Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

quarta-feira, 17 de junho de 2015

PELA MUSCULAÇÃO A DENTRO. NO FUTEBOL, PERDA OU GANHO DE TEMPO?

                 Fig. 1: equipamentos de treinamento de força convencional.

Uma das primeiras publicações sobre preparação física no futebol é a obra de Carlos Alvarez Del Villar intulado "La Preparación Física del Fútbol Basada en el Atletismo" de 1985 e influenciou muitas pessoas envolvidas no processo de treinamento em futebol.

É inegável que, existe uma vasta gama de publicações cientificas sobre o tema Treinamento de Força no Futebol. Mas, a esmagadora maioria, atrelada a testes de saltos vertical e horizontal e/ou deslocamentos corporais (corridas sem a posse da bola). Para iniciarmos essa discussão, recorro a ícones da fisiologia do exercício, Kenney, Wilmore e Costill (2013) que definem a força como a MÁXIMA tensão que um músculo ou grupo muscular pode gerar. Outro importante autor sobre este tema, Weineck (2003) apregoa que, "o jogador de futebol necessita de força não há dúvida", mas como no futebol o movimento necessário para realizar uma boa ação durante uma partida muitas vezes requerem uma ação tão rápida que não permite a "máxima" geração de tensão muscular. Qual seria o procedimento quando se soluciona com êxito uma situação sem a geração da máxima tensão muscular? Será que o músculo é apenas um órgão gerador de trabalho e/ou existe outra conotação para esse órgão?

Essa capacidade de gerar movimento é diferente da capacidade de produzir tensão muscular, já que esta produção de movimento não virá determinada unicamente pela ação do músculo principal efetor do movimento. mas que dependerá de um complexo processo de interação entre os processos musculares de excitação/contração (sendo este em si mesmo um procedimento não - linear em seu processo de difusão), os processos reflexos auto-gerados a nível espinhal para aquelas determinadas
condições de trabalho e a integração destes processos através do cerebelo (IVANCEVIC et al, 2009 apud   POL, 2013, p. 65).

                  Fig. 2: equipamento para treinamento de força funcional.

Como é do conhecimento de todos, cada fibra muscular recebe uma terminação nervosa de motoneurônio, formando a estrutura chamada unidade motora. Ao se comandar uma contração muscular e ativar um neurônio, sendo o potencial excitatório adequado, todas as fibras musculares ligadas a ele se contrairão em obediência à lei do tudo ou nada. Destarte, a intensidade da contração pode ser controlada de duas maneiras: pela variação da quantidade de unidades motoras de um mesmo músculo que são recrutados para a realização do movimento e pela variação da frequência da descarga excitatória nervosa (DANTAS, 2014). 

Um estudo de Arruda e Hespanhol (2009), relata que, as forças explosiva e explosiva elástica explicam 30% e 40% das mudanças de direção, respectivamente. Logo, esses dados indicam que a força explosiva elástica reflexa é a melhor relação para as mudanças de direção nas ações sem bola do que as outras manifestações; no entanto, cabe ressaltar que, os níveis hierárquicos entre os componentes para a produção de força. Além disso, vale lembrar que houve fraca correlação entre agilidade com a bola e as manifestações da força neste estudo. Segundo os autores já referenciados, esses compostos reduzem a utilização das manifestações de força e atenuam o controle de bola, este servindo como um elemento alternativo para o sistema nervoso central (SNC) reduzir a velocidade de movimento.  Após essa explicação, seria mais útil aos jogadores de futebol realizarem exercícios de treinamento de força em cadeia cinética aberta (CCA) e/ou cadeia cinética fechada (CCF)? Sendo assim, a realização de exercícios de treinamento de força, em aparelhos que estimulam a CCA podem prejudicar a plasticidade sináptica produzida pelo processo de treinamento tático para a introdução de um Modelo de Jogo? 



Equipes europeias já vem se distanciando desse pensamento (utilizando equipamentos de caráter funcional como pode ver visto no vídeo acima) e algumas equipes brasileiras também começam a partilhar deste pensamento. Pois, de que me vale ser muito forte, em uma modalidade esportiva onde o movimento produzido deve executado com precisão em um entorno imprevisível?
            Fig. 3: Tetragrama das interações do jogo de futebol
            Adaptado de Morin, 2013. 

Como o tetragrama acima nos informa, o jogo de futebol acontece em conjuntos com outros fatores muito importantes que possuem interações, e um deles é o entorno. Ao invés de produzir uma força máxima, os jogadores de futebol deveriam produzir uma força ótima para os movimentos a serem executados em interação com o entorno da partida. Pois nem todas as contrações musculares requerem o mesmo recrutamento de fibras musculares quanto aos chutes, deslocamentos, passes, basculações, saltos, etc. 

Muitos vão indagar sobre os benefícios do treinamento de força como prevenção de lesões, equiparação de membros, lembrando que o jogo de futebol é unilateral. Jogadores que voltam de lesão são aconselhados a fazerem um treinamento de força. Muitos clubes, usam o treinamento de força como treino recuperativo. Essas situações são muito válidas. Mas, se o músculo iliopsoas for sobrecarregado, qual o custo disso?

Por fim, será que no futebol não há mais nada a ser inventado? Será que uma nova forma de se pensar a preparação de uma equipe de futebol diferente de atletas do atletismo vem ganhando mais adeptos no Brasil? 

Gostaria da participação dos leitores para que, possamos gerar um ambiente saudável de discussão sobre o futebol. 

Referências

ARRUDA, M.: HESPANHOL, J. E. Treinamento de força em futebolistas. São Paulo: Phorte, 2009. 

DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 6 ed. Vila Mariana, SP: Roca, 2014.

KENNEY, L. W.; WILMORE, J.H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 5 ed Barueri, SP: .Manole, 2013.  

MORIN, E. Ciência com consciência. 15ª ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. 

POL, R. La Preparación Física en el fútbol. el processo de entrenamiento de la complejidad. 2 ed. MC Sports, 2013.




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