Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

O JOGADOR INVENTA E O TREINADOR INOVA


Se aprendi algo é porque gosto de observar

Você já deve ter ouvido que, o jogo de futebol é o confronto de duas ideias de se praticar futebol. Também ouvimos quase que diariamente que, fulano (treinador) é retranqueiro já, sicrano (treinador) é ofensivo. Gostamos de rotular as coisas (equipes, treinadores, jogadores, etc.).

O jogo de futebol para ser didaticamente melhor compreendido é dividido (fragmentado) em quatro fases: Fase Ofensiva; Transição Defensiva; Fase Defensiva e Transição Ofensiva. Porém, já é de conhecimento de todos os leitores que acompanham os conteúdos aqui publicados, preferimos tratar o jogo de futebol como um jogo de fluxo (de forma integral e dinâmica) entre espaço, tempo e interações.

Desta forma, pergunto, o conhecimento dos treinadores em futebol é tácito ou explícito?

Sobre esse tema já havia escrito dez anos atrás, segue o link para aqueles leitores que ficarem curiosos.


Sei que, hoje essa escola de treinadores já se atualizou/aperfeiçoou, que a CBF criou um glossário do futebol, mas o futebol é diferente do basquete nesse sentido. Pois no basquete, o conhecimento se origina na NBA e todos empregam a mesma terminologia, mas no futebol isso é totalmente diferente. Por diversas formas, sejam elas culturais, sociais, ideológicas, etc.

Juanma Lillo disse certa vez, "não é verdade que existem bons e maus treinadores. O que há são treinadores valentes e outros que não o são."

No Brasil, na minha opinião isso se encaixa muito bem nas equipes treinadas por Fernando Diniz e Eduardo Barros. Ontem, tivemos mais um capítulo de semifinal da Copa Libertadores onde essa valentia aflorou novamente (não estou falando apenas pelo resultado), onde a busca pelo jogo com base nos passes (os passes conectam, o chutão afasta) e progressão em campo (que é a marca dessa dupla) se manteve durante toda a disputa da semifinal. Logicamente que, nas categorias de base também temos inúmeros exemplos de treinadores valentes (alguns irão dizer, claro na base não tem tanta pressão de jogar assim), onde o "devolver o jogo ao jogador" é melhor forma de desfrutar do caminho. 

Assim, o jogador inventa e o treinador inova (reutiliza recursos em novas situações). Com coragem e valentia é muito melhor!

O jogo imita a vida, e como disse Azkargorta joga-se como vive-se.

Boa semana!

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

SPRINT: EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


As ações de sprint são de fundamental importância para o futebol atual. Porém, como ela não é uma habilidade inata, precisamos auxiliar os nossos atletas para que a desempenhem bem.

Um bom início é observar a estabilidade dos nossos atletas. Vários exercícios nos vem à mente quando pensamos em estabilidade que tem haver com a posição do corpo. A inclinação do total do corpo é o que nos impulsiona à medida que aplicamos a força contra o chão. Se você estiver de pé e ereto e aplicar a força contra o chão, você será impulsionado para cima em um salto. Em contrapartida, se estiver em inclinação total aplicando a força diretamente para trás, você será impulsionado para frente. Mas, a inclinação corporal só pode se estender até antes do centro de gravidade, e o alinhamento das articulações não se tornarem prejudiciais ao equilíbrio (FALSONE, 2019). Vejam alguns exemplos:

Vídeo 1: Prone Valslide Hip Flexion Hold

Vídeo 2: Prone Valslide Hip Flexion

Vídeo 3: Wall Acc Pos Hold

Vídeo 4: Wall Acc Pos

Esses são apenas alguns exemplos sobre estabilidade para auxiliar na mecânica do sprint. Se o atleta não possuir um bom nível de estabilidade tanto estática como dinâmica a sua aceleração também não será a ideal, pois irá acontecer o vazamento de energia, o que irá prejudicar a sua performance e também exaurir as suas fontes de energia cedo demais. 

O próximo exercício complementar que podemos elaborar é para a ação dos braços.

Vídeo 5: Arm Work

A ação dos braços é o terceiro fator chave para alcançar o potencial de aceleração total. Como não realizamos qualquer movimento isoladamente, a ação dos braços determinará em grande parte a ação das pernas. Assumindo que temos a mobilidade e o controle motor necessários nos quadris e pernas, produzir atividade potente nos braços estimulará as pernas a acompanharem o processo (FALSONE, 2019).

No treinamento de força, a intenção do movimento geralmente pode ser traduzida na posição final do exercício. Se isso corresponder a posturas corporais importantes da corrida, haverá maior transferência (BOSCH apud JOYCE & LEWINDON, 2014). 

Seguem mais alguns exemplos:

Vídeo 6: Single Leg Bridge

Vídeo 7: Single Leg Bridge Dynamic

Vídeo 8: Single Leg Triple Extension

No vídeo 8 temos um exercício de força com duas intenções relevantes: a posição final completa do reflexo de extensão e a ausência de rotação na ponta dos pés. 

Isto posto, tal como acontece com muitos movimentos esportivos, a forma como o movimento é iniciado geralmente determina o sucesso dos estágios sucessivos desse movimento. No sprint não é diferente. 

Vídeo 9: Sled March

O vídeo acima é um exemplo de como desenvolver força inicial e aplicação de força na direção específica do sprint.

Exercícios e habilidades que aumentam a rigidez dentro do sistema, desenvolvem movimentos poderosos do quadril e minimizam os vazamentos de energia no tronco são fundamentais. O último vídeo trás um exemplo para isso.

