Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

ENTREVISTA PREPARADOR FÍSICO MARCELO LINS MARTINS



Fala galera, tudo bem com vocês?

Hoje trazemos mais um entrevistado de renome internacional com atuação no futebol para tratar do tema: “Importância da Técnica da Corrida para o Jogador de Futebol”.

Espero que gostem!

Vou deixar que o nosso entrevistado dessa semana se apresente:

MM: Sou formado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília e tenho mestrado em Fisiologia do Exercício pelo Ithaca College, Nova York. Trabalho hoje como instrutor das licenças A e B da CBF Academy e como consultor de performance. Trabalhei na EXOS, no Pittsburgh Pirates (baseball) com as categorias de base, no Chivas USA, na seleção de futebol do Catar, nas seleções Olímpica e principal dos USA, no Bayern de Munique, no Athletico Paranaense e no Western Sydney Wanderers (A-League, Austrália).

EF: O jogador de futebol está constantemente em transição da corrida para a marcha (caminhada), e desta para a corrida. Muitos jogadores realizam tudo isso intuitivamente. Quais as vantagens que o jogador pode obter melhorando a sua técnica de corrida?

MM: O jogador de futebol não é conhecido por ter uma técnica de corrida refinada. E muitos ao longo de suas carreiras nunca trabalharam a mecânica da corrida. Todos entendem que pra treinar habilidades motoras como chutar uma bola ou realizar o saque no tênis requer muito tempo de prática pra atingir um alto nível. E achamos que aceleração e velocidade máxima são atividades naturais pra todo ser humano. Qualquer um pode correr rápido de acordo com suas habilidades individuais, mas ninguém pode ser um velocista sem um treino adequado. Não quero dizer que temos que treinar os jogadores como velocistas, mas otimizando a mecânica do jogador não só melhora a aceleração e velocidade como ajuda a reduzir a incidência de lesões sem contato.

EF: O movimento do jogador de futebol pode ser dividido e categorizado de acordo com a direção do deslocamento. Ao abordarmos essa questão em alto nível, nos movemos linearmente, lateralmente, rotacionalmente, para cima (salto) ou para baixo (carrinho). Como treinar isso nos jogadores que não apresentam as unidades fundamentais de movimento?

MM: Existem algumas teorias quando nos referimos ao aprendizado motor. Uma delas tem a raiz na teoria do controle motor onde seus proponentes acreditam que os movimentos devem ser aprendidos primeiro com exercícios pré-programados e depois progredir para ambientes abertos e mais caóticos. Essa linha acredita que nenhum movimento deve ser realizado de forma incorreta ou com uma técnica inadequada pois o movimento fica arraigado no cérebro como um programa motor eficiente que vai se tornar automático à medida que a prática continuar. Outra linha é a teoria dos sistemas dinâmicos, que acreditam que o movimento surge como resultado de uma auto-organização quando os atletas são expostos a diferentes ambientes e níveis de complexidade. Independente da linha que acreditamos, se o atleta tiver uma mecânica inadequada vai gerar uma aplicação menos eficiente da força, diminuindo a performance. Além disso, vai ter um maior desgaste, gerar uma maior sobrecarga no sistema e aumentar a probabilidade de uma lesão acontecer. A maneira como iremos trabalhar vai depender de uma análise das necessidades dos jogadores e, no final das contas, o importante vai ser quão efetivo está sendo a transferência do método adotado para a performance no campo. Muitas vezes é necessário se realizar os trabalhos em ambientes mais isolados com exercícios pré-programados para que o atleta possa realizar o movimento de forma eficiente e ter um melhor entendimento da ação para então progredir e inserir elementos perceptual-cognitivos tornando o trabalho mais específico ao jogo. 

EF: Qual é a importância da saúde dos pés para a técnica da corrida? 

MM: O pé tem uma estrutura complexa de ossos, ligamentos e articulações que trabalham em harmonia e desempenham um importante papel na locomoção. Durante a corrida o pé atua auxiliando a minimizar as forças de reação do solo, proporcionando uma base de suporte estável e um braço de alavanca pra impulsionar o corpo de maneira eficiente. Em pés saudáveis, os músculos intrínsecos tem um papel importante em manter o arco do pé. Algumas evidências mostram que quando esses músculos estão enfraquecidos ou disfuncionais podem gerar uma pronação excessiva comprometendo a performance e aumentando a chance de lesões.

