Abordagem de Ensino Baseada no Jogo

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O LOCAL E O GLOBAL NO FUTEBOL: A IMPORTÂNCIA DOS ESTADUAIS



Há muito tempo ouço discussões sobre, o fim dos campeonatos estaduais de futebol. Muitas pessoas defendem essa ideia. Outros, poucos por sinal, relatam que, os estaduais devem permanecer. Enfim, os estaduais perduram. 

Para tentar explicar porque os estaduais de futebol no Brasil são importantes, peço auxílio a Latour (2013, p. 115) que pergunta, uma ferrovia é local ou global?
Nem uma coisa nem outra. É local em cada ponto, já que há sempre travessias, ferroviários, algumas vezes estações e máquinas para venda automática de bilhetes. Mas também é global, uma vez que pode transportar pessoas de Madri a Berlim ou de Brest a Vladivostok. No entanto, não é universal o suficiente para poder transportar alguém a todos os lugares (...)
Essa citação pode muito bem ser adaptada para os estaduais de futebol do Brasil. Pois, o Brasil é um país com dimensões continentais e se, só houvesse o campeonato nacional e a Copa do Brasil, muitas equipes não teriam a visibilidade que possuem hoje. Pois, são compostas de locais particulares, alinhados através de uma série de conexões que atravessam outros lugares e precisam de novas conexões para continuar se estendendo. Que podem ser entendidos como: campeonatos estaduais, campeonato brasileiro, copa libertadores, entre outros. Sendo considerados os seus circuitos, e/ou melhor dizendo, suas redes.   

Como está constituída a elite do futebol brasileiro hoje? Quais estados da federação têm mais equipes na Série A do Brasileiro?

O campeonato brasileiro da Série A de 2015 será constituído por 20 equipes. Destas, 10 equipes são oriundas da região Sudeste (50%); 8 equipes são oriundas da região Sul (40%); 1 equipe da região Centro-Oeste (5%); 1 equipe da região Nordeste (5%) e 0 equipe da região Norte (0%). Juntos, Sul e Sudeste, abocanham 18 das 20 vagas do maior campeonato nacional.

Por estados a situação é a seguinte:

  • São Paulo: Corinthians, Palmeiras, Ponte Preta, Santos e São Paulo;
  • Rio de Janeiro: Flamengo, Fluminense e Vasco;
  • Minas Gerais: Atlético-MG e Cruzeiro;
  • Rio Grande do Sul: Grêmio e Internacional;
  • Paraná: Atlético-PR e Coritiba;
  • Goiás: Goiás;
  • Pernambuco: Sport;
  • Santa Catarina: Avaí, Chapecoense, Figueirense e Joinville. 
Destarte, para esses clubes disputarem a elite do futebol nacional, tiveram que ascender primeiro dentro de seus próprios territórios (estaduais de futebol). De acordo com Damo (2014), os campeonatos, copas, torneios ou quaisquer outros nomes que se deem às disputas futebolísticas cumprem, rigorosamente, o trabalho de circunscrição prática e simbólica  dessas fronteiras. Ao fazê-lo, eles projetam a cidade e porque não, o nome do estado de origem da agremiação.

Em tempos de globalização, o que é importante notar, no caso dos campeonatos estaduais de futebol no Brasil, é que a expansão territorial das fronteiras não anulou o componente local. Isto nos serve como uma nova forma de pensar as relações entre o local e o global (DAMO, 2014). 

Então, se os estaduais de futebol deixarem de existir, é muito provável que, ao invés de termos 16 equipes oriundas de capitais estaduais (e apenas 4 equipes de cidades médias, duas de cidades médias metropolitanas, Ponte Preta [Campinas] e Santos [Santos] e 2 equipes de cidades médias não-metropolitanas, Chapecoense [Chapecó] e Joinville [Joinville]) tenhamos apenas o Santos Futebol Clube na elite do futebol brasileiro, como já aconteceu durante muitos anos. Excluindo equipes de cidades médias do país.

Estamos vivendo tempos em que, isolar e reduzir os fatos, não nos respondem as questões por completo. Trata-se de procurar sempre as relações entre cada fenômeno es eu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como um modificação local (campeonato estadual) repercute sobre o todo (campeonato nacional) e como uma modificação do todo repercute sobre as partes (MORIN, 2003). Sendo assim, podemos observar a verificação do desenvolvimento regional através do futebol.

Referências

DAMO, A. S. O Espetáculo das identidades e alteridades. In: CAMPOS, F.; ALFONSI, D. Futebol objeto das ciências humanas. São Paulo: Leya, 2014.

LATOUR, B. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 2013.

MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 


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