Vídeo 10: Overhead ViPR March

A principal intenção deste exercício é enraizar o conceito de altura máxima do quadril ao longo de todo o ciclo da passada. A má postura normalmente resultará em uma posição vertical mais baixa do quadril que não permite uma extensão poderosa do quadril. 

Espero que tenha conseguido contribuir mesmo que minimamente sobre um assunto tão atual e desafiador como é a questão do sprint no futebol.

Boa semana!

Referências

BOSCH, F. Fine-tuning Motor Control in JOYCE, D.; LEWINDON, D. (ed.) High-Performance Training for Sports: the authoritative guide for ultimate athletic conditioning. Champaign: IL, Human Kinetics, 2014. p. 113-126.

FALSONE, S. Reduzindo o tempo da reabilitação ao desempenho. Rio de Janeiro: FitnessPro Education, 2019. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

RECUPERAR TREINANDO E TREINAR RECUPERANDO

 

Fig. 1 Morfociclo Padrão com jogos aos domingos
Adaptado de TAMARIT, 2013.

Em se tratando de futebol um dos assuntos mais comentados é sobre essa operacionalização dos dias entre treinos e jogos nas competições. Pois, no nosso país temos um calendário congestionado e por sua extensão territorial (um país continental) dificulta ainda mais essa questão.

Como a figura 1 nos mostra, temos os dias de uma semana civil para operacionalizar os treinos e tentar garantir aquisição e evolução a equipe quando os jogos são aos domingos. Neste caso específico vamos tratar da seguinte forma, o jogo aconteceu no domingo, então no dia +1 (segunda-feira no caso), a recuperação será passiva, pois, um fator muito importante é a fadiga mental. Destarte, tanto técnico como jogadores normalmente no dia após o jogo ainda estão fadigados mentalmente (principalmente após um resultado adverso) e o trabalho não será no mais alto nível.

Vamos nos debruçar nessa publicação sobre o dia +2 (terça-feira). A unidade de treino conta ainda com um regime de recuperação. Desta forma, os jogadores ainda se encontram em um processo de recuperação em relação ao jogo passado, o objetivo desse dia é que se recuperem em especificidade. 

Um exemplo prático será mostrado na sequência:

Campograma 1

Um jogo 10 VS 6 (nos 10 estarão os jogadores que mais atuaram durante a partida de domingo), nos 6 estarão jogadores que atuarão menos durante a partida e/ou não atuarão. A equipe em superioridade numérica tem o objetivo de circular a bola e realizar movimentações para que a bola chegue até um companheiro que está mais à frente e a conduza após a linha demarcatória sofrendo oposição dos jogadores em inferioridade numérica (azuis) que realizarão marcação da saída de bola. O objetivo do trabalho está diretamente ligado a Subprincípios que a equipe deve melhorar devido à partida anterior (bem ou mal) e o que prevemos que acontecerá na próxima partida. 

Quanto ao tempo de estímulo deve ser curto, justamente para mobilizar os aspectos bioenergéticos necessários por meio da síntese do ATP-PCr e os intervalos de recuperação são primordiais para garantir a adequada ressíntese do ATP-PCr oriunda do metabolismo aeróbio, de modo que os jogadores estejam em estados ótimos para desempenhar as repetições subsequentes dos trabalhos. Para que os jogadores se recuperem em especificidade, o padrão dos tipos de contrações musculares não deve representar um elevado nível de tensão, duração e velocidade (já para à equipe em inferioridade numérica isso será no caminho inverso). Nessa sessão de trabalho, ela deve assumir uma característica mais descontínua, com tempos menores de exercitação e intervalos de recuperação maiores. Pois, se esse perfil não for respeitado, não haverá garantia de que o metabolismo dominante seja, de fato, o anaeróbio aláctico. O objetivo é otimizar a relação entre exercitação/recuperação, de maneira a maximizar a coordenação metabólica entre a síntese e a ressíntese do ATP, de modo que os jogadores tenham a matriz de jogo incorporada em especificidade com os conjuntos de tomadas de decisão eficazes em relação aos princípios e aos subprincípios de jogo (mas nesse dia de forma menos complexa) (PIVETTI, 2012).

Nessa sessão de trabalho utilizaremos de 3 a 5 exercícios com duração de 10 a 15 minutos cada. 

Sempre buscando a harmonia entre recuperar treinando e treinar recuperando.

Boa semana!

TAMARIT, Xavier. Periodización Táctica VS Periodización Táctica: Vítor Frade aclara, MBF, 2013

PIVETTI, Bruno. Periodização tática: o futebol arte alicerçado por critérios. São Paulo: Porte, 2012.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

1º CEFA SOCCER CAMP


Neste final de semana ocorreu o 1º CEFA Soccer Camp nas dependências do Centro Esportivo de Futebol Alternativo (CEFA) na cidade de Cascavel|Paraná|Brasil. Evento que oportunizou uma forma de ver, pensar e executar o treinamento de futebol um pouco diferente do usual em nosso país para crianças e adolescentes e treinadores.

Há convite do Professor/Treinador Claudio Roberto da Silveira, fui à Cascavel não com o intuito de ensinar futebol, mas, oportunizar uma nova situação para algumas pessoas de repensar a maneira como vem tratando o treinamento de futebol em razão dos comportamentos que os jogadores devem assumir no treino, para posteriormente torná-los hábitos durante as partidas.




