó despedido del Santos por enfrentarse a él), compañeros (en más de una ocasión ha abroncado a alguno durante un partido o se ha saltado consignas del entrenador en faltas y penaltis) e incluso con rivales (le han acusado de humillar a algún contrario con sus regates de 'free-style' y fue protagonista activo de la tangana con Peñarol en la final de la Copa Libertadores).
Este tipo de comportamientos no caben en este Barça, en que el respeto al cuerpo técnico, a los compañeros y a los rivales es innegociable. Neymar lo sabe y ya parece estar en la línea de actitud correcta, pero cualquier desliz sería interpretado desde ya por el barcelonismo, tanto en el club como por parte de la afición, como una mancha en su expediente. Y no es cuestión de empezar a caer mal en un sitio incluso antes de haber aterrizado en él.

Para muitos brasileiros Neymar Jr já um craque e não existe nada que possa melhorar, mas esquecemos que ele é um menino em formação no futebol (pois só tem 19 anos), lembrando que a formação no futebol vai até os 20 anos. Neymar Jr é sem dúvida alguma a maior revelação do futebol mundial atual, mas compará-lo com outras estrelas do futebol mundial (como muitos jornalistas fizeram antes do Mundial de Clubes) e a torcida exorcizá-lo como estão fazendo pela perda do Mundial para o FC Barcelona é um pouco de mais. Vejam que para contratar o clube precisa ter critérios, não apenas dinheiro e vontade de estar nas manchetes de jornal. Mais uma vez o FC Barcelona têm algo a nos ensinar (não apenas a aula de futebol) mas, também a lógica do plantel e o que o jogador necessita fazer para compor este plantel e não fugir do Modelo de Jogo Criado para a equipe (lembrando que Modelo de Jogo não é o Sistema de Jogo, mas, o que os jogadores devem realizar idividualmente e coletivamente durante os Momentos do Jogo em conformidade com a ideia de jogo do treinador).

No Brasil o que valhe é o peso do empresário, que coloca e retira o jogador dos clubes quando bem quer e os dirigentes apenas dizem Amém, por isso temos o futebol decadente de hoje!

Que 2012 seja o ano da virada para o futebol brasileiro, pois os outros países (incluindo o Uruguai) já despertaram para o futuro! Feliz 2012 a todos que acompanham esse humilde meio de comunicação sobre o futebol!

domingo, 18 de dezembro de 2011

FC BARCELONA "MÉS QUE UN CLUB" PARTE 3


"O Barcelona passa a bola rápido como o meu pai me dizia que o Brasil fazia antigamente."
Pep Guardiola, 2011.

A postagem desta vez sobre o FC Barcelona será no dia que o clube catalão se torna Bicampeão Mundial de Clubes pela FIFA, contra o Santos FC. Conseguindo um placar de 4 X 0 (maior placar desde o novo formato que teve início no ano 2000 para este torneio numa final).

Quando falamos do FC Barcelona, parece que esse clube criou uma forma de jogar até então nunca vista. Mas pra mim, não! O que quero dizer com isto. O grande segredo do FC Barcelona é que, ele conseguiu compilar o que já aconteceu de melhor no futebol mundial em seu Modelo de Jogo. A recuperção da posse da bola (RPB) da Holanda de 1974; a alternância de corredores que tão bem fazem os holandeses; a posse de bola (passes) como o Brasil de 1970 e o Brasil de 1982. Faz isso, desde muito cedo, pois se preocupa em interiorizar esses valores nos seus jogadores desde a formação mais precoce e identifica isso nos seus jogadores, indiferentemente da estatura e porte físico avantajado. Preferem os mais habilidosos e rápidos em execução (domínio e passe).


