Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

TREINAMENTO ESTRUTURADO O TREINAMENTO PARA O SÉCULO XXI


Estamos chegando ao final de mais um ano de estudos e situações práticas no futebol. Não é novidade que, os esportes coletivos em muitos casos, se apoiam e utilizam metodologias de trabalho oriundas dos esportes individuais, atletismo por exemplo. Apesar de ser muito apregoado por inúmeros profissionais do futebol que isso é um equivoco. Mas, quando observamos trabalhos de aquecimentos antes das partidas e treinamentos de muitas equipes pelo país a fora não consigo dissociar este método do individual para o coletivo.

Segundo Maturana e Varela (1995), quando nos referimos a aprendizagem "não nascemos nem amando e nem odiando ninguém em particular." E isso, pode ser transferido para as metodologias de treinamento em futebol.

Hipoteticamente vamos nos ater aos trabalhos destinados para desenvolver velocidade. Como se treina a velocidade no atletismo? Saída baixa, alta, de costas, etc; sempre com um estímulo sonoro (palma, silvo) percorrendo determinada distância; logo realizando a técnica específica da prova de 100 metros livre.  E como se treina velocidade no futebol? Realmente o  que estamos treinando são elementos coordenativos específicos do atletismo. Destarte, saída parado após um estímulo sonoro (palma e/ou silvo), para percorrer determinada distância em linha reta ou com mudanças de direção. Mas, quando transferimos essa situação para a realidade do jogo, em nenhum momento um jogador que sai em contra-ataque no futebol espera que seu treinador dê uma palma ou lhe diga "aos seus lugares, pronto ... já" para iniciar o contra-ataque. Ao contrário, o jogador deve, analisar a situação, perceber o que acontece, onde está bola, os adversários, relacionar com o que o treinador propôs para aquela situação nos treinamento, quer dizer, levar em conta um grande número de variáveis.

Por pensar dessa forma, o treinador Francisco Seirul-lo Vargas (preparador físico do FC Barcelona) juntamente com um grupo de professores do INEF de Barcelona, desenvolveu e aplicou na prática o Treinamento Estruturado. O início ocorreu no Handebol do clube catalão, posteriormente foi implantado nas canteras do FC Barcelona para posteriormente chegar a equipe principal. O método consiste em pequenos ciclos de treinamento, de três a cinco dias, dedicados ao trabalho de alguma capacidade física: força de resistência, força elástica, força explosiva, dependendo da necessidade do jogador e do momento da temporada. Sempre utilizando a bola, o treinamento simula as condições técnico-táticas da próxima partida. Sempre em consonância com os princípios de jogo do treinador.

Temos que lembrar o seguinte, a aprendizagem não acontece pela repetição das mesmas situações mas por sequências de situações que provoquem o desenvolvimento dos processos de interação entre os sistemas. E se,  o jogo é tratado como um sistema dinâmico aberto, precisamos trata-lo como tal.

 
Figura 1. Representação esquemática das condicionantes do processo de tomada de decisão do esportista devido a sua interação com o entorno.
                                        
                                                            Fonte: Adaptado de Araújo, 2005. 

Destarte, o Treinamento Estruturado nos mostra que, ao contrário do que muitos pensam, o treinamento não pode ser controlado, ele não evolui desde uma comparação com modelos externos ao sujeito (jogador), mas que temos que evoluir no próprio nível de uma auto-organização (autopoiese), temos que ver como cada um vai se construindo, através de como o jogador é  capaz de interpretar suas atuações em qualquer episódio da prática desportiva do futebol e desde qualquer perspectiva do esporte que pratica (SEIRUL-LO, 2002). 

Se isto for compreendido, o problema do desnível maturacional nas categorias de base pode ser melhor equacionado.

Referências

ARAÚJO, D. O Contexto da decisão, a acção táctica no desporto. Editorial visão e contextos, 2005.

MATURANA, H. e VARELA, F. G. A árvore do conhecimento. As bases biológicas do conhecimento humano. Editorial Psy II: Campinas,  SP, 1995. 

SEIRUL-LO, F. V. La preparación física en deportes de equipo: Entrenamiento Estructurado. Valência Junio de 2002.  Jornada sobre Rendimiento Deportivo.

 

domingo, 22 de novembro de 2015

FORMAÇÃO E O MODELO DE JOGO DO CLUBE


Hoje no cenário futebolístico nacional percebo que uma palavra está na moda, Modelo de Jogo. Mas, o que vem a ser isto?
 "O Modelo de Jogo é o que acontece como padronização durante o jogar regular de uma equipe e o identifica, sendo sempre possível uma evolução qualitativa."
                                                                                       Vítor Frade, 2013

Isto significa dizer que, dentro de um planejamento adotado os treinamentos serão montados de tal forma que todos os jogadores da equipe irão se comportar dentro de uma mesma ótica, ou seja, com o intuito de cumprir um objetivo comum nos diferentes momentos do jogo (Organização Ofensiva - Transição Defensiva - Organização Defensiva - Transição Ofensiva). Desta forma, o Modelo  de Jogo nada mais é do que a definição de quais são esses objetivos, ou melhor, qual é a conduta esperada pela equipe nos diferentes momentos de modo que, todos os treinamentos estarão voltados para o alcance desses objetivos (TAMARIT, 2007).