Foram dois dias de trabalho única e exclusivamente com bola, em forma de jogos fractais para mudanças de comportamentos táticos ofensivos e defensivos bem como nas suas transições. Além da parte prática, tive dois momentos para explicar a prática com teoria, para embasar e justificar o por que de se treinar desta forma e não de uma outra forma.

O que fica após esse evento? Fica uma sensação e satisfação de estar no caminho certo, pois em conversas durante o evento, percebi o interesse dos treinadores e principalmente pelas crianças e adolescentes em fazer todos os jogos fractais. Treinadores que participaram do evento tivemos, além do estado  do Paraná, treinadores dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

 

  

Em suma: "O defender bem não  pode estar separado do fazer bem a transição ataque-defesa, o qual, por sua vez, tem muito haver com o atacar bem." 
                                                                                          José Mourinho.

No futebol pode-se até dizer que não se pode inventar mais nada, mas que, temos continuar nos aperfeiçoando, isso é fato!


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Iº CEFA SOCCER CAMP


No próximo mês estarei em Cascavel realizando o Iº CEFA Soccer Camp. Nesta oportunidade estarei oportunizando aos participantes um pouco do que aprendi participando do FCB Escola Camp em 2012.


domingo, 12 de julho de 2015

CRISE NO FUTEBOL NACIONAL E A FORMAÇÃO - PARTE I


O futebol nacional está em crise? Existe relação desta crise com as categorias de formação? Estes serão temas abordados nesta série de posts que irei começar neste humilde espaço de discussão sobre futebol.

O Brasil se autodenomina o "País do Futebol" e os números podem dar indícios disso, pois, segundo o Portal 2014 o Brasil possui 29.208 clubes, 783 clubes profissionais com 2,1 milhões de jogadores registrados e 11,2 milhões não registrados. Campeonatos estaduais 27; divisões A, B, C e D; jogos profissionais 5 mil ao ano; Dos clubes profissionais, a situação é a seguinte por Regiões:

  • Região Sudeste com 235 clubes, equivalente a 30%
  • Região Nordeste com 227 clubes, equivalente a 29%
  • Região Centro-Oeste com 143 clubes, equivalente a 18,3%
  • Região Sul com 98 clubes, equivalente a 12,5%
  • Região Norte com 80 clubes, equivalente a 10,2%
Mas, a pergunta que deve ser feita é, essa quantidade reflete qualidade? Esses 29.208 clubes, qual são as suas preocupações atuais na implementação de um modelo de formação e iniciação, com programas, meios e métodos de treinamentos adequados?

No livro "Herr Pep" de Marti Perarnau, há no Momento 9, um relato de como Pep Guardiola pretende incorporar os seus trabalhos em clube que ganhou tudo na temporada anterior. Ele se refere ao "Idioma" diferente, e este, não é o falado alemão, mas sim, o de comportamento de jogo: pressão ao portador da bola; o homem livre; o terceiro homem e a profundidade; mover o rival para encontrar espaço; defesa, não marcar o homem, mas o espaço. Após, isso surge uma comparação com o FC Barcelona, onde há relatos de que, falar isso para, Xavi, Iniesta, Pedro, Busquets, Messi, que vem falando esse "Idioma" de futebol há vinte anos é uma situação. E quando chegam a equipe principal se joga da mesma forma que na base. Agora, tentar trocar esse "Idioma" de futebol na Alemanha, no seu maior clube, é outra história.

O que quero dizer com isto, que existe clubes, treinadores, dirigentes mundo a fora que pensam o futebol de uma forma diferente, mas, bem diferente do aqui em terras tupiniquins. 

Qual clube nacional tem uma convicção tática (comportamentos de jogo) desde as categorias de formação? Qual clube nacional deixa o seu treinador trabalhar e desenvolver o seu padrão de jogo (e/ou Modelo de Jogo) ou contrata um treinador que esteja alinhavado com a convicção tática do clube? Qual clube nacional está aberto à novas ideias? Essas e muitas outras questões precisamos responder para poder entender e começar a modificar o nosso futebol.

domingo, 28 de junho de 2015

MUSCULAÇÃO, AMBIENTES DE APRENDIZAGEM E O FUTURO DO FUTEBOL


Muitas pessoas estão preocupadas com o futuro e o desenvolvimento do nosso futebol. Existem muitas pessoas engajadas nessa divulgação. Mas, ainda continuamos muito focados nas partes, para mim, a musculação é um treinamento acessório, ele é muito importante, entretanto, na mais tenra idade existem outras questões mais primordiais. 

Já foi tema nesse mesmo espaço de discussão que, o Brasil passou por um processo de urbanização na década de 1970. Esse processo ocasionou uma diminuição das atividades físicas por parte das crianças. Esse processo, ganhou força e com o advento das tecnologias, as crianças, principalmente as de classe média/alta vem fazendo um grande uso das tecnologias e deixando o movimento de lado.


Esse fenômeno vem sendo denominado de "Analfabetismo Motor". Termo esse cunhado pelo Professor Dr. Luiz Roberto Rigolin da Silva. O analfabetismo motor, quer dizer que as crianças estão cada vez mais parecidas com a maioria dos adultos em seu estilo de vida, sedentário. Se as nossas crianças estão cada vez mais paradas. como elas aprendem os seus movimentos? Como será a próxima geração de jogadores de futebol? 

Essas perguntas devem ser feitas, principalmente pelo ambiente acadêmico, pois as vezes, parece que o ambiente acadêmico está preocupado apenas com a "biologização do esporte", desta forma,  alguns parecem estar tão preocupados com os aspectos referentes a força muscular. E quanto ao ambiente de aprendizagem, o vocabulário motor dessa futura geração?