EF: Não é raro observarmos jogadores de futebol correndo e cruzando os braços na linha média do corpo. Isso é correto? Qual é o papel da ação dos braços na corrida?


MM: A ação dos braços é um mecanismo que o corpo utiliza para se manter estável durante a corrida em alta velocidade, contrabalançando o movimento do membro inferior oposto e tornando o movimento mais eficiente. Durante a corrida, os braços influenciam a posição dos quadris e, segundo alguns treinadores, influenciam também a frequência das passadas. Movimentos inadequados dos braços durante a corrida geram um maior desgaste, limitam o potencial de velocidade e podem indicar restrições na pélvis. Nem sempre o jogador de futebol pode realizar uma movimentação adequada dos braços (flexão e extensão dos ombros no plano sagital com diferentes angulações na flexão do cotovelo) durante a corrida pois muitas vezes utiliza os membros superiores para tentar manter o adversário afastado durante uma disputa, um duelo. Mas durante a partida podem ocorrer situações onde o jogador vai realizar a corrida em alta velocidade sem um adversário por perto e, portanto uma mecânica adequada pode potencializar a ação da corrida. 


EF: Atualmente existe uma grande discussão quanto a forma de pisada na corrida. Na sua experiência, qual a melhor forma de pisar na corrida?


MM: Quando estamos falando de aceleração e velocidade máxima, alguns princípios biomecânicos devem ser observados (logicamente respeitando as individualidades) para que haja uma melhor eficiência e aplicação da força. Durante a fase de aceleração o jogador tem que ter o centro de massa fora da base de suporte gerando uma inclinação. Essa inclinação vai depender, dentre fatores relacionados a situações específicas do jogo, da capacidade do jogador de produzir força, quanto mais potente maior a inclinação. Então se traçarmos uma linha gravitacional do centro de massa pro solo, a pisada do atleta deve ser diretamente no ponto em que a linha toca o solo ou atrás dela, limitando as forças de frenagem (atrito) e otimizando a força horizontal. 


                                   Fig. 1 Linha gravitacional do centro de massa. 


Na fase da velocidade absoluta, o atleta corre com uma postura mais ereta e o contato com o solo também se dá o mais próximo possível da linha gravitacional do centro de massa, no esforço de minimizar as forças de frenagem (atrito) e maximizar a força vertical. O ponto de contato com o solo em relação ao centro de massa vai ser o resultado da velocidade, força, técnica e tempo certo de contato com o solo. 



                                    Fig. 2 Comprimento da passada da corrida. 


Muito obrigado Marcelo Lins Martins por aceitar o nosso convite para essa entrevista sobre o tema a importância da técnica da corrida para o jogador de futebol.


Boa sorte na sua caminhada profissional e esperamos nos falar em breve.


Forte Abraço!


sábado, 26 de dezembro de 2015

CAOS, ACASOS e CAUSALIDADES NA PREPARAÇÃO FÍSICA

Como a preparação física vem sendo encarada no futebol? Muito se tem falado sobre mudanças no futebol, baseadas na abordagem sistêmica, teoria do caos, entre outras. Entretanto, não temos visto muitos profissionais defendendo e aplicando essas ideias na área da preparação física. 

Dentro de alguns dias, teremos início no futebol brasileiro a tão "temida" pré-temporada. É correto afirmar que a pré-temporada serve para "carregar as baterias" para o  restante da temporada? Outra questão, o que é o estado de forma física? É a capacidade de correr mais e mais rápido? É a capacidade de saltar mais alto?

Me parece que, estamos muito longe de entender a verdadeira complexidade da aplicação de estímulos que melhorem as interações futebolista-contexto, e mais nos processos de interação tão complexos como os que se produzem no futebol.