Fica claro que o Modelo de Jogo não é algo natural, mas, que é algo que se constrói. Por ser algo que se constrói, eu penso que cada clube deveria construir o seu Modelo de Jogo para ser colocado em prática nas suas categorias de formação e desta forma conseguir chegar até a equipe principal. Para que no  momento oportuno os jogadores oriundos das categorias de formação possam jogar na equipe principal sem precisar se acostumar com a Ideia de Jogo do Treinador. O ideal seria que, o clube conhecesse a ideia de jogo do treinador para poder contrata-lo.

Para o clube criar o seu Modelo de Jogo é preciso definir: Como Atacar? Ser dominador da bola e dominador do espaço; Como Defender? Com as linhas muito próximas; Como Transitar entre esses dois momentos? Pressão sobre o homem da bola em todas as partes do campo, domínio e passe, resistência para correr o jogo todo. Com isso, as categorias de formação já começam a ter uma identidade com o Modelo de Jogo que o clube pretende implantar e assim, facilita a promoção dos jogadores pelas categorias e também a incorporação de novos integrantes para as mesmas. E essa padronização vai acontecendo em níveis: Principiante (13 à 14 anos); Intermediário (15 à 16 anos) e Avançado (17 à 20 anos).

Destarte, para que isso seja concretizado o clube deve ter uma metodologia de trabalho unificada e baseada na abordagem sistêmica para que os jogadores cresçam e se desenvolvam com autonomia e liberdade, pois quem joga e exprime a Ideia de Jogo do treinador são os jogadores. Pois o Modelo de Jogo é tudo, é a Ideia de Jogo do treinador mais o contexto que o circunda.

Referência

TAMARIT, Xavier.  ¿Qué es la “Periodización Táctica"? Vivenciar el “juego” para condicionar el juego. Espanha: MCSports, 2007.


  


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

PRINCÍPIO HOLOGRAMÁTICO E O MODELO DE JOGO


"... é necessário perceber-se e saber lidar com a noção de "MicroMacro" e com o Princípio Hologramático. E isso passa por reconhecer que ao se exponenciar as partes sem perda de relação com o todo,  este último poderá aceder a níveis de complexidade continuadamente crescentes, claro  está, se a fractalidade for devidamente entendida e como  tal não nos levar à fatalidade."
                                                                                                 Jorge Maciel

Muitos têm preconizado que os clubes de futebol devem ter e/ou perspectivar um Modelo de Jogo para as suas equipes. Mas, poucos comentam sobre o princípio hologramático.

Para que possamos entender a importância do princípio hologramático para o Modelo de Jogo, precisamos definir este princípio. Diferentemente das imagens comuns fotográficas e de filmes, o holograma é projetado no  espaço e reconstitui-se, com extraordinária fidelidade. Como diz Pinson apud Morin (2012), cada ponto do objeto hologramado é memorizado pelo holograma inteiro, e cada ponto do holograma contém a presença da totalidade, ou quase, do objeto. Neste caso, o Modelo de Jogo Perspectivado. Assim, a redução dos jogos sem perda de complexidade (reduzir sem empobrecer) determina não jogos mutilados (sem objetivos e/ou jogos reduzidos), mas jogos fractais completos, com um tipo de organização em que, o todo está na parte que está no todo, e a parte poderia estar mais ou menos apta a regenerar o todo. 

A organização complexa do todo (Modelo de Jogo Perspectivado) necessita da inscrição (Jogos Fractais) que seria a forma de gravar e/ou criar hábitos nos comportamentos dos jogadores referente ao todo (Modelo de Jogo Perspectivado) em cada uma das partes (Momentos do Jogo) contudo singulares; destarte, a complexidade organizacional do todo necessita da complexidade das partes, a qual necessita retroativamente da complexidade organizacional do todo. Cada parte tem a sua singularidade, mas nem por isso representa puros elementos fragmentados do todo.

No universo vivo, o princípio hologramático é o princípio essencial das organizações policelulares, já no Modelo de Jogo Perspectivado, o princípio hologramático é o responsável pelas interações que ocorrem entre as regras - jogadores - entorno - esquemas motrizes nos jogos fractais. Todos se influenciando e interagindo no ambiente caótico de um sistema dinâmico complexo de causalidade não-linear que se joga na fronteira do caos e da ordem.  

Boa semana e bons treinos a todos!

Referência

MORIN, Edgar. O Método 3: o conhecimento do conhecimento. 4 ed. Porto Alegre: Sulina, 2012.