Os clubes deveriam se preocupar como será a vivência motoras das crianças, para terem jogadores mais habilidosos nas categorias de base e não jogadores mais aptos fisicamente (treinamento de atletismo). Pois, a plasticidade motora ou aprendizagem motora, possibilita a toda pessoa que tenha aprendido um determinado movimento, executá-lo sem nenhum esforço. Pois, a transferência das táticas motoras do consciente para o inconsciente são absolutamente necessárias para que haja proficiência motora. E isso é processado no cerebelo. E a infância e a juventude são as melhores épocas para oportunizar essa aprendizagem.

Os ambientes de aprendizagem deveriam ganhar mais tempo nas discussões, tanto acadêmicas como, nos clubes. Pois, não é novidade alguma que a melhor Escola de Futebol do Mundo foi o Futebol de Rua. Mas, não estamos conseguindo recriar esse ambiente de aprendizagem como tínhamos antigamente. Os úteros artificiais precisam ganhar espaço de discussão e mais ações práticas para que o futuro do futebol possa ter esperança. 

domingo, 8 de março de 2015

VIVÊNCIAS DE FUTEBOL


"Quem só teoriza não sabe, quem só pratica repete, o saber acontece
da união entre teoria e  prática."
Manoel Sérgio

Na busca por mais entendimento sobre futebol, fui honrado com uma oportunidade de estágio na categoria Sub 23 do Coritiba Foot Ball Club, comandada pelo Tcheco e na oportunidade, auxiliado por Eduardo Barros. Foram dez dias de muito aprendizado, podendo acompanhar, desde a introdução dos trabalhos de campo, conversas sobre assuntos relacionados à melhoria dos processos de treinamento na categoria, referente aos trabalhos executados e a sua influência no sistema energético dos jogadores e a sua utilização dentro do desenrolar do microciclo para um melhor aproveitamento da forma de jogar. Além, de observar o comportamento dentro do vestiário de um clube grande. 

  
Experiências essas, que eu vou levar para toda a minha vida, seja profissional na atuação no futebol, como na minha vida acadêmica. Quero agradecer publicamente ao Tcheco, por ter oportunizado esse grande momento. Ao Eduardo Barros, por tê-lo conhecido pessoalmente (antes nos conhecíamos  por trocas de e-mail) e ter a oportunidade de observar os seus trabalhos práticos com muita propriedade de conceitos. 


Nesta última semana que passou, participei de mais uma Clínica para professores da Escola Furacão do CA Paranaense, onde tive a oportunidade de conhecer e conversar um pouco com Marcelo Lins, ex-preparador físico do Bayern de Munique. Conversamos sobre o Functional Movement Systems (FMS), dá importância da sua aplicabilidade nas categorias iniciantes para a correção de possíveis movimentos praticados errados e a prevenção de possíveis lesões futuras. 

Por essas pequenas vivências de futebol que tive, posso concluir que, o futebol brasileiro possui profissionais que pensam um futuro melhor para o nosso futebol. Em todas as conversas que tive, pude observar que o discurso está voltado para os conceitos de futebol para as equipes e que o futebol europeu está na nossa frente por causa da falta de conhecimento desses conceitos por treinadores e jogadores. 

Por isso, temos que teorizar e praticar, para podermos evoluirmos o nosso futebol e competir de igual com os europeus. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

MUDANÇAS



"O conhecimento é, portanto, um fenômeno multidimensional, de maneira inseparável, simultaneamente físico, biológico, cerebral, mental, psicológico, cultural e social." 
                                                                                             Morin, 2012.


Me chama atenção um processo de mudança que vem acontecendo no futebol do Estado do Paraná. Onde, o Clube Atlético Paranaense disputa pelo terceiro ano consecutivo o campeonato estadual com a sua equipe Sub 23. Hoje, o Coritiba Foot Ball Club também insere essa categoria no departamento de futebol do clube. E mais, o Coritiba Foot Ball Club, contrata João Paulo Subirá Medina para ser o CEO do futebol do clube. Medina diz que a primeira medida será dissecar o departamento de futebol. “Sem o diagnóstico correto, a chance de dar o remédio errado é muito grande.” 

O Clube Atlético Parananense, cria o Departamento de Inteligência do Futebol (DIF) cuja missão é, identificar a forma como o clube jogava durante as suas maiores vitórias e após isso criar o Modelo de Jogo (MJ) mais apropriado para o clube. O departamento de captação do clube, busca os jogadores para se integrarem na sua categoria de base com alguma identificação com os conceitos que fazem parte do MJ adotado pelo clube. E segundo o professor Marcelo Vilhena (coordenador das categorias de base, auxiliar técnico do grupo principal e técnico da categoria Sub 23 que disputa o estadual), o clube está vivendo um processo de integração com todas as comissões técnicas para um bem maior que é, o MJ adotado pelo clube. 

Com esses dois exemplos da dupla ATLETIBA da capital paranaense, podemos afirmar que, existe um processo de mudança em alguns clubes de futebol do país. Esse processo pode demorar um pouco para trazer resultados (como os torcedores frisam, que são títulos), o importante é que, parecem estar surgindo novas diretorias nos clubes de futebol que estão mais preocupadas com o processo de formação e utilização desses jogadores que ultrapassam a casa dos vinte anos (Sub 20) que é conhecido por alguns como o "cemitério da base". 

Destarte, esperamos que esses dois processos que estão em curso (um, pouco mais adiantado e outro que se inicia) tenham grandes frutos, com excelência na formação e utilização de alguns jogadores nos seus grupos principais e por que não, conquistas de títulos estaduais. 