SO = Setor Ofensivo
STD = Setor de Transição Defensiva
SMO = Setor de Meio Ofensivo
SMD = Setor de Meio Defensivo
STO = Setor de Transição Ofensivo
SD = Setor Defensivo

No campograma acima, estão observações referentes a quantidade de Recuparação da Posse da Bola (RPB) realizadas pela equipe do FC Barcelona no jogo do dia 10/12/2011 contra o Real Madrid CF (em preto no 1º tempo da partida) e de hoje 18/12/2011 contra o Santos FC (em laranja no 1º tempo e amarelo no 2º tempo). Contra o Real Madrid CF o 1º tempo terminou empatado em 1 X 1 (gol do FC Barcelona originado de uma RPB no STO). Contra o Santos FC o 1º tempo terminou 3 X 0 (com dois gols originados de RPB no SMO) e no 2º tempo o gol (originado de uma interceptação no SMD com RPB no STD). Com essas observações eu começo a entender melhor esse fenômeno que é a Posse de Bola do FC Barcelona, que no jogo contra o Real Madrid CF foi de 60% (no campo do adversário) e no jogo contra o Santos FC foi de 71% (733 passes certos, 35 passes errados). O FC Barcelona não apenas têm uma ótima Posse de Bola (como todos nós sabemos), mas a Recuperação da Posse da Bola é o que mais me chama a atenção, pois na maioria das vezes, recuperam a posse da bola no mesmo setor da perda, ou, no setor seguinte, evitando assim a progressão do adversário a sua baliza.

Isso nos mostra que o clube catalão tem bem definido o que espera de seus jogadores tanto coletivamente como individualmente nos momentos do jogo, por exemplo,  sempre pretende RPB o mais longe possível da sua baliza (e consegue), agora pergunto: qual clube brasileiro sabe qual setor do campo mais Recupera a Posse da Bola, Erra mais Passes, Intercepta bolas? E qual é o Modelo de Jogo Adotado pelo clube?




 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

FC BARCELONA "MÉS QUE UN CLUB" PARTE 2



(continuação)

As afirmações de superioridade nacional dos catalães não eram bem recebidas em Madri. O antigo regime castelhano tratou de colocar os presunçosos em seu lugar. Com o apoio do rei, em 1923 o general Miguel Primo de Rivera tomou o poder e instituiu uma ditadura que prefigurava o franquismo vindouro. Primo de Rivera proibiu a bandeira catalã (que o capitão Puyol usa como faixa de capitão) e excluiu a língua local da esfera pública. Em função de seu papel simbólico, o Barça sofreu inevitavelmente a mesma repressão. Depois que sua torcida vaiou o hino nacional antes de uma partida de apresentação em 1925, o ditador mandou fechar seu estádio por seis meses e multou seus diretores. O governo deixou claro para Gamper que ele deveria deixar a Espanha ou sua família sofreria consequências desastrosas. Gamper partiu. Alguns anos depois, numa crise de depressão, potencializada por suas perdas no crack da bolsa de 1929, ele se suicidou.


Primo de Rivera tinha a mesma agenda de Franco mas sem um aparelho de Estado totalitário para sustentá-lo. Muito previsivelmente, a repressão por ele promovida provocou reações. Ele renunciou em 1930, sendo substituído por uma república democrática imbuída do fervor utópico do entreguerras. Havia, contudo, uma importante diferença entre as atitudes de Franco e as de seu antecessor. Primo de Rivera reagira ao Barça de modo furioso porque era um caudilho clássico, o ditador medíocre que esmagava qualquer dissidente capaz de ameaçar seu frágil poder. Já para Franco a luta contra o Barça assumiu a forma de um combate pessoal de natureza épica. No nível político mais óbvio, ele tinha boas razões para punir os devotados torcedores do clube. A Catalunha havia sustentado por mais tempo a oposição ao golpe. Os habitantes de Barcelona, após anos de contenda industrial pré-guerra civil, tinham se tornado os Henry Ford das construção de barricadas. Embora partes da cidade recebessem Franco de braços abertos, muitos de seus moradores desenvolveram a guerra urbana com um apetite que nem Che Guevara conseguiria igualar. Franco cobrou um preço por essa resistência. Quando a cidade caiu, ele mandou matar um sem-número dos seus oponentes e os enterrou numa cova coletiva no morro Montjuic, onde futuramente se construiria o estádio olímpico.