Uma teoria que para mim pode ser utilizada para aproximar a preparação física dentro da abordagem sistêmica é a da Teoria das Estruturas Dissipativas, elaborada pelo físico-químico Ilya Prigogine. Estruturas Dissipativas são sistemas comumente encontrados na natureza, que se caracterizam por estarem abertos a fluxo de matéria e energia, sendo assim, apresentam uma entrada (input) e uma saída (output). Por estarem afastados do equilíbrio entende-se que são sistemas fluentes, dinâmicos.  Uma estrutura dissipativa se constitui em dois momentos:

  • O primeiro momento é linear e corresponde à segunda lei da termodinâmica, onde os escoamentos (desgaste físicos) são mínimos; 
  • O segundo é não-linear; o processo se torna irreversível e só poderá ser descrito pela termodinâmica dos sistemas irreversíveis (situações que só o  jogo produz).
O primeiro momento, podemos caracterizá-lo como as atividades tradicionais da preparação física, atividades que se preocupam apenas com as capacidades física (resistência, força, velocidade) sem levar em conta as tomadas de decisões que o jogo de futebol exige (onde pela cansaço emocional  o desgaste será sempre maior do quê, apenas o desgaste físico). 
Já o segundo  momento, seria constituído pelas situações próximas do jogo de futebol (com tomadas de decisões) e ligadas a ideia de jogo da equipe (adaptações que os jogadores necessitam realizar para desenvolver o  jogo).

Em se tratando da preparação física, ainda o problema do fornecimento de energia para a atividade física (prática do futebol) em fisiologia é tratado do ponto de vista da cibernética, com uma entrada (input) que seriam as cargas de trabalho, e na saída (output), são observados: frequência cardíaca; consumo de oxigênio; eliminação de gás carbônico; modificação da concentração de ácido lático no sangue. Ficando fora desse contexto na maioria das vezes, as propriedades morfológicas ou leis biológicas do desenvolvimento dos processos da adaptação. 
    
Destarte, voltando ao questionamento inicial sobre a capacidade da pré-temporada, ao analisar a duração das adaptações produzidas pelo treinamento observa-se que está crença não tem base fisiológica, já que as adaptações produzidas pelo treinamento não podem manter-se por um tempo tão prolongado.

A pré-temporada deviria ser tratada como um processo de readaptação do jogador há atividade competitiva e um processo de coadaptação treinador/jogadores. Este processo de coadaptação se refere a ideia de que, não só os jogadores se adaptam as pré-concepções futebolísticas de determinado treinador e as concepções de jogo que tenha previsto aplicar, mas que o treinador deveria observar e analisar os comportamentos mais ou menos instaurados nos jogadores para poder atuar conforme as necessidades específicas daquele grupo de jogadores (POL, 2013).   
   

Em suma, trabalhos de prevenção e de readaptação, pois em um plantel de jogadores de uma equipe de futebol, sempre teremos questões muito complexas como: idades diferentes, histórico de lesões, tempo de inatividade entre as temporadas, entre outras. Isto tudo tem que ser levado em conta no início da pré-temporada.

Feliz 2016 a todos!

Referência   

POL, Rafel. La Preparación Física en el fútbol: El processo de entrenamiento desde las ciencias de la complejidad. MC Sports: 2013.

terça-feira, 12 de julho de 2011

PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL BRASILEIRO


A semana começa com mais uma notícia referente a Preparação Física no Futebol Brasileiro. O fisiologista Turíbio Leite de Barros (ex-fisiologista do SPFC) em nota ao portal uol http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2011/07/12/mentor-do-reffis-detona-preparacao-fisica-do-sao-paulo-e-ouve-queixas-de-atletas.htm afirma que a metodologia empregada no clube causou diversas lesões nos jogadores do elenco tricolor.

Notícias como essa, mostram que a metodologia de treinamento do futebol influenciam no desempenho da equipe, sim! Por isso, a importância de um treinador (ou melhor, uma comissão técnica integrada) pensando o futebol de uma forma complexa, podem fazer a diferença, para o mau ou para o bem!

É por essas e por outras, que existem profissionais se destacando cada vez mais no meio do futebol mundial. Talvez por saberem que, se treinar demais a parte física o jogador pode achar que corre mais do que a bola.