Referências

http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/conteudo.phtml?id=1521845&tit=CEO-quer-achar-o-remedio-certo-para-curar-o-Coritiba-

http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1529874&tit=Vilhena-leva-experiencia-de-professor-ao-comando-do-Atletico

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

FORMAÇÃO: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA FORMAL NA LÓGICA INTERNA DO JOGO


Mais um ano se inicia e a discussão sobre a forma como acontece a Formação no futebol nacional continua. Vejo algumas ações esparsas de discussões mais relevantes sobre o tema, alguns poucos grupos de estudos, poucos clubes começando a entender que existem novas metodologias de trabalho referente ao futebol. Mas, o formato das competições e formas de treinamento ainda utilizam apenas a estrutura formal do futebol de 11.

O que quero dizer com isso, a estrutura formal ou lógica externa, definida por características externas comuns a todos os esportes coletivos: como bola; espaço; tempo; adversários; companheiros; objetivos e regulamento.

Com idade cada vez mais precoce, observamos a introdução das crianças e adolescentes no jogo de futebol sempre respeitando a estrutura formal do jogo de futebol, principalmente nas competições. A bola de tamanho adulto, espaço de jogo igual ao dos profissionais e o regulamento segue os mesmos critérios (inclusive a regra 11). 

Destarte, se apenas observamos a influência da estrutura formal na lógica interna do jogo, por exemplo, o centro do jogo, isso fica mais claro. Podemos definir como centro do jogo aquela situação em que se encontram jogadores que estão em disposição de intervir de maneira iminente sobre a bola, e o fora do centro de jogo seriam todos aqueles jogadores que não tem uma possibilidade de intervenção imediata sobre a bola. 

 Legenda: ACB= Atacante com Bola; DACB= Defensor do Atacante com Bola; ASB= Atacante sem Bola; DASB= Defensor do Atacante sem Bola; DSB= Defensor sem Bola. 

Com base no centro do jogo, podemos inferir sobre as possíveis modificações das competições e/ou no formato de treinamento. Levando em consideração as mudanças nas diferentes modalidades de futebol, futebol de 5, futebol de 7 e futebol de 11, implicarão mudanças na estrutura funcional, e como tal, podem e devem adaptar as características evolutivas sobre as idades determinadas.

Quanto à questão de funções em uma equipe, partindo da questão do centro do jogo:
  •  Futebol de 5: Atacante com Bola no centro do jogo; Atacante sem Bola no centro do jogo; Defensor sem Bola no centro do jogo. 
  • Futebol de 7: Atacante com Bola no centro do jogo; Atacante sem Bola no centro do jogo; Atacante com Bola do centro do jogo equilíbrio; Defensor no centro do jogo; Defensor sem Bola no centro do jogo equilíbrio.
  • Futebol de 11: Atacante com Bola no centro do jogo; Atacante sem Bola no centro do jogo; Atacante sem bola fora do centro do jogo; Defensor no centro do jogo; Defensor sem Bola no centro do jogo; Defensor fora do centro do jogo. 

O grande número de jogadores que apresenta a modalidade de futebol de 11 dificulta a comunicação motriz entre os distintos jogadores, entretanto, a redução sem empobrecimento do número de jogadores facilita que todos os jogadores possam estabelecer essa comunicação motriz e também motivar a prática de treinamentos e competições em idades precoces. Mas, isso é apenas uma pequena amostra da complexidade dessa modalidade. 




 

sábado, 12 de julho de 2014

O QUE OS 7 X 1 NOS MOSTRAM



Agora fica fácil dizer que o futebol brasileiro está ultrapassado. Que a culpa é das categorias de formação que estão sendo dirigidas por "treinadores da faculdade" que não sabem dominar uma bola. Mas, o que me deixa intrigado é a gestão do nosso futebol. Qual é a função da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e suas afiliadas?

A entidade máxima do nosso futebol não tem um calendário apropriado para as categorias de formação do nosso país; lembrando que o nosso país tem dimensões continentais, com vinte e sete federações estaduais de futebol e essas afiliadas a CBF, não se preocupam em oportunizar um curso de formação para treinadores (já que a faculdade não pode fazer isso). Sei que existe um curso de formação na Granja Comary promovido pela CBF (mas, para mim é muito pouco) para um país como já relatado, com dimensões continentais. Desta forma, a CBF em parceria com as federações estaduais poderia oportunizar um curso dentro de cada Estado da Federação para poder disseminar esse conhecimento sobre futebol para todos que não tem condições de frequentar esse curso da Granja Comary. Campeonatos abaixo do SUB 15 também inexistem com a chancela da CBF. Poderiam criar campeonatos por todo o país do SUB 14 para baixo adaptado como acontece na Europa (em formato de 7 vs 7; 5 vs 5).

Outra questão pertinente seria, cuidar melhor dos jovens jogadores que vão muito cedo para outros países jogarem futebol. Só nesta seleção temos dois exemplos disso: David Luiz e Hulk, que foram muito novos para a Europa e lá se tornaram jogadores profissionais (sendo assim, o mérito de formação é dos europeus e não dos clubes brasileiros). A CBF (no meu entendimento não tem controle de quantos jogadores em fase de formação deixam o país para ir a Europa em busca do sonho de ser jogador). 