Mas havia outra razão, igualmente importante, para o ódio que Franco devotava ao Barça. O Generalíssimo acompanhava obsessivamente o esporte e, de modo mais específico, o rival do Barça, o Real Madrid. Era capaz de citar de cabeça as escalações do Real de décadas anteriores e mandava anunciar que descansava em seu palácio acompanhando o jogo da semana pela televisão. (Não por coincidência, a TV estatal reservava ao Real Madrid , em suas transmissões semanais, um espaço muito maior que o de qualquer outro time). Quando assitia aos jogos, ele até arriscava um palpite sobre os resultados.

Franco levou sua vingança pessoal contra o Barça às últimas consequências. Manuel Vasquez Montalbán escreveu: "As tropas de ocupação de Franco entraram na cidade. A quarta organização a ser expurgada, depois de comunistas, anarquistas e separatistas, era o FC Barcelona." No início dos três anos de revolta de Franco, a milícia fascista prendeu e executou o presidente do Barça, Josep Sunyol, de orientação esquerdista, quando ele passava de carro pelas colinas de Guadarrama em visita aos soldados catalães que defendiam Madri, cercada por tropas de direita. Quando os soldados de Franco realizaram um ataque final para conquistar a insubordinada Catalunha, bombardearam o prédio que abrigava os trófeus do clube. Depois demoliram as instalações do Barça, os franquistas tentaram destituir o clube de sua identidade. O regime insistiu em mudar o nome de "Footbal Club Barcelona" para "Club de Football Barcelona", não apenas uma particularidade estética, mas a tradução desse nome para o castelhano. Também insistiu em excluir a bandeira catalã do escudo do time. E isso foi somente o começo. Para supervisionar a transformação ideológica do clube, o regime impôs um novo presidente. Ele devia ser bem adequado para o cargo. Durante a guerra, fora capitão da "Divisão Antimarxista" da guarda civil. No Barça, ele mantinha cuidadosamente copiosas fichas policiais de todas as pessoas envolvidas com o clube, de modo a poder importunar e solapar quaisquer diretores que demonstrassem simpatias nacionalistas latentes.

Nos primeiros anos da era Franco, um evento se destaca nos livros de história. Em 1943, o Barça enfrentou o Real Madrid pelas semifinais da Copa Generalíssimo  Franco. Momentos antes da partida, o diretor de segurança do Estado entrou no vestiário  do Barcelona, uma cena cultuada em Barça, a magistral história do clube escrita pelo jornalista Jimmy Burn. Ele lembrou aos jogadores que muitos deles tinham acabado de retornar à Espanha, de seu exílio em tempo de guerra, graças a uma anistia que perdoava sua fuga. "Não esqueçam de que alguns de vocês só estão jogando pelo genorosidade de um regime que lhes perdoou a falta de patriotismo." Naquela época de repressão, não foi difícil entender o recado. O Barça perdeu por 11 X 1, uma das maiores derrotas da história do clube.

Esse foi o primeiro de muitos favores prestados pelo regime ao Real Madrid, que pareceu retribuir a afeição construindo o seu novo estádio na Avenida Generalíssimo Franco. Segundo alguns, o governo deu ao Real uma ajuda decisiva na contratação do melhor jogador dos anos 1950, o argentino Alfredo di Stefano, embora o Barça já tivesse feito um acordo com ele.