Isto posto, temos que lembrar a revolução que ocorreu no futebol alemão foi atrelada à escola. Não existe formação de atleta (jogador de futebol) sem o auxílio da escola (ciência). Estive recentemente na Costa Rica e esse processo começa a ser adotado também neste país caribenho. Essa questão de ter sido jogador e ser estudioso sobre o futebol no Brasil deveria ser melhor aproveitada com uma junção de saberes. Sendo que, os dois lados tem muito a contribuir para o crescimento do futebol nacional.  

Quem sabe, esse processo um dia segue por essas terras de coronéis que continuam no poder e fazendo mal a muita gente, principalmente ao nosso futebol.  

domingo, 1 de junho de 2014

ESTÉTICA DE JOGO E A MIOPIA SOBRE SEUS MOMENTOS


Todos vamos concordar que a estética do jogo de futebol sempre é observada e enaltecida no momento ofensivo (ataque). Mas, será que os outros momentos do jogo não possuem estética? Muitas discussões acaloradas acontecem sobre a forma de se jogar no futebol. Lembrando que não existe apenas uma, mas, muitas formas de se jogar futebol ou vários "futebois". 

Estamos a onze dias do início da Copa do Mundo de Futebol e não podemos achar que todas as trinta e duas seleções participantes vão jogar em posse de bola e ataque posicional. Muitas irão jogar com bloco defensivo baixo e explorando os espaços deixados nas costas da última linha das equipes que jogarão em posse de bola (contra-ataque). Será que o jogo de futebol apresentado dessa maneira não tem estética? Somos impelidos em achar que o jogo ofensivo tem uma estética maior que se sobressai
 sobre os outros momentos do jogo. Ou melhor, temos uma miopia sobre os outros momentos do jogo (organização defensiva, transição ofensiva e transição defensiva). Não conseguimos olhar o jogo dentro da inteireza inquebrantável que ele necessita. Observamos meio jogo, ou pior, menos que isso. Por isso só achamos que o jogar no ataque é belo.

O jogo de futebol é muito mais do que só atacar (ter a bola). E muita equipes entendem a sua realidade e buscam outras formas de jogar, que para muitos não tem estética. Mas, a transição defensiva (o perder a bola voltar a defender) e a organização defensiva (defesa organizada) tem muito de estética, tanto quanto o momento ofensivo. 

Destarte, os momentos do jogo não podem ser tratados de um modo estanque, consequentemente a estética do jogo não pode ser apenas afirmada no momento ofensivo. E os óculos da complexidade nos ajudam a reduzir essa miopia.  

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

JOGO BONITO. COMO ISSO É POSSÍVEL?


Acompanhando as movimentações e notícias nesse início de ano dos clubes brasileiros, ouço alguns comentários sobre jogar bonito. Mas o que é jogar bonito? Historicamente, tivemos uma equipe brasileira que jogou bonito a Seleção de 1982 (entretanto, não ganhou o mundial). O seu comandante, o treinador Telê Santana era adapto de um jogar futebol de posse da bola, equipe buscando o ataque a todo instante. E isso, era sinônimo do futebol arte brasileiro referência no mundo todo. Mas, como no Brasil futebol é resultado, com duas participações em Copas do Mundo (1982 e 1986) e nenhum título parece que esse jogo bonito brasileiro foi substituído por um jogo mais pragmático que trouxesse títulos (exemplo a Seleção de 1994). 

Esse jogo bonito que os treinadores buscam, dependem dentre outras questões de jogadores habilidosos e de grande qualidade técnica. Além do treinador possuir alguns princípios de jogo bem definidos para todos os momentos do jogo (sem perder as suas interações com o todo). 

Hoje temos referência de jogo bonito de futebol sempre fazendo menção ao futebol europeu. FC Barcelona, FC Bayern München, Arsenal FC, entre outros. O incrível é que, não figuram equipes brasileiras neste jogo bonito de futebol. Equipes brasileiras em recentes confrontos com equipes europeias e de outros continentes (Ásia) não conseguem jogar bonito e muito menos, vencer essas equipes (exemplo o São Paulo FC na Audi Cup, o Santos FC no amistoso contra o FC Barcelona e o Clube Atlético Mineiro contra o Raja). 

Neste sentido, o que falta para os clubes brasileiros começarem a jogar bonito futebol? Ao contrário, a nossa Seleção conseguiu vencer a Copa das Confederações jogando bonito a sua final contra a Espanha (referência de jogo bonito para muitos). Ao contrário, o campeonato nacional de futebol é carente de jogos que empolguem ao ponto de ser considerado um jogo bonito. Será isso por falta de jogadores com habilidade e qualidade técnica dentro dos clubes nacionais? Falta de ideia dos treinadores (Modelo de Jogo) definida para o jogar da equipe? Ou falta de continuidade de trabalho dos treinadores nas equipes brasileiras, já que por aqui as diretorias não mantém um treinador por muito tempo no cargo?

Existe muitas maneiras de jogo bonito no futebol, cada um terá a sua. Mas, para que ela entre em campo é necessário, possuir jogadores com habilidade e qualidade técnica no elenco, ideias boas para o Modelo de Jogo da equipe e tempo para a sua implementação (no mínimo 6 meses) para que a equipe comece a assimilar as propostas requeridas pelo seu treinador nas sessões de treinamentos e coloca-las na prática durante os jogos. 

Não esquecendo que, futebol é resultado! E para muitos a curto prazo. E com isso, o jogo bonito as vezes fica para outra hora.    

domingo, 22 de dezembro de 2013

LIÇÕES DO MUNDIAL DE CLUBES DA FIFA









Chegou ao final ontem o Mundial de Clubes da FIFA 2013. E quais as lições que ficarão para o futebol dos clubes brasileiros? Pois, pela segunda vez em um período de quatro anos de disputa, um clube nacional perde para uma equipe africana de menor expressão no cenário mundial. Frustando assim, milhões de torcedores que esperavam uma disputa entre o campeão europeu e o campeão sul-americano. 

Após observar os jogos desse mundial e acompanhar alguns jogos do campeonato Brasileiro 2013, constatei que, existente uma discrepância muito grande entre o JOGAR futebol das equipes nacionais com as do resto do mundo (indiferente do seu continente). As nossas equipes esperam por lampejos individuais, por exemplo: "O Ronaldinho Gaúcho pode resolver a qualquer momento!" "A jogada de bola parada é a nossa arma!" Contextos que dependem mais do indivíduo do que da equipe (coletivo).

Enquanto isso, o resto do mundo já percebeu (e coloca em prática) o jogo como ele deve ser tratado, coletivamente. Não dissociando ataque da defesa (talvez por isso o Atlético-MG tenha dado tanto espaço para o Raja fazer a transição ofensiva da maneira como fez); não dissociando defesa do ataque. Sabendo que não tem tanta qualidade individual eles buscaram um algo mais, o coletivo. Mantendo suas linhas intersetoriais próximas (defesa próxima do meio-campo, meio-campo próximo do ataque, ataque ajudando para recuperar a posse da bola no mesmo setor da perda) formando um bloco, uma equipe compacta, que é o que o futebol dos dias de hoje no mínimo exige. E isso só pode ser observado com um certo nível de complexidade.

Talvez esse mundial de 2013 possa esclarecer algumas questões sobre o futebol que muitos profissionais no Brasil já conhecem (escrevem, disponibilizam, trocam informações) mas, alguns clubes ainda insistem em não observar. Entretanto, já começam haver algumas mudanças em clubes do primeiro escalão nacional, contratando treinadores que possuem esse olhar da complexidade que o JOGAR exige. Sucesso a esses profissionais! 

O futebol nacional de clubes precisa despertar, perceber que o perder e o ganhar vai muito além das orações pré jogos. Que o treinar durante a semana, tem que ser mais aproveitado para níveis coletivos (o que fazer em posse da bola, o que fazer sem a posse da bola, quantos atacam, quantos defendem, que os passes tem que ser realizados para superar linhas de jogadores adversários, entre outras questões). Esse mundial pode nos mostrar muitas lições, mas, apenas para aqueles que querem enxergar!

domingo, 18 de agosto de 2013

METODOLOGIAS DE TREINAMENTO EM FUTEBOL E AS DERROTAS


Existem muitas formas de se treinar a modalidade de futebol. Temos, as que são tradicionais e descontextualizadas do jogo (analítico-sintético) e as, modernas (abordagem sistêmica, Periodização Tática) que trabalham em conformidade no treino o que acontece no jogo. Eu, particularmente sou adepto das   metodologias modernas desde 2009. 

Percebo que, a certa resistência existente em adotar as formas de se treinar futebol em conformidade com que o acontece no jogo, por causa de um certo receio e desconhecimento do que acontece durante o jogo. O que quero dizer com isso. Muitos, que trabalham com o treinamento de futebol, desconhecem por exemplos os momentos do jogo: organização defensiva, transição ofensiva, organização ofensiva, transição defensiva (além das bolas paradas). E, para operacionalizar o seu treinamento de forma mais próxima do jogo esses momentos são primordiais. 

Entretanto, quando acontecessem as derrotas (muitas delas) decisivas, certos comentários surgem, querendo insinuar que certa forma de treinamento não resulta em títulos, e as formas mais tradicionais são exaltadas. 

Possuo pouca experiência ainda como treinador de futebol, mas, já tenho certeza de uma coisa, é preciso jogar para operacionalizar o seu treinamento. A partir do que acontece no jogo o treinador deve diagnosticar e trabalhar as deficiência durante a semana para o próximo confronto, e/ou oportunizar a manutenção das situações positivas na equipe.

Dessa forma, metodologia de treinamento em Futebol mistura ciência e arte. Deve-se observar e diagnosticar antes de atuar. Com um metodologia que você compreenda. 

    

domingo, 23 de junho de 2013

O JOGO PELO JOGO: SIGNIFICADO DE AUSÊNCIA DE SENSO TÁTICO

 
 
Todos nós sabemos que o futebol é um Jogo Desportivo Coletivo (JDC) eminentemente de essência tática e de posse de bola. Mas, alguns esquecem outro fator primordial, que o futebol é um jogo de controle dos espaços.
 
Hoje, está em alta o processo de ensino aprendizagem treinamento (E-A-T) em futebol em forma de jogos (inclusive a abordagem deste humilde veículo de comunicação propõem isso). Entretanto, não podemos deixar passar em despercebido que, o jogo pelo jogo significa ausência de senso tático dos jogadores. Pois, jogos onde os jogadores os realizam e não tem obrigações funcionais, prejudicam a sua aprendizagem, principalmente tática.
 
Todos os jogos devem conter objetivos táticos (individuais e coletivos), controle dos espaços setoriais e intersetoriais (lado forte, lado fraco, espaço, setor defensivo, setor de meio defensivo, setor de meio ofensivo, setor ofensivo). Pois, sem essas referências formaremos jogadores apenas centrados no móbil do jogo e com sérias dificuldades de entenderem o que fazer sem a bola (o que exige muito senso tático) tanto na organização defensiva, nas suas transições e na organizaçção ofensiva.
 