  



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

FC BARCELONA "MÉS QUE UN CLUB"


Estamos as vésperas de mais um final de ano (não de temporada na Europa), onde no próximo domingo, poderemos assistir um jogo (que está sendo esperados por muitos amantes do futebol) que será FC Barcelona vs Santos FC. Dois clubes que a história nos mostra, terem feito 7do futebol algo além do esporte. O Santos FC que na década de 60, se tornou o primeiro clube de futebol a ser Bicampeão Mundial Interclubes, onde jogou o Rei do Futebol, Édson Arantes do Nascimento, o Pelé. O FC Barcelona na história recente de clubes de futebol, nos mostra que jogar futebol parece fácil, fazendo do simples (o passe) a sua principal arma.

Com isso, começarei uma série de postagens sobre o FC Barcelona para que possamos começar a entender o fenômeno FC Barcelona. Hoje iniciarei com um pouco da história do clube catalão que explica esse slogan "Més que un Club".

A bandeira do clube é inspirada explicitamente nas cores, vermelho e azul, do estandarte tricolor da Revolução Francesa. No auge da onda anarquista da década de 1930, o Barça tornou-se um coletivo de trabalhadores, um legado que continua. E o que é mais importante, segundo o folclore institucional: o clube foi um heróico centro de resistência à ditadura militar franquista. Somente o Camp Nou fornecia um lugar onde os catalães podiam gritar e bradar contra o regime em sua própria e banida língua. Manuel Vazques Montalbán, um dos grandes escritores espanhóis contemporâneos, publicou um romance sobre o Barça intitulado Offside. Descreveu o clube como "a arma épica de um país sem estado [...] As vitórias do Barça eram como as de Atenas sobre Esparta."

Em 1899, um empresário protestante suiço chamado Joan Gamper uniu-se a expatriados ingleses para fundar o FC Barcelona. É surpreendente que um estrangeiro tenha criado o que seria uma instituição definidora do nacionalismo catalão. Há um explicação simples para a abertura da Catalunha a influências externas: ela se situa no meio do mundo mediterrâneo. Antes do século XV, como parte do reino de Aragão, os catalães haviam aberto caminho para o Leste até Atenas, a Sicília e a Sardenha. Mesmo então, no auge de sua grandeza, os homens mais poderosos da nação eram comerciantes e capitalistas. Barcelona tornou-se uma grande cidade comercial, profundamente entranhada na economia planetária, crescendo até se transformar num gigante industrial. No final do século XIX, só os Estados Unidos da América, a Inglaterra e a França superavam a produção das fábricas de tecido catalãs.

À medida, porém, que avançava economicamente, a Catalunha era submetida à dominação política. O poder político da Espanha, concentrado em Madri, consistia em vários proprietários de terras castelhanos. Os interesses do governo central colidiam com os dos capitalistas de Barcelona. O crescente contingente de nacionalistas burgueses da cidade ressentia-se do fato de os castelhanos usarem o governo para impor a cultura e a língua "espanholas". Também não ajudava o fato de Madri direcionar a política governamental para a proteção da agricultura em detrimento da indústria. Os catalães descarregavam a raiva que sentiam desse arranjo injusto esteriotipando cruelmente os castelhanos e sua capital. Enquanto a Catalunha representava a modernidade e o progresso, Madri era habitada por roceiros sem cultura. Não era uma imagem de todo distorcida. A burguesia de Barcelona provou ao mundo a sua grandeza patrocinando obras momumentais de arte e arquitetura, Gaudí, Doménech i Muntaner, Miró. E, por causa de sua imersão no mundo comércio global, ela abriu auspiciosamente as portas a influências externas.

Joan Gamper e o futebol foram apenas outra importação a se tornar parte do tecido social catalão. A imagem de Gamper naquela terra não foi atrapalhada em nada pelo fato de ele admirar fervorosamente a causa catalã e ter traduzido seu próprio nome, Hans Kamper, para o idioma local. Segundo alguns relatos, Gamper desejava que o clube celebrasse aos catalães e seus sonhos de autonomia. Sob sua liderança, o Barça adotou um escudo contendo as cores nacionais e a cruz de São Jordi, o padroeiro da Catalunha.

(continua)