O jogo pelo jogo, pode mascarar muitas deficiências, temos que ter em mente, a objetividade desses jogos utilizados. E isso dependerá do material humano disponível (quanto mais jovem o jogador mais susceptível a mudanças, quanto mais experiente a situação se inverte).
 
E isso, dependerá da estrutura de trabalho que a Comissão Técnica escolherá (metodologia de treinamento e o seu entendimento) para proporcionar essa evolução tática nos jogadores da sua equipe. Do contrário, apenas jogar não auxila no desenvolvimento de um senso tático por parte dos jogadores. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

NEUROCIÊNCIAS E A COMPLEXIDADE CEREBRAL DO TREINO EM FUTEBOL DE JOVENS

 
 
Quando pensamos em treinamento de futebol, isso nos remete a trabalhos físicos. Que os músculos devem estar bem preparados, a capacidade cardiorrespiratória em sua plenitude, entre outros.
 
 
Mas, se analisarmos que órgão que comanda todo esse sistema complexo que é o ser humano, nos deparamos com o cérebro. Sendo assim, os grandes jogadores, na sua maioria, iniciaram os seus treinamentos antes dos 12 anos. Isso era atribuída unicamente à “plasticidade sináptica” do cérebro infantil, explicando, a uma maior facilidade para mudanças sinápticas de acordo com a experiência de fato observada em animais jovens. Após a infância, essa plasticidade diminuiria, à medida que a maquinaria molecular das sinapses fosse substituída pela versão adulta, tornando o aprendizado mais difícil (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
No entanto, quem nunca ouviu sobre a “idade de ouro” da aprendizagem (6 a 11 anos). Essa fase seria exatamente o que relatei anteriormente, uma melhor época para aprender determinadas habilidades motoras. Após essa idade, há uma alteração drástica no cérebro adolescente que pode explicar o desempenho excelente adquirido até a puberdade, mas, não depois: a redução dos núcleos da base (gânglios da base) (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
Segundo Herculano-Houzel (2005), os núcleos da base são estruturas que ocupam a porção mais interna do cérebro, sob o córtex dos dois hemisférios. Embora não comandem diretamente os movimentos, eles geram e armazenam programas motores complexos como auxiliares para o córtex, e têm por isso uma função fundamental no aprendizado motor.
 
 
Segundo Kornhuber (1974); Grillner (2008) apud Silveira (2010), a execução de um movimento “encomendado” por outras regiões do sistema nervoso depende da interação entre o córtex cerebral, os núcleos da base e o cerebelo. Existem evidências que o processamento de informação em várias áreas do córtex cerebral leva à emissão de comandos motores pelas regiões motoras corticais e que então esses comandos são convertidos em programas ou padrões motores para a efetuação do movimento em coordenadas espaço-temporais. Esses programas motores são gerados por estruturas subcorticais, situadas no cerebelo e nos núcleos da base, de tal forma que os movimentos rápidos são pré-programados pelo cerebelo no que diz respeito ao momento e à duração da atividade, enquanto que os núcleos da base exercem papel semelhante nos movimentos lentos executados numa gama de movimentos (Kornhuber, 1974; Mink, 2008 apud Silveira, 2010). Finalmente, para aqueles movimentos que necessitam de análise sensorial sofisticada dos objetos, os padrões originados pelo cerebelo e núcleos da base são processados e refinados posteriormente no córtex cerebral (Mauk e Trach, 2008 apud Silveira, 2010).  
 
 
Após esses relatos, percebe-se a importância que os treinamentos de futebol na mais tenra idade têm, com o repertório motor. Pois, para o desenvolvimento, ou a qualidade das capacidades coordenativas, o repertório motor passa a ser um fator determinante, porque cada movimento, por mais novo que seja, é sempre executado com base em típicas combinações de coordenação (Harre, 1976 apud Weineck, 2005). Entretanto, o que explicaria a preocupação de algumas pessoas ligadas a treinamento em futebol de jovens que se preocupam tanto com a parte física?
 
 
Paul Thompsom e sua equipe (2003) apud Herculano-Houzel (2005) explica que, uma das estruturas que formam os núcleos da base, o caudado, perde 20% da sua substância cinzenta logo no começo da adolescência, entre 8 e 11 anos, e chega ao seu formato “maduro” mais ou menos aos 13 anos. Se o aprendizado motor envolve a ação coordenada do córtex e dos núcleos da base, a execução de sequências novas de movimentos (drible) requer o comando e a supervisão constantes do córtex motor. Mas à medida que elas são aprendidas e “cristalizadas”, essas sequências são transferidas para o controle dos núcleos da base. No entanto, habilidades motoras aprendidas até o início da adolescência encontrarão um caudado ainda rico em possibilidades sinápticas, o que talvez explique por que os jovens que aprenderam o futebol até os 12 anos parecem ser “talentos naturais” (Herculano-Houzel, 2005).
 
 
Então, todos os envolvidos com treinamento de futebol de jovens (até os 12 anos) encontra-se em uma ótima situação para desenvolver sequências motoras novas, o que, futuramente oportunizará jogadores mais criativos motoramente para uma equipe implantar o seu Modelo de Jogo.
 
 
Referências
 
 
HERCULANO-HOUZEL, S. O Cérebro em Transformação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
 
 
SILVEIRA, L.C.de L. Neurociência e Futebol: fatos e mitos. Neurociências, vol. 6 nº 1 jan/mar de 2010.

WEINECK, J. Biologia do Esporte. Barueri, SP: Manole